Portador de Transtorno do Espectro Autista (TEA), Arthur Ataíde Ferreira García, 18 anos, foi aprovado em medicina na Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp), estudando por conta própria. A história remete à série de TV estadunidense The Good Doctor, cujo personagem, Shaun Murphy, é um jovem autista recém-formado em medicina, admitido em um grande hospital.
O estudante é natural de Praia Grande, no litoral sul de São Paulo. Diagnosticado aos 9 anos de idade, conta que, desde o ensino fundamental, costumava “mergulhar nos livros” até sete horas por dia para compensar as dificuldades do autismo e que sua infância foi marcada por incertezas acerca da sua condição. “É difícil fazer parte de um grupo que, por ser diferente da maioria das pessoas, não é compreendido”, diz.
Arthur lembra que sempre enfrentou dificuldades na escola e que os problemas mais frequentes eram a falta de atenção e concentração durante as aulas. Por conta disso, aos 13 anos, começou a estudar, por conta própria, na biblioteca da escola e em seu quarto, simulando a experiência do vestibular
“Quando vi o resultado, achei que era engano, que estava errado. Depois de um tempo, vi que fazia sentido. Foi o resultado de todo o esforço que fiz até aqui. Fiquei eufórico. Foi um dos momentos em que mais me senti realizado”, disse.
Arthur revela, ainda, que sempre acalentou o sonho de estudar medicina, mas, por conta de sua condição, os colegas de sala e até mesmo os professores não acreditavam que ele obteria êxito em qualquer profissão que escolhesse. “O que eu mais ouvia dos meus professores era que eu não conseguiria passar em nenhum curso”, relata. Mas a vontade em seguir na área médica, afirma ele, foi reforçada pela consciência sobre a dificuldade de inclusão das pessoas autistas na sociedade, além dos entraves a acessibilidade, educação, trabalho e outras garantias.
O jovem revela que pretende se especializar em psiquiatria, com ênfase em diagnósticos de TEA e auxílio psicológico para autistas. O calouro acredita que muitos psiquiatras têm uma visão deturpada e até mesmo preconceituosa sobre os autistas. Por isso, deseja mudar esse quadro, democratizando o acesso a auxílio psiquiátrico de qualidade. “As pessoas que mais conseguem compreender os autistas são os próprios autistas, por uma simples questão de empatia. Sabendo o que meu paciente sente, vou conseguir ajudá-lo da melhor forma”, diz.
Destaca ainda que, mesmo antes de ser aprovado na universidade, vinha promovendo palestras e atos de conscientização com o intuito de levar informações a respeito do TEA e das dificuldades que as pessoas com deficiência enfrentam diariamente. “O preconceito e o ódio das pessoas vêm a nós muito por conta da desinformação”, diz. Ele afirma que uma das mobilizações mais notáveis de sua vida foi a Caminhada pela Conscientização do Autismo, realizada em abril de 2019, na Baixada Santista, reunindo dezenas de famílias com membros portadores de TEA
Arthur revela, ainda, ter planos para desenvolver projetos de pesquisa relacionados à questão da inclusão e acessibilidade para as pessoas autistas no país, logo no início das aulas. Contudo, para se manter, precisará de uma bolsa de estudos ou de algum patrocinador.
*Estagiário sob a supervisão de Jáder Rezende