DESAFIO

Mercado de trabalho ainda discrimina pessoas trans

População LGBTQIA+ segue enfrentando barreiras na busca por emprego

Jáder Rezende
postado em 10/07/2022 06:00 / atualizado em 10/07/2022 06:00
Grande desafio para as minorias, o ingresso ou recolocação no mercado de trabalho ainda encontra no preconceito a principal barreira, com apenas 4% do público LGBTQIA+ ocupando vagas no mercado formal. Na tentativa de reverter essa tendência, empresas estão acolhendo parte dessa população marginalizada. -  (crédito: Carlos Vieira/CB/D. A Press)
Grande desafio para as minorias, o ingresso ou recolocação no mercado de trabalho ainda encontra no preconceito a principal barreira, com apenas 4% do público LGBTQIA+ ocupando vagas no mercado formal. Na tentativa de reverter essa tendência, empresas estão acolhendo parte dessa população marginalizada. - (crédito: Carlos Vieira/CB/D. A Press)

O ingresso ou recolocação no mercado de trabalho vem se tornando, cada vez mais, um grande desafio, sobretudo para minorias. O mais recente relatório da Associação Nacional de Travestis e Transsexuais (Antra) mostra que 88% das pessoas acreditam que as empresas não estão prontas para a contratação de profissionais trans. Além disso, de acordo com a mesma pesquisa, 20% da população transsexual está fora do mercado de trabalho.

Especialista em psicologia positiva, neurolinguística e neurociências, a mentora de carreira e liderança Gisele Miranda observa que na maioria das vezes esses profissionais são excluídos de processos seletivos, demitidos sem motivo claro ou "colocados de lado" dentro das companhias. Ela avalia que esse tipo de postura por parte da empresa, além de ultrapassada, é prejudicial não somente para o profissional, como também para a corporação como um todo.

E alerta que, se comprovado o preconceito devido à pessoa fazer parte do grupo LGBTQIA , configura transfobia que, assim como a homofobia, é crime no Brasil, com a aplicação da Lei do Racismo (7.716/1989), e pode resultar em pena de 1 a 3 anos de prisão, podendo chegar a 5 em casos mais graves. "O crime é inafiançável e imprescritível", alerta a especialista, que também é autora do best seller A coragem de se apaixonar por você.

Gisele enumera quatro atitudes que devem ser adotadas pelas organizações para apostar de forma efetiva na diversidade e se opor a qualquer tipo de preconceito — seja de gênero, de idade, raça ou outro tipo.

Segundo ela, uma medida que, a princípio parece simples e pouco inovadora, é a mudança de mindset da liderança da empresa. "Mudar a cultura organizacional e a filosofia da organização é o primeiro passo para abrir mais oportunidades para pessoas que têm dificuldades de entrar, se recolocar ou até mesmo se manter no mercado de trabalho por conta de sua idade, gênero ou orientação sexual, já que o exemplo tem que vir de cima", afirma.

O método de contrato inclusivo, avalia, é outra ferramenta indispensável para garantir a inclusão de grupos minoritários. De acordo com Gisele, o processo seletivo às cegas — métrica desenvolvida para que a forma de contratar seja cada vez mais justa e livre de preconceitos — é a forma ideal. "Esse tipo de recrutamento consiste, sobretudo, em não promover exclusões de forma preconceituosas. Mas é imperativo que as empresas adotem, de fato, políticas que fortaleçam essa inclusão", diz.

Nesse modelo inovador, garante a especialista, avalia-se apenas as competências dos candidatos, sem a análise de nome, idade, gênero e outras informações pessoais. "Empresas em processo de contratação de novos funcionários podem optar por esse método. Ele foi criado porque, instintivamente, os seres humanos realizam escolhas seguindo suas afinidades, que acabam sendo influenciadas por preconceitos sociais", explica.

Gisele Miranda defende a utilização de processo seletivo às cegas como forma de contratação mais justa e livre de preconceitos
Gisele Miranda defende a utilização de processo seletivo às cegas como forma de contratação mais justa e livre de preconceitos (foto: Arquivo Pessoal)

Ela aponta pesquisa recente da BBC denominada "Inside Out London: o preconceito no mercado de trabalho", concluindo que existe discriminação social por parte das empresas em processos seletivos. O estudo enviou múltiplas requisições de trabalho por pessoas hipotéticas com o mesmo currículo, mas com nomes diferentes: Mohamed e Adam.

O nome Adam, ou seja, característico britânico, foi chamado para 12 entrevistas de emprego, enquanto Mohamed, que remete a cidadãos do Oriente Médio, para apenas 4. "Nessa situação, ficou perceptível o preconceito contra muçulmanos no mercado de trabalho londrino e, sendo assim, para diminuir preconceitos desse tipo, o processo seletivo às cegas é uma ótima alternativa", diz a especialista.

Gisele frisa que a adoção de programas de capacitação para indivíduos trans são fundamentais para o acolhimento desse público. "As empresas precisam se adaptar, preparar suas equipes para receber esses profissionais que têm menos acesso", afirma, ponderando que é imprescindível, para o sucesso dessa empreitada, firmar parcerias com instituições e organizações afins, assim como é imperativo que essa política seja verdadeira, para que todos entendam e assimilem a importância do tema e, juntos, lutem pela inclusão. "Temos uma herança cultural de muito preconceito. É preciso quebrar esse paradigma", alerta.

Manifestações radicais, cada vez mais frequentes, de líderes políticos e religiosos, tentando impor o que é certo e o que é errado, são também fatores apontados por Gisele para a disseminação do preconceito. "Essas pessoas dificultam o avanço de políticas igualitárias. Vão contra as diferenças do ser humano, a graça da diversidade. Tentam segregar, criar rótulo. Políticas radicais só atrapalham, não retratam a realidade", afirma.

Na contramão dos retrógrados, há empresas conscientes sobre o preconceito e a exclusão que oferecem bolsas e cursos de capacitação para minorias em pauta. "Esses investimentos são ótimas maneiras para uma tentativa de reparação sócio-histórica. No Brasil, a expectativa de vida de uma pessoa trans é de 35 anos. Essa minoria é o grupo mais afetado em relação a violência e discriminação identitária, o que atrapalha o crescimento profissional e pessoal dessas pessoas", acrescenta a mentora.

Ela lembra que, ao oferecerem programas de capacitação para esses profissionais, as empresas colaboram no combate ao preconceito, auxiliando esses indivíduos a se inserirem no mercado e, consequentemente, na sociedade.

 

Amigos da Vida anuncia novos cursos de capacitação

Christiano Ramos, presidente da associação Amigos da Vida:
crédito: Marcus Braz/Divulgação

A organização Amigos da Vida, de Brasília, que há duas décadas atua na promoção e defesa dos Direitos Humanos de populações vulneráveis, está incrementando seu programa gratuito de capacitação de pessoas trans para o mercado de trabalho, por meio do projeto Transformadas. Somente em junho, cerca de 100 interessadas concluíram cursos de barista, bartender e designer gráfico. Outras 380 deverão receber treinamento a partir de agosto, nas áreas de hotelaria e alimentação e beleza.

De acordo com o presidente da instituição, Christiano Ramos, além do trabalho de capacitação, os interessados são beneficiados com auxílio permanência, para que tenham condições de frequentar e concluir o curso. Segundo ele, a verba custeia gastos como transporte e alimentação dos participantes. "Sabemos que, para essa população, é muito difícil obter a qualificação necessária para conseguir um emprego. Por isso, para termos maior adesão, garantimos desde a passagem de ônibus a cestas básicas", afirma.

Os novos cursos a serem oferecidos pela Amigos da Vida serão realizados em parceria com a Secretaria de Estado de Trabalho (Setrab). Segundo Ramos, a verba prevista, de R$ 350 mil, garantirá a oferta de treinamento de maquiagem, culinária, bartender, barista e hostess, com duração média de três meses.

"Como esse público está acostumado a trabalhar na noite, buscamos oferecer oficinas com o perfil adequado. Com a oferta de cursos profissionalizantes, essas pessoas passam a ter outras alternativas de sobrevivência", diz Ramos, afirmando que pessoas consideradas de meia-idade recebem atenção especial. "Trata-se de um público de alta vulnerabilidade social. Por isso, buscamos sempre novas alternativas de inclusão que venham, principalmente, romper a barreira da idade", afirma.

Empresa júnior tem primeiro presidente trans no DF

Não podemos parar, perder nossos direitos. Nossa luta não é sobre conseguir, mas sobre permanecer"
Não podemos parar, perder nossos direitos. Nossa luta não é sobre conseguir, mas sobre permanecer" (foto: Arquivo Pessoal)

Primeiro homem trans a presidir uma empresa júnior no Distrito Federal, o estudante de publicidade Henrique Cardoso, 20 anos, comanda uma equipe de 40 colaboradores na Facto Comunicação, associada à Universidade de Brasília (UnB). Cardoso, que assumiu o cargo em fevereiro deste ano, afirma que sua gestão vem sendo pautada pela horizontalidade, respeito e espírito colaborativo.

No meio empresarial, o Movimento Empresa Júnior (MEJ) é referência na participação de grupos minoritários dentro das corporações, capacitando jovens empreendedores para o mercado. Segundo Cardoso, a Facto teve um papel importante no reconhecimento legal de sua transgeneridade. O nome de Henrique representa legalmente a empresa, portanto, foi necessário vincular seus dados pessoais à Facto.

Isso o motivou a retificar toda a sua documentação — aquele que antes era seu nome social, agora tem valor em âmbito legislativo —, mas essa não foi uma missão nada fácil, afirma. Ele conta que a burocracia imposta por cartórios e órgãos públicos desencadearam muito constrangimento e gastos inesperados.

"Somente para alterar meu nome na carteira de motorista tive que desembolsar mais de R$ 300. Para a nova certidão de nascimento, foram outros R$ 250 e, pelo certificado de reservista seria mais R$ 100, mas dei sorte de estar em período de gratuidade. Isso porque desembolsei R$ 80 em um cartório para não ter que pagar por nada disso, mas de nada adiantou", conta.

Além disso, Cardoso teve dificuldade com a regularização de seu plano de saúde e na obtenção do novo título de eleitor, que ainda não foi regularizado, impossibilitando sua participação nas próximas eleições. "É uma reafirmação, uma cobrança constante, exigem muitas explicações a nível micro, mas não podemos parar, perder nossos direitos. Nossa luta não é sobre conseguir, mas sobre permanecer", afirma.

Cardoso lamenta a situações dos transsexuais menos favorecidos, que necessitam dessa documentação para se inserir no mercado de trabalho. "Se para mim, que sou superprivilegiado, branco, de classe média alta, foi difícil, imagina para os trans periféricos", conclui.

Sem fins lucrativos e composto por estudantes de graduação, o objetivo do Movimento Empresa Júnior é complementar a formação acadêmica a partir da experiência no mercado de trabalho e da vivência empresarial antes da conclusão do curso. Em resumo, empresas juniores funcionam como quaisquer outras corporações, todavia comandadas por estudantes universitários. Em outubro de 2021, a Brasil Júnior — organização coordenadora do movimento no país — divulgou o Planejamento Estratégico da Rede para o triênio de 2022 a 2024.

O documento guia os objetivos e metas para todo o MEJ nacional. Com o novo ciclo, pretende-se consolidar empresas juniores mais diversas, tolerantes às diferenças e garantidoras de oportunidades iguais. O Censo & Identidade, realizado pela Brasil Júnior, em janeiro, identificou que 24% dos empresários juniores se autodeclaram parte da comunidade LGBTQIA . Em cargos de liderança, essa porcentagem é um pouco melhor: sobe para 26%.

Para Cardoso, quando a comunidade é dividida e foca-se apenas em pessoas transgêneras, ainda há muito a expandir. "Desejo ser o primeiro de muitos. A comunidade trans é uma pequena parte da universidade, que já é um nicho isolado. Quero um futuro de oportunidades, não privilégios."

 

Visibilidade e luta por um lugar ao sol

 (crédito: Arquivo Pessoal)
crédito: Arquivo Pessoal

Primeira gestora de políticas LGBTQIA do Distrito Federal, a assistente social Paula Benett, 41 anos, sofreu na pele todos os tipos de discriminação, até conquistar o respeito da sociedade. Foi a primeira trans servidora da Secretaria da Mulher do GDF e também a pioneira na formulação da pauta de Direitos Humanos a conquistar um assento no Conselho da Mulher.


Mineira de Miraí, mas candanga de coração, Paula se estabeleceu em Brasília há 20 anos. É coautora do decreto que instituiu o nome social para pessoas trans e também da portaria que estabeleceu o banheiro por gênero. Ainda assim, considera que há muito a ser feito e conquistado para que haja, de fato, representatividade e ocupação de espaços.

Ela aponta a empregabilidade como um "grande gargalo". "Isso ocorre justamente por conta do preconceito e da violência no ambiente familiar, fatores que vêm sendo passado de geração a geração", analisa, observando que, a partir do momento em que os filhos vivenciam violência doméstica, piadas racistas, inferiorização de gêneros e raças, a tendência é a de que os filhos reproduzam esses comportamentos ao longo da vida. "Esse comportamento é fruto de uma sociedade binária. Tudo que foge do padrão, que é imposto, acaba sendo perseguido. Há uma pirâmide social montada, onde quem está no topo são os héteros. Os demais caem vertiginosamente. E o pior ocorre quando essas nuances de vulnerabilidade se fundem num só corpo, como por exemplo, uma mulher trans e negra", diz.

Paula conta ter vivenciado inúmeras situações de preconceito e constrangimento no mercado de trabalho em função de sua opção sexual, mas resistiu bravamente a todas as investidas. "Eu pus o pé na porta. Passei por grandes corporações onde era a única trans. Sofri pressões psicológicas e opressão. Evitava até olhar para os colegas de trabalho para não ser mal interpretada. Perdi a conta de entrevistas em que fui bem avaliada, mas me rejeitaram porque sou trans", lembra, ponderando ser imprescindível que as empresas promovam capacitação e treinamento amplos para todos os funcionários, como forma de erradicar preconceitos e promover o acolhimento devido.

Ela avalia que a grande maioria da população trans expulsa do mercado de trabalho acaba partindo para a prostituição e a informalidade, como forma de sobrevivência. "Uma coisa é a decisão, outra a necessidade. Enfrentar o preconceito, o frio e a violência não é fácil. Sem contar que o Brasil é o país onde mais se mata pessoas trans no planeta. Não tem como falar do mercado de trabalho para esse público sem olhar todo o contexto. O preconceito da sociedade impacta, e muito, no mercado de trabalho", analisa Paula, que em suas palestras de capacitação e formação já atingiu mais de 40 mil pessoas.

Afinal, um porto seguro

O consultor de vendas Miguel Rodrigues, 25, que há sete anos decidiu fazer a transição de gênero, também passou por situações nada agradáveis em empresas de Brasília. Ele conta que chegou até mesmo a ser impedido de utilizar banheiros em shoppings onde trabalhou. Maranhense de Imperatriz, veio para Brasília aos 14 anos, por não encontrar apoio nem mesmo da própria família em sua terra natal. "Aqui conclui meu ensino médio e fui aprovado para o curso de letras na Universidade de Brasília, mas tive que trancar a matrícula para buscar trabalho e sobreviver", diz.

Essa decisão, segundo ele, foi crucial para encarar o mundo com outros olhos. "Foi um processo que me machucou bastante. Em entrevistas, mesmo sendo muito comunicativo, confiante e aberto a possibilidades, me sentia desconfortável por certas exigências, como uso de maquiagem e roupas femininas. Passei por situações muito desconfortáveis, constrangedoras. Sofri muito abuso psicológico", diz.

Há um mês, Miguel foi convocado para trabalhar como vendedor em uma loja da TIM em Brasília, por meio do programa de diversidade e inclusão. Agora considera ter encontrado, enfim, um porto seguro. Casado há sete anos, ele pretende levar adiante a ideia de constituir família e ter, pelo menos, quatro filhos, proporcionando a eles uma educação livre de preconceitos. Além do emprego, ele foi beneficiado pelo programa de apoio da empresa, que garantirá a graduação em uma faculdade, no curso de relações internacionais.

Miguel é mais um a considerar que o mercado não está preparado para abrigar pessoas trans. "Com raras exceções, não observamos o cuidado necessário entre as empresas, a aceitação devida. Motivos não faltam para que muitos trans tenham receio de tentar uma vaga, sobretudo por medo do preconceito e da resistência", afirma.


Negra, trans e candomblecista

Îagûara Flor, trans, negra e seguidora do Candomblé: "Enfrentamos perrengues"
Îagûara Flor, trans, negra e seguidora do Candomblé: "Enfrentamos perrengues" (foto: Arquivo pessoal)

A arte-educadora brasiliense Îagûara Flor, 29, iniciou seu processo de transição em 2016, ao participar dos movimentos de ocupação no Ministério da Educação (MEC) e na Universidade de Brasília (UnB). Recorreu a auxílio psicológico e todas as possibilidades de tratamento para atingir seu propósito.

Negra, filha de militar pastor evangélico e candomblecista, Îagûara passou por percalços jamais imaginados. Após tentativas malsucedidas para se colocar no mercado de trabalho, decidiu investir na gestão da própria carreira. "Chegaram a exigir que eu mudasse a forma de me vestir, de arrumar meu cabelo e até mesmo usar maquiagem mais clara, que escondesse a minha cor e não revelasse a minha religião. Sem contar os episódios de racismo estrutural, velado, silencioso", conta, revelando que somente há pouco tempo obteve o apoio total da família, exceto do pai, que sempre foi distante.

Primeira entre quatro irmãos a cursar uma universidade, se graduando em música pela UnB, ela revela que a conquista do diploma foi fator decisivo para sua aceitação no seio familiar. "As pessoas costumam dar mais valor para títulos, status. Tive que consquistar minha independência financeira para, enfim, me impor", diz a artista independente, que já tentou lecionar em escolas, mas encontrou como única saída as aulas particulares. "Tentaram, de toda forma, invisibilizar a minha existência, a minha forma de ser. Infelizmente, o mercado de trabalho para pessoas trans se torna oportunista, nada acessível", lamenta.

Para ela, a implementação de políticas públicas voltadas à população LGBTQIA foi um grande avanço, mas ainda há muito o que conquistar. "Não dá para parar por aqui. É imprescindível que haja formulação de políticas públicas mais abrangentes e efetivas, que humanizem a nossa existência", afirma. Sobre o tratamento dispensado à população trans no mercado de trabalho, resume: "Quem perde não é a gente, mas quem nos despreza. Afinal, também somos família, enfrentamos perrengues, temos contas a pagar e, acima de tudo, somos mão de obra qualificada."

Recrutamento inclusivo é nova meta de corporações

Grandes grupos como TIM e Ambev criam programas específicos para população trans, com oferta de plataformas e bolsas de estudo

 (crédito: Arquivo Pessoal)
crédito: Arquivo Pessoal

No Brasil, apenas 4% do público LGBTQIA ocupam vagas no mercado formal de trabalho, de acordo com a empresa de recrutamento e seleção 99jobs. Atenta ao acolhimento de todas as pessoas nos processos promovidos pela companhia, foi incluído em sua plataforma dados sobre diversidade, aumentando em 53% o número de pessoas que se declaram trans — comparando o período de janeiro a maio de 2021 com janeiro a maio de 2022. Ainda segundo a empresa, neste ano o número de pessoas empregadas aumentou em 64,7%.

De acordo com a Associacão Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), apenas 0,02% das pessoas trans têm acesso a uma universidade no país. Além disso, parcela relevante desse público abandona os estudos por volta dos 13 anos e 87,3% apontam como principal necessidade o direito a emprego e renda. Corporações como a Ambev e a Tim fazem a diferença nesse processo de inclusão, que gera maior visibilidade e confiança entre os consumidores.

Especialista em Diversidade de Inclusão na Ambev, Amanda Macedônio, observa que todos os processos na corporação são feitos pela plataforma da Gupy, que tem, atualmente, uma parte onde o candidato pode incluir informações particulares sobre diversidade, prática que, segundo ela, auxilia sobremaneira no processo de seleção de candidatos com diferentes perfis. "Como temos hoje diretrizes internas sobre contratações diversas, essas características se tornam um diferencial positivo", afirma.

Segundo ela, a Ambev conta com um time de recrutamento e seleção treinado para conversar e selecionar esse público que, após aprovadas no processo, promove todo o acompanhamento para explicar os benefícios e garantir a inclusão na área onde a pessoa for alocada, buscando criar a melhor experiência possível de acolhimento. "Nós temos um grupo interno exclusivo para pessoas trans que estão sempre abertas a receber novos colaboradores, e esse grupo ajuda muito na recepção e acolhimento dos novos funcionários e funcionárias da companhia", diz.

Amanda acentua que a empresa oferece treinamentos específicos tanto para os novos colaboradores trans como pra os que já atuam na empresa, dentro do processo de onboarding que, além de apresentar as áreas da companhia e um pouco da história da corporação, também traz informações e acessos às diversas plataformas de aprendizado, como a Ambev On e Linkedin Learning entre outras, que auxiliam, sobremaneira, na formação dos colaboradores. "Dentre a farta gama de treinamentos, temos vários focados em diversidade e inclusão, foco em liderança inclusiva e temas correlacionados."

Ela afirma ainda que a empresa pretende ampliar o quadro de colaboradores trans, de forma genuína. "Quando começamos a ampliar nossos benefícios para essas pessoas, automaticamente nos tornamos referência, nos sentimos mais preparados. Além disso, a população trans consegue também ver em nós uma opção segura e acolhedora para trabalhar. Não é de hoje que letramos nossa liderança e nossos colaboradores no assunto. E a contratação de pessoas mais diversas, incluindo da comunidade trans, começa a acontecer naturalmente", assegura.

Ação e transformação

Alan Kido, Gerente de Diversidade e Inclusão da TIM
Alan Kido, Gerente de Diversidade e Inclusão da TIM (foto: Bruno Ryfer)

Reconhecida por liderar movimentos importantes do mercado desde o início de suas operações no país, em 1998, a Tim é outra empresa que oferece programa estruturado de diversidade e inclusão, com ações internas e externas, além do incentivo ao ingresso de pessoas trans no mercado de trabalho. Segundo o gerente de diversidade e inclusão, Alan Kido, em janeiro deste ano a empresa deu início ao processo de qualificação e inclusão de pessoas trans, por meio do programa Transforma TIM.

Segundo ele, a ação afirmativa de empregabilidade é voltada a uma comunidade que enfrenta grandes desafios. "Por meio do programa Transforma TIM, oferecemos vagas e qualificação profissional para pessoas trans, apoiando o ingresso no mercado de trabalho e o desenvolvimento de carreira", afirma Kido, detalhando que o programa em questão conta com a parceria da Ampli, edtech de ensino digital da Kroton, que oferece bolsas de graduação.

O executivo lembra que o benefício é um diferencial do programa e que as vagas são ofertadas em um processo seletivo conduzido pela consultoria Transcendemos, sem exigência de curso superior para os candidatos. "O programa reflete nossos valores — coragem, respeito e liberdade - e está em linha com o compromisso da operadora em prol de uma cultura organizacional cada vez mais inclusiva e de uma sociedade livre de preconceitos. No ano passado, aderimos ao Fórum de Empresas e Direitos LGBTIA e temos grande foco na inclusão e na ampliação da representatividade desse público no mercado de trabalho. Para nós, diversidade é uma riqueza e não um problema", afirma.

Ele lembra, ainda, que, recentemente, a TIM firmou parceria com o aplicativo SOMOS , iniciativa que tem o objetivo de apoiar a empregabilidade e levar conteúdo de qualidade e conhecimento para a população LGBTQIAP . Desenvolvido pela JUMP Mobile, o Somos é uma plataforma gratuita, direcionada à comunidade LGBTQIAP que, além de oferecer anúncios de vagas de emprego direcionadas à pessoas LGBTQIAP de todo o país e incentiva a empregabilidade com conteúdos de capacitação profissional, reunindo curadoria de informações sobre direitos, saúde e impacto social, desenvolvida por grandes especialistas nas verticais de saúde e direito.

A plataforma também possui os botões de doação, perigo e mapa da cidadania para apoiar a erradicação da LGBTI fobia, e dá visibilidade a ações de empresas que apoiam a diversidade e inclusão. Todo o conteúdo é gratuito e clientes TIM podem navegar sem gastar sua franquia de internet.

Segundo Kido, o app foi desenvolvido pela área de marketing da operadora, em parceria com a JUMP Mobile, e contou com colaboração do grupo de afinidade Orgulho , formado por quase 100 colaboradores e colaboradoras da TIM que sugerem e avaliam ações focadas em recrutamento e seleção, comunicação e educação para inclusão de pessoas LGBTQIAP . "A plataforma é mais um exemplo do uso da tecnologia como alavanca para a inclusão social e integra o programa de diversidade e inclusão da operadora", diz.

 

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