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10 hábitos que travam a carreira

O que o profissional não deve fazer para não comprometer o desempenho profissional. Veja a compilação de erros elaborada pelo executivo de venda do Facebook Luciano Santos

Arthur Vieira*
postado em 06/03/2022 00:01 / atualizado em 08/03/2022 17:52
 (crédito: Arquivo Pessoal)
(crédito: Arquivo Pessoal)

Todos sabem que trabalhar é necessário para ter uma vida digna e confortável. Contudo, se já está difícil conseguir um emprego, mantê-lo pode ser ainda mais complicado, principalmente quando se trata da convivência no ambiente de trabalho, fator que sempre pode causar um certo estresse e levar o trabalhador a adquirir hábitos que prejudiquem seu desenvolvimento profissional. Segundo o mentor de carreiras Luciano Santos, que também é executivo de vendas do Facebook e escritor, são comportamentos, situações, decisões e conversas com os quais todos eventualmente irão se deparar e que, por serem desconhecidos, causam surpresa nos profissionais, que usualmente não sabem como lidar com esses ocorridos, o que pode "travar" suas carreiras.

O mentor de carreiras  Luciano Santos compilou os 10 hábitos mais corriqueiros que costumam travar a carreira de qualquer um, para ajudar o profissional a ter um norte quando chegar sua vez de lidar com eles. Os 10 hábitos são: mentir; brigar com a realidade; não saber e dar feedback; fechar portas; importar o ranço dos outros; trair a confiança; não considerar outras perspectivas; comparar-se; ter medo de ser julgado; e não tomar decisões (veja quadro).

A lista faz parte de um dos capítulos do livro Seja egoísta com sua carreira - descubra como colocar você em primeiro lugar em sua jornada profissional e alcance seus objetivos pessoais, escrito por Luciano e publicado recentemente pela Editora Gente. O mentor conta que escreveu o livro no intuito de ensinar como gerenciar a carreira profissional, e que esses hábitos estão relacionados a uma falta de educação sobre como gerenciá-la. "O ambiente do trabalho é um lugar de sofrimento para muitas pessoas. Um dos motivos pelos quais as pessoas não sabem se comportar é porque elas nunca foram educadas para isso", explica.

Luciano defende a implementação do ensino sobre comportamento no ambiente de trabalho na grade curricular das universidades, pouco antes dos estágios obrigatórios; seja por meio de uma disciplina, um projeto educacional interno ou de profissionais de fora do corpo acadêmico também.

Entre esses comportamentos listados, Luciano enfatizou que o de não saber dar e receber feedbacks é um dos que mais podem prejudicar a carreira de qualquer profissional. Para ele, o feedback é uma das ferramentas mais poderosas de crescimento para a carreira: "Quando a gente recebe um feedback a gente consegue olhar as áreas em que precisamos melhorar, se desenvolver, ter um pouco mais de atenção", disse. Ele conta que o feedback é como um presente, que o profissional dá ou recebe com o intuito de evoluir na sua carreira, pois ter noção do que se precisa melhorar é fundamental para o progresso.

Segundo Luciano, há várias razões que explicam o fato de as pessoas não conseguirem lidar bem com os feedbacks. Ele alerta para o fato de que muitas corporações utilizam esse recurso como uma arma, como algo para agredir, ou também que nem mesmo dão retorno, porque não foram preparadas para isso. "Toda vez que você receber um feedback, não é porque a pessoa não gosta de você, não é porque alguém está lhe atacando, é porque você vai pegar aquela informação e isso vai te tornar um profissional melhor", explica. Por conta disso, ele recomenda que o profissional busque entender o que está por trás deste processo, para que ele não fique no escuro também.

Outro hábito que Luciano reforça que se tenha atenção e o cuidado por parte do trabalhador é o o comportamento de "brigar com a realidade". Ele explica que esse hábito está ligado ao fato do profissional não saber analisar o ambiente de trabalho em que está inserido, e por isso exige que esse ambiente se molde às suas preferências. Ele também atribui isso ao desconforto que muitos sentem com as mudanças na dinâmica do trabalho. "Não adianta ficar brigando com o mundo, faça o que está ao seu alcance e ao seu poder", disse. Como alternativa, Luciano explica que o melhor é refletir a respeito do que será melhor para você nesses momentos, e que você busque isso, nem que resulte em mudança de emprego.

Parte disso é atribuído também a um outro pensamento errôneo que muitas pessoas têm acerca do trabalho, que é a de querer um trabalho perfeito. Luciano trata a ideia do "trabalho perfeito" como um mito, algo que só existe na imaginação dos trabalhadores: "Qualquer local de trabalho vai estar rodeado de múltiplas dimensões, e elas não vão funcionar do jeito que queremos que funcionem", explica. Ele novamente reforça que é preciso olhar para si e descobrir o que você procura em um emprego: "Supondo que haja seis coisas nesse conjunto de desejos, se o trabalho atende quatro delas, está bom. Não existe emprego perfeito".

Saúde mental

Segundo a psicóloga Ana Carolina Peuker, a falta de cuidado com a saúde mental e emocional é um dos fatores que mais colaboram para que os trabalhadores tenham esses comportamentos. "Quando a gente pensa em carreira, as pessoas acabam investindo muito nela sob o ponto de vista técnico, e não desenvolvem habilidades comportamentais, como a forma que ela vai interagir com o grupo, como vai se comunicar, ser mais empática", explica. Ela também alertou para o fato de que o Brasil hoje sofre de um "analfabetismo" com relação às questões emocionais, e que mesmo que seja importante que as pessoas tenham um preparo técnico para conseguir um emprego, é igualmente essencial que se tenha uma aprendizagem de regulação emocional para isso.

A psicóloga é CEO da Bee Touch, uma empresa de tecnologia voltada para mensuração de problemas psicossociais. A empresa rastreia fatores de risco psicossociais nos trabalhadores, a fim de prevenir doenças relacionadas ao trabalho.  Ana Carolina Peuker explica que esses fatores podem ser causados por vários motivos, que podem vir tanto do próprio trabalhador quanto da empresa. "A gente tem vivido muito essa questão da hiperconectividade, que as pessoas não distinguem mais o momento de descansar e o momento de trabalhar. Essa questão da falta de limite entre vida pessoal e trabalho", alerta.

Além disso, a psicóloga aponta que problemas de estrutura organizacional, como falta de transparência nas empresas, conflitos internos, ambientes com muita competição, atividades que demandem um ritmo muito acelerado podem levar o trabalhador a ter esses tipos de comportamento e até adoecer. "Os riscos psicossociais decorrem de deficiências na organização e na gestão desse trabalho, o que vai constituir um ambiente de trabalho que não é seguro, do ponto de vista psicológico", explica.

Por conta disso, ela faz um apelo para que os trabalhadores busquem sempre apoio psicológico, independentemente de estar passando ou não por algum problema do tipo, pois é preciso que a pessoa tenha uma regulação emocional para lidar com essas questões de rotina e ambiente de trabalho, e que o autoconhecimento é peça chave para isso. "As pessoas que são capazes de reconhecer seu potencial e suas limitações vão ter mais segurança e podem ser mais autênticas. O autoconhecimento permite que se conheça melhor suas próprias reações aos diferentes contextos, tendo um maior autocontrole ", reforça. Para ela, a questão psicológica ainda é um estigma no cenário do trabalho no Brasil, e que é preciso que isso seja mais discutido, justamente para evitar que hábitos como estes se propaguem entre os trabalhadores. "Sem saúde mental, não há saúde", disse.

 

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