Protagonismo

Mulheres ocupam cada vez mais postos de liderança

Presença feminina na liderança cresceu 7% entre 2019 e 2020, passando de 30% para 37%. Protagonismo do gênero no Brasil é o maior na América Latina

Correio Braziliense
postado em 21/03/2022 16:21 / atualizado em 21/03/2022 16:24

Cada vez mais mulheres estão se tornando protagonistas no mundo corporativo, ao assumir cargos de gestão antes dominados apenas pelo sexo masculino. Pesquisa da Page Executive, uma das maiores empresas mundiais em recrutamento especializado,revela que a presença delas na liderança cresceu 7% entre 2019 e 2020, passando de 30% para 37%. De acordo com a sócia-investidora da e fundadora da Homer Parcerias Imobiliárias - marketplace que proporciona o ambiente completo para os corretores de imóveis serem produtivos de forma independente, através de parceria -, Lívia Rigueiral, é comum que fatores culturais, apesar de retrógrados, costumem vir à mente de todos como resposta quando o assunto é desigualdade de gênero no mercado de trabalho.
“É um problema estrutural grave e enraizado, que dados do estudo "Informe e percepção de gênero", do Linkedin comprovam. Eles revelam, por exemplo, que na corrida por uma oportunidade de trabalho, as mulheres têm 13% menos chances de terem seus perfis vistos pelos recrutadores que os homens”,diz, observando que os responsáveis por selecionar os candidatos dão preferência ao sexo masculino, sem sequer terem aberto o perfil da candidata para avaliar suas competências. “Parece algo distante da nossa realidade, até vermos dados como esses, que se encarregam de nos mostrar que o preconceito por conta do gênero está mais presente no nosso dia a dia do que imaginamos”, completa a também CEO do Homer e sócia-investidora da venture builder Ipanema Ventures.


Para Rigueiral, a falta de oportunidade, aliada à falta de confiança nas mulheres, figura no topo do ranking de razões pelas quais há menos mulheres ocupando cargos de chefia. “Se tomarmos como exemplo mentorias que, segundo estudo da Concordia University, contribuem para o crescimento tanto dos mentorados quanto dos mentores, e tem papel fundamental na formação de grandes líderes, não vemos números significativos na procura por mulheres para mentorarem homens”, afirma, citando uma pesquisa realizada pela Universidade do Michigan, que revelou o registro de apenas 21 resultados nas buscas no Google por "mulheres mentoria para homens", enquanto "mulheres mentoria para mulheres" obteve 807 resultados.


“Em uma sociedade estruturalmente machista, esse comportamento terno automaticamente distancia a mulher da imagem forte que um cargo de gestão exige, logo, elas se veem mais distantes também da possibilidade de liderar equipes”,pondera, pontuando que a sociedade tem repetido discursos e, consequentemente, erros do passado, o que acaba por tornar falha a valorização das muitas atribuições que naturalmente é verificada no modelo de gestão das mulheres, como a inteligência emocional, capacidade de criar estratégias e gerenciar crises - ainda mais em tempos de pandemia -, dentre tantos outros pontos técnicos ou de relações interpessoais, que só agregam ao ambiente corporativo.
Para que haja uma evolução significativa do debate sobre a importância de uma sociedade mais igualitária, transpondo a teoria e passando à prática, Rigueiral avalia ser fundamental a inserção demais mulheres no mundo dos negócios. “Que tal dar o primeiro passo, contratar e respeitar as mulheres? Ou, melhor ainda, incentivar e promover a presença delas em áreas majoritariamente masculinas, ou dar suporte às que se dedicam ao trabalho e também à criação dos filhos?”,questiona.

Desigualdade de gênero

Especialista em gestão estratégica de pessoas, coach executiva e diretora da Emovere You, Cláudia Regina Araújo Santos avalia que, embora nas últimas décadas as mulheres venham ganhado cada vez mais espaço no ambiente corporativo, ainda há muito chão pela frente quando o assunto é cargo de chefia. “Há quem acredite que o mundo do trabalho já não faz distinções por gênero, mas não é bem isso que acontece quando se trata de cargos de liderança”, diz.


Apesar de representarem 43,8% dos trabalhadores no Brasil, as mulheres ocupam apenas 37% dos cargos de gerência, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Quando se trata dos comitês executivos das grandes empresas, esse número cai para 10%. Além disso, elas ainda recebem o equivalente a 76% do salário dos homens.


“Essa desigualdade de gênero ainda é recorrente nas empresas em todo o mundo. Neste ano, um relatório da consultoria americana Boston Consulting Group (BCG) mostrou que, ainda que aspirem cargos de liderança, as mulheres são desencorajadas a chefiar. Entre os motivos estão as microagressões que sofrem no dia a dia, a falta de oportunidades ao longo da carreira e, ainda, a falta de exemplos de mulheres na liderança”, diz.


Ela observa que em empresas mais diversas com relação ao gênero, todos os funcionários se sentem encorajados a aspirar cargos de direção. “Para as mulheres, enxergar outras pessoas do sexo feminino na chefia pode incentivá-las a buscar o crescimento na carreira”, avalia. “E essa diversidade não é importante apenas para encorajá-las, mas também pode trazer resultados financeiros para as companhias”, completa, citando como exemplo estudo de 2016 do Peterson Intitute for International Economics, mostrando que empresas com ao menos 30% de presença feminina em cargos executivos têm um lucro 15% maior.
Para mudar esse cenário, avalia, as empresas precisam criar políticas de recursos humanos mais inclusivas, sem qualquer distinção por gênero, embora este não seja papel apenas do profissional de recursos humanos. “Tanto a direção da empresa quanto os funcionários precisam trabalhar juntos para tirar as ideias do papel e colocá-las em prática”, afirma.


De acordo com a consultoria BCG, algumas ações podem ser tomadas para garantir uma empresa mais igualitária. Nos processos seletivos, segundo ela, é recomendado que haja um número igual de homens e mulheres, o que garantirá um quadro de funcionários mais misto. Além disso, incluir as mulheres nas interações cotidianas e na tomada de decisões é fundamental para que elas se sintam, de fato, parte da equipe.


Outra questão fundamental para garantir a equidade, segundo ela, é a criação de políticas que garantam a permanência das mulheres nas empresas, facilitando o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, como a garantia da licença maternidade para o pai e a mãe, a instalação de berçário nos escritórios, a adequação de metas após o retorno da licença-maternidade, o home office e a flexibilização de horários de entrada e saída.


“A superação das diferenças precisa partir de todos, em um esforço coletivo para transformar a cultura interna da organização. Quando as lideranças entendem isso, conseguem conscientizar toda a empresa e minimizar qualquer tipo de resistência. Uma sociedade mais justa exige a igualdade de gênero em todos os seus ambientes – e o mundo corporativo não pode estar isolado da realidade”, conclui.


Na comparação com outros países, o protagonismo feminino no mundo dos negócios coloca o Brasil atrás de África do Sul (42%), Turquia e Malásia (40%) e Filipinas (39%), mas tem um resultado melhor do que a média da América Latina (35%), segundo pesquisa realizada pela Grant Thornton,envolvendo de 250 empresas. O estudo mostra que 35% dos postos de presidente-executivo (CEO) são ocupados por mulheres, um ponto percentual abaixo do apurado em 2021, contra uma média global é de 24%. Além disso, 47% estão em cargos de liderança financeira, resultado é superior ao verificado no ano passado (43%). Entre as empresas consultadas, 6% afirmaram não manter mulheres em cargos de liderança, resultado abaixo da média global (10%) e da América Latina (11%).

 

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