Crise

Mãe comove ao apelar por emprego ostentando cartaz na rodoviária de Brasília

Aos 32 anos, Sanatielly afirma que esta foi a saída para não pedir esmola e poder sustentar suas três filhas

Jáder Rezende
postado em 08/03/2022 19:08 / atualizado em 08/03/2022 19:17
Munida de uma faixa, Sanatielly apela por uma colocação no mercado de trabalho na rodoviária do Plano Piloto  -  (crédito: Arquivo pessoal)
Munida de uma faixa, Sanatielly apela por uma colocação no mercado de trabalho na rodoviária do Plano Piloto - (crédito: Arquivo pessoal)

Mãe de três meninas, a estudante de matemática Sanatielly da Conceição, 32 anos, decidiu recorrer às ruas de Brasília para tentar uma colocação no mercado de trabalho. Munida de uma faixa de pano em que pede ajuda para conseguir um emprego, ela chama a atenção dos que passam pela Rodoviária do Plano Piloto. Sua grande expectativa é que alguma alma boa atenda ao seu apelo.


“É um grito de desespero. Foi a forma que encontrei para sensibilizar as pessoas sobre o meu drama e conseguir, enfim, um meio de sustentar minhas filhas, para que elas não passem fome. Em vez de pedir esmola, optei pelo apelo a um emprego digno”, diz Sanatielly, que é mãe de três meninas, de 16, 13 e 9 anos, a mais nova com suspeita de autismo, vitiligo, úlcera, hipotireoidismo e alopécia. “Tenho que comprar vários remédios para ela e não tenho dinheiro pra isso”, lamenta, revelando que só com esses medicamentos gasta pelo menos R$ 500 por mês.


Além dos gastos com remédios, Sanatielly ainda tem que se virar para pagar o aluguel, de R$ 500, e as contas do mês, segundo ela, nunca menos de R$ 400. Separada há três anos, Sanatielly conta que o pai das meninas é ausente e há 6 meses não paga a pensão de R$ 300.


“Estamos travando uma briga judicial para reajustar esse valor, que não dá pra pagar nem o lanche das crianças”, diz. “Além disso, não posso contar com a ajuda de parentes. Minha mãe é diarista e minhas irmãs estão desempregadas. Fora elas, não tenho a quem recorrer”, completa. A filha mais velha, segundo ela, se encarrega de cuidar das irmãs durante a sua ausência.


Há cinco meses, depois de finalizar o período de um trabalho provisório em uma empresa terceirizada pela CEB, Sanatielly passou, em vão, a enviar currículo para todas as possibilidades de emprego. O auxílio desemprego acabou e a faculdade de matemática, mesmo com bolsa de 100%, foi interrompida para garantir atenção às filhas.


Ela conta ainda que na rua, diferentemente das redes sociais, vem recebendo apoio dos que cruzam seu caminho. “Na internet muitos me xingam, dizem que sou oportunista, mas na rua recebo bastante elogio e força para continuar tentando”.


A estratégia da desempregada está surtindo efeito, mas resta ainda a assinatura do tão sonhado contrato de trabalho. Só nesta semana ela foi chamada para entrevista por três empresas. “Faço qualquer coisa, só não posso chegar muito tarde em casa por causa das minhas filhas”, diz.


Sanatielly é o retrato de um Brasil sem perspectivas para milhares de pessoas. Atualmente, a taxa de desemprego no país é da ordem de 11,6%, de acordo com cálculo de economistas do mercado financeiro. Os analistas projetam essa casa de dois dígitos pelo menos até 2025, levando o país a completar dez anos consecutivos de desemprego acima de 10%.

 

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