Pioneirismo

Amigos da Vida anuncia novos cursos de capacitação

Jáder Rezende
postado em 10/07/2022 06:00 / atualizado em 10/07/2022 06:00
Christiano Ramos, presidente da associação Amigos da Vida:
Christiano Ramos, presidente da associação Amigos da Vida: "Buscamos sempre novas alternativas de inclusão" - (crédito: Marcus Braz/Divulgação)

A organização Amigos da Vida, de Brasília, que há duas décadas atua na promoção e defesa dos Direitos Humanos de populações vulneráveis, está incrementando seu programa gratuito de capacitação de pessoas trans para o mercado de trabalho, por meio do projeto Transformadas. Somente em junho, cerca de 100 interessadas concluíram cursos de barista, bartender e designer gráfico. Outras 380 deverão receber treinamento a partir de agosto, nas áreas de hotelaria e alimentação e beleza.

De acordo com o presidente da instituição, Christiano Ramos, além do trabalho de capacitação, os interessados são beneficiados com auxílio permanência, para que tenham condições de frequentar e concluir o curso. Segundo ele, a verba custeia gastos como transporte e alimentação dos participantes. "Sabemos que, para essa população, é muito difícil obter a qualificação necessária para conseguir um emprego. Por isso, para termos maior adesão, garantimos desde a passagem de ônibus a cestas básicas", afirma.

Os novos cursos a serem oferecidos pela Amigos da Vida serão realizados em parceria com a Secretaria de Estado de Trabalho (Setrab). Segundo Ramos, a verba prevista, de R$ 350 mil, garantirá a oferta de treinamento de maquiagem, culinária, bartender, barista e hostess, com duração média de três meses.

"Como esse público está acostumado a trabalhar na noite, buscamos oferecer oficinas com o perfil adequado. Com a oferta de cursos profissionalizantes, essas pessoas passam a ter outras alternativas de sobrevivência", diz Ramos, afirmando que pessoas consideradas de meia-idade recebem atenção especial. "Trata-se de um público de alta vulnerabilidade social. Por isso, buscamos sempre novas alternativas de inclusão que venham, principalmente, romper a barreira da idade", afirma.

Empresa júnior tem primeiro presidente trans no DF

Não podemos parar, perder nossos direitos. Nossa luta não é sobre conseguir, mas sobre permanecer"
Não podemos parar, perder nossos direitos. Nossa luta não é sobre conseguir, mas sobre permanecer" (foto: Arquivo Pessoal)

Primeiro homem trans a presidir uma empresa júnior no Distrito Federal, o estudante de publicidade Henrique Cardoso, 20 anos, comanda uma equipe de 40 colaboradores na Facto Comunicação, associada à Universidade de Brasília (UnB). Cardoso, que assumiu o cargo em fevereiro deste ano, afirma que sua gestão vem sendo pautada pela horizontalidade, respeito e espírito colaborativo.

No meio empresarial, o Movimento Empresa Júnior (MEJ) é referência na participação de grupos minoritários dentro das corporações, capacitando jovens empreendedores para o mercado. Segundo Cardoso, a Facto teve um papel importante no reconhecimento legal de sua transgeneridade. O nome de Henrique representa legalmente a empresa, portanto, foi necessário vincular seus dados pessoais à Facto.

Isso o motivou a retificar toda a sua documentação — aquele que antes era seu nome social, agora tem valor em âmbito legislativo —, mas essa não foi uma missão nada fácil, afirma. Ele conta que a burocracia imposta por cartórios e órgãos públicos desencadearam muito constrangimento e gastos inesperados.

"Somente para alterar meu nome na carteira de motorista tive que desembolsar mais de R$ 300. Para a nova certidão de nascimento, foram outros R$ 250 e, pelo certificado de reservista seria mais R$ 100, mas dei sorte de estar em período de gratuidade. Isso porque desembolsei R$ 80 em um cartório para não ter que pagar por nada disso, mas de nada adiantou", conta.

Além disso, Cardoso teve dificuldade com a regularização de seu plano de saúde e na obtenção do novo título de eleitor, que ainda não foi regularizado, impossibilitando sua participação nas próximas eleições. "É uma reafirmação, uma cobrança constante, exigem muitas explicações a nível micro, mas não podemos parar, perder nossos direitos. Nossa luta não é sobre conseguir, mas sobre permanecer", afirma.

Cardoso lamenta a situações dos transsexuais menos favorecidos, que necessitam dessa documentação para se inserir no mercado de trabalho. "Se para mim, que sou superprivilegiado, branco, de classe média alta, foi difícil, imagina para os trans periféricos", conclui.

Sem fins lucrativos e composto por estudantes de graduação, o objetivo do Movimento Empresa Júnior é complementar a formação acadêmica a partir da experiência no mercado de trabalho e da vivência empresarial antes da conclusão do curso. Em resumo, empresas juniores funcionam como quaisquer outras corporações, todavia comandadas por estudantes universitários. Em outubro de 2021, a Brasil Júnior — organização coordenadora do movimento no país — divulgou o Planejamento Estratégico da Rede para o triênio de 2022 a 2024.

O documento guia os objetivos e metas para todo o MEJ nacional. Com o novo ciclo, pretende-se consolidar empresas juniores mais diversas, tolerantes às diferenças e garantidoras de oportunidades iguais. O Censo & Identidade, realizado pela Brasil Júnior, em janeiro, identificou que 24% dos empresários juniores se autodeclaram parte da comunidade LGBTQIA . Em cargos de liderança, essa porcentagem é um pouco melhor: sobe para 26%.

Para Cardoso, quando a comunidade é dividida e foca-se apenas em pessoas transgêneras, ainda há muito a expandir. "Desejo ser o primeiro de muitos. A comunidade trans é uma pequena parte da universidade, que já é um nicho isolado. Quero um futuro de oportunidades, não privilégios."

 

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