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Quando a imaginação transforma a cultura em negócio

O projeto Território Criativo 2022 chega para incrementar a área cultural do Distrito Federal, uma vez que o setor foi um dos mais atingidos em todo o país durante os dois longos anos de pandemia

Arthur Vieira*
postado em 24/04/2022 06:00 / atualizado em 24/04/2022 06:00
 (crédito: Eraldo Peres)
(crédito: Eraldo Peres)

O setor cultural foi um dos mais afetados financeiramente pela pandemia, levando muitos artistas a se reinventarem nos últimos dois anos. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), revelam que houve uma queda de 16,3% no número de pessoas em ocupações ou atividades culturais em 2020, caindo de 5,5 milhões para 4,6 milhões de trabalhadores. No ano passado, começou a haver sinais de melhora no desempenho do setor, com uma série de aumentos graduais, até chegar, mais uma vez, à marca dos 5 milhões de ocupados em meados de junho. 

No Distrito Federal, o setor artístico representa 1,5% do mercado local, com mais de 30 mil profissionais atuantes. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que, em 2018, havia uma movimentação bastante positiva, atingindo a marca dos R$ 7 bilhões. 

Assim como em todas as áreas do mercado de trabalho, o setor precisou se reinventar, capacitando artistas e produtores para planejar e desenvolver, de forma ainda melhor, seus projetos, tanto técnica quanto pessoalmente, além de fazer com que a categoria conquiste espaço cada vez maior por meio da economia criativa. Foi visando este objetivo que a edição 2022 do Território Criativo chegou à capital do país.


O Projeto


Instituído em 2017 pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec) do DF, o programa Território Criativo seguiu como forma de contribuir para o desenvolvimento socioeconômico sustentável e integrado da economia da capital, por meio da cultura. O programa prevê recursos e formações voltadas para a criação de competências técnicas e gerenciais para projetos culturais, além de proporcionar mecanismos de apoio financeiro e difusão de dados, informações e tecnologias para o crescimento do mercado criativo.

Destinado às pessoas que trabalham com economia criativa, o programa oferece uma série de cursos, além de palestras e oficinas gratuitas para a qualificação dos profissionais em seus empreendimentos, ensinando desde noções básicas a técnicas mais avançadas de planejamento dos seus negócios. Em 2022, o evento está sob a tutela da organização não governamental Lente Cultural, com apoio do Serviço Social do Comércio (Sesc) e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

Luz, câmera, ação: equipe de produção em cena
Luz, câmera, ação: equipe de produção em cena (foto: Élio Rizzo)

O Território Criativo segue até outubro e é feito de forma híbrida, mesclando lives e eventos presenciais, todos transmitidos por meio do canal oficial no YouTube. Além disso, contará com mentorias, consultorias e mutirões relacionados ao Cadastro de Entes e Agentes Culturais (Ceac), essencial para registro e divulgação dos projetos culturais.


Convidados


Veteranos no ramo garantiram seu espaço para contar suas vivências e experiências na carreira. Um deles foi o organizador de eventos Pedro Affonso, produtor do Capital Moto Week, convidado de uma live intitulada Produto Cultural como Negócio. Em entrevista ao Correio, Pedro conta que se sentiu lisonjeado ao participar do evento, e que a proposta de mostrar que a arte pode se tornar um negócio rentável é muito importante para ser debatida. “Cultura é um grande negócio, desde que você esteja capacitado e tenha uma equipe engajada com os projetos”, diz.

Ele ainda afirma que, por mais que os produtores culturais exerçam sua função, muitas vezes por amor, não impede que possam transformar seus projetos em algo lucrativo: “Quem disse que você não pode ganhar dinheiro com o que ama?”, questiona.


Com 21 anos na estrada como produtor cultural em Brasília e cerca de 3 mil projetos no currículo, Pedro Affonso revela que ainda assim enfrenta muitas dificuldades e problemas de toda sorte. “Muita gente tem a paixão como mola propulsora, mas é preciso conciliar esse sentimento com a razão na hora de organizar um evento”, explica. “É preciso trabalhar com planejamento e antecedência, estabelecer metas e estar preparado para lidar com imprevistos”, completa.

O produtor Affonso concede entrevista a Gilberto Evangelista
O produtor Affonso concede entrevista a Gilberto Evangelista (foto: Élio Rizzo)


Pedro pontua que o trabalho em equipe é algo também muito valorizado na organização de um evento. “Quanto mais preparada for a equipe, melhores são as chances de sucesso na realização de um espetáculo”, afirma. Ele atribui boa parte do êxito dos eventos que organiza ao engajamento da equipe que coordena, principalmente no Capital Moto Week, projeto mais complexo que coordena atualmente.


O produtor reforça que, após a vacinação contra a covid-19 ter atingido cobertura considerável, os produtores culturais também têm responsabilidade com a saúde mental da população, e que proporcionar eventos que tenham esse impacto será um desafio nos próximos anos. “Todo mundo saiu machucado da pandemia. A gente tem responsabilidade não só com o lazer e o entretenimento, mas com a saúde emocional das pessoas”, diz. “Assim como a população, a equipe também precisa desse cuidado, e seu engajamento é essencial nas produções. É preciso ter nervos de aço, mas somos pessoas, e não máquinas. Então, é sempre bom ter um espaço para descanso também”, afirma. 

Outros eventos de destaque também são oferecidos pelo Território Criativo, como mentorias especializadas, focadas em dois pontos importantes da economia criativa: acessibilidade e sustentabilidade. A primeira ofertará aos produtores atividades voltadas à inclusão e à possibilidade
de pessoas com deficiência participarem ativamente das ações culturais. Essa modalidade ficará a cargo da especialista em acessibilidade, Babi Barbosa.

Babi, responsável pela inclusão de pessoas com deficiência
Babi, responsável pela inclusão de pessoas com deficiência (foto: Élio Rizzo)


A de sustentabilidade prevê levar ao agente cultural informações e preceitos dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), agenda proposta pela ONU até 2030, com 17 objetivos, como
clima, educação, bem-estar, saúde e erradicação da pobreza, metas de melhorias para uma sociedade inclusiva e sustentável. A mentoria será realizada pela administradora Jannayna Sales. Ambas as mentorias acontecerão amanhã (25) e serão transmitidas pelo YouTube.


Desafio


A coordenadora administrativa do evento, Carol Peres, destaca a responsabilidade de formar produtores culturais em um cenário de retorno à presencialidade após mais de 700 dias de luta para promover projetos em meio ao isolamento social e a proibição de apresentações. Para ela, oferecer essa capacitação no período pós-pandêmico é um desafio: “É ótimo para quem quer criar projetos culturais mas não sabe como começar. A gente tem uma grande lacuna na capacitação profissional para o mercado criativo a ser preenchida”, diz. 

Carol Peres: "Há uma grande lacuna de profissional a ser preenchida"
Carol Peres: "Há uma grande lacuna de profissional a ser preenchida" (foto: Eraldo Peres)

Para a gestora, esta é uma das melhores formas de se incentivar a cultura no
país, principalmente por ensinar as pessoas que estão iniciando no ramo métodos e técnicas para desenvolver melhor seus projetos e manter a população do DF com mais acesso às mais diversas manifestações culturais. “É uma forma de enxergar a cultura não só como um evento, mas como
uma manifestação e também um negócio rentável”, explica.


Acessibilidade


O secretário de cultura e economia criativa do GDF, Bartolomeu Rodrigues, afirma que, além da capacitação, o foco do evento busca um alcance ainda maior, para que artistas de outras localidades
possam também ter seus projetos reconhecidos, fortalecendo ainda mais a cultura na capital. “O Território Criativo tem como principal objetivo o fortalecimento da cadeia da economia criativa do Distrito Federal, capacitando o cidadão comum, em especial aqueles das regiões administrativas com menor índice de desenvolvimento humano, com foco em geração de emprego e renda”, ressalta.


Para atingir essa meta, uma das inovações para a edição deste ano é o programa Caravana Território Criativo. Tal como as caravanas de outras ações sociais, o programa prevê atender clientes de todas as
oito macrorregiões do DF contempladas pela Secec. Segundo a organização do evento, durante seis dias, uma carreta do Senac permanecerá em cada uma das regiões administrativas, promovendo a itinerância de consultorias para profissionais e empreendedores culturais e atividades para os conselhos regionais de cultura.

Onde é?

  • Cursos e Oficinas - Espaço Cultural Renato Russo, na 508 Sul
  • Palestras - sede do Sesc Brasília, na 504 Sul


*Estagiário sob a supervisão de Ana Sá

  • Luz, câmera, ação: equipe de produção em cena
    Luz, câmera, ação: equipe de produção em cena Foto: Élio Rizzo
  • O produtor Affonso concede entrevista a Gilberto Evangelista
    O produtor Affonso concede entrevista a Gilberto Evangelista Foto: Élio Rizzo
  • Babi, responsável pela inclusão de pessoas com deficiência
    Babi, responsável pela inclusão de pessoas com deficiência Foto: Élio Rizzo
  • Carol Peres:
    Carol Peres: "Há uma grande lacuna de profissional a ser preenchida" Foto: Eraldo Peres
  • Artistas participam de oficina do Território Criativo 2022
    Artistas participam de oficina do Território Criativo 2022 Foto: Élio Rizzo
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