Nas últimas colunas, abordei o tema das principais tendências do mercado de trabalho em 2022, acompanhadas de reflexões sobre os seus impactos. A maioria das previsões sobre mudanças na forma de trabalhar apontam para situações que já estão em curso, sendo tendências que em alguma medida já estão se concretizando. O principal exemplo disso é como em um curto intervalo de tempo, no contexto da pandemia de Covid-19 e trabalho remoto, o mercado de trabalho tornou-se ainda mais globalizado, com fronteiras diluídas.

Para uma parcela qualificada de trabalhadores, é uma realidade trabalhar com empresas localizadas fora de seu país de residência, muitas vezes ganhando em moeda mais valorizada do que o real. Em setores com déficit de profissionais, como o de tecnologia, que apresenta falta de desenvolvedores para preencher as posições disponíveis, a possibilidade de trabalhar do Brasil para empresas internacionais e ganhar em dólar é cada vez mais viável. Há uma disputa pelos talentos nesse campo, fazendo com que as organizações brasileiras percam competitividade, principalmente com a valorização do dólar americano frente ao real.

No entanto, não é apenas para os profissionais de tecnologia que as oportunidades de trabalho remoto internacional se apresentam. Para quem atua em áreas de gestão, produção de conteúdo, serviços digitais e diferentes funções que requerem apenas o uso de computador e boa conexão com a internet tem muitas chances de trabalhar em qualquer lugar do mundo sem sair de casa.

Mas quais são os principais desafios e oportunidades que esse modelo de trabalho apresenta? Os benefícios de atuar em uma empresa internacional, para além dos ganhos em moeda mais valorizada, incluem se posicionar no mercado de trabalho de forma atraente e competitiva em diferentes lugares do mundo, interagir com culturas diferentes, aprender a cooperar com perfis diferentes de colaboradores e manter-se mais antenado com o que está ocorrendo em esfera mundial em sua área de atuação.

Já os reveses são o pouco contato direto com as pessoas da equipe, que estão espalhadas por diferentes lugares, um modelo de trabalho que é 100% remoto, sem a possibilidade de combinar idas ao escritório com o home office. Outro risco desse modelo é a volatilidade com a qual essa tendência pode mudar, tornando o trabalhador mais vulnerável a demissões e mudanças no mercado. Também é necessário entender em detalhes as implicações tributárias, de direitos trabalhistas e possibilidades de crescimento profissional no médio a longo prazo em um modelo de trabalho internacional remoto.

Apesar dessa ser uma realidade cada vez mais comum, ela está sujeita às flutuações de demanda e oferta de vagas em cada indústria e às condições macroeconômicas que tornam vantajoso para as empresas e colaboradores estabelecer esse tipo de contrato de trabalho. Dadas essas condições e premissas, as mudanças no cenário econômico e de cada setor e indústria podem reverter as vantagens de se trabalhar no formato remoto internacional.

Do ponto de vista do colaborador, é importante não apenas aproveitar as oportunidades que se apresentam no momento presente, mas principalmente estruturar o seu plano de carreira e escolhas profissionais considerando os objetivos de longo prazo, ponderando sobre potenciais mudanças na oferta de emprego de seu setor a nível internacional e as oportunidades de crescimento e desenvolvimento. Em alguns casos, oportunidades que oferecem melhor remuneração no curto prazo não são necessariamente as melhores escolhas para o aprendizado e crescimento profissional no longo prazo. Por isso, é importante ter essa consciência e buscar dados de mercado, análises de seu setor de atuação, notícias sobre a política macroeconômica e informações sobre a organização empregadora que vão além das mais básicas - como remuneração, condições de trabalho e responsabilidades da função. Para profissionais que desejam ser bem-sucedidos, é crucial entender como a empresa fornece oportunidades de desenvolvimento, crescimento e suporte ao aprendizado dos colaboradores, principalmente em um contexto no qual o vínculo de trabalho torna-se cada vez mais fluído e flexível.

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