Uma pesquisa da plataforma de oportunidades de emprego Vagas.com constatou que 42% dos usuários do site preferem o formato híbrido de trabalho. Dos 11.601 entrevistados, entre outubro e novembro, quatro em cada 10 trabalhadores preferem ir ao escritório em alguns dias da semana e, em outros, permanecer em casa. Em 2022, essa tendência irá prevalecer nas empresas.
Os motivos variam, e alguns deles são o deslocamento que é evitado, a flexibilidade de trabalhar em um ambiente doméstico, o tempo ganho para atividades em casa, maior foco e concentração, tempo para cuidar dos filhos e outros familiares e a possibilidade de interagir com colegas durante alguns dias da semana.
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No mesmo levantaento, representando 31% optaram pelo trabalho presencial e 26%, pelo home office. Dos que preferem o trabalho híbrido, 41% consideram três dias como o ideal para o trabalho feito presencialmente, 33% escolheram dois dias e 14% responderam quatro dias.
O Ministério do Trabalho, no ano passado, divulgou a Instrução Normativa nº 90, que orientou órgãos e entidades da Administração Pública Federal em relação ao retorno gradual e seguro ao trabalho em modo presencial. As medidas foram a respeito de cuidados e proteções individuais e sobre como agir seguramente em casos suspeitos de coronavírus.
Em relação ao trabalho em empresas particulares, a portaria conjunta nº 20 de 2020 é quem dita as regras. Algumas delas são sobre medidas de prevenção em áreas comuns de trabalho e ações para identificação precoce de casos.
Protocolo orientado
Responsável por todo o Grupo Sabin, que atua em 12 estados brasileiros, além do Distrito Federal, Marly Vidal, diretora administrativa e de pessoas da empresa, explica como será a rotina, no novo ano, para os trabalhadores. Segundo ela, desde 2021, os processos estão instalados, e seguirão, por enquanto, dessa forma.
"Trabalhamos alguns processos híbridos. Na pandemia, tivemos algumas atividades de home office e fizemos pesquisa com os trabalhadores sobre o modelo para saber como isso impacta na rotina deles", conta. Algumas áreas do Sabin continuarão híbridas, outras, no entanto, serão totalmente presenciais. Central de relacionamento com o cliente e tecnologia da informação são dois locais em que o trabalho presencial, intercalado com o remoto, funciona bem.
Assim como outras empresas, o grupo consultou os empregados para saber a preferência de cada um. A partir dessa pesquisa, a empresa pesou os prós e os contras e tomou a decisão.
Foi compreendida a importância de o profissional ter troca de vivência e relacionamento e coleguismo com outros da empresa. Normalmente, a cultura da organização ocorre com maior intensidade na hora de "tomar um cafezinho", ou quando um colega pede a outro um favor, que pode ser resolvido de forma mais rápida quando estão próximos.
A modalidade híbrida supre a necessidade de ter um momento mais calmo em casa e a de poder confraternizar com colegas durante pequenas pausas no expediente. No entanto, há áreas que não poderão usufruir deste benefício, uma vez que o laboratório Sabin lida com saúde, trabalhando na linha de frente no combate ao coronavírus. "Vimos alguns atendimentos que podem ser remotos e trabalhamos nesse processo híbrido, mas a maioria vai ser presencial", afirma.
Apesar de haver áreas que irão trabalhar de forma híbrida, é preciso pensar nos cuidados a serem tomados nos momentos de encontro, por exemplo, no horário do almoço ou de lanche. Segundo Marly, é de fundamental importância que essa lente seja usada pela empresa. A necessidade de cada área não é linear. Há particularidades, segmentos e atividades que devem ser levados em consideração.
Os protocolos no Sabin são seguidos rigorosamente. Por ser do setor, há regras mais rígidas. "Nós temos uma área de saúde e segurança, formada por nosso grupo de médicos e engenheiros do trabalho. Todo protocolo é muito bem orientado", argumenta.
Ela ainda ressalta que o home office foi uma necessidade real, na qual as pessoas precisaram trabalhar de maneira muito distinta da qual estavam acostumadas. É muito diferente pensar em trabalho remoto com estrutura planejada.
Essa é uma discussão importante, inclusive para fazer integração entre colaboradores ocorrer mesmo a distância. "É como se tivéssemos que criar políticas de vivência, até para que o profissional se mantenha engajado no trabalho, feliz", explica.
Funcionários são consultados
Sérgio Garcia, gerente executivo de gestão de pessoas da Bancorbrás, diz que, na empresa, foi adotado o modelo de home office e presencial. A decisão foi tomada a partir de duas pesquisas realizadas. Com alto grau de participação, 60% das pessoas estão em home office permanentemente, outros, com dificuldade de produtividade e aderência do cargo, voltaram ao presencial.
Apesar de não estabelecer o modelo híbrido como opção fixa, o colaborador, quando quiser ir à empresa, tem a possibilidade de realizar agendamento. Para isso, foi feita uma remodelagem da organização, para que as pessoas possam trabalhar num ambiente de coworking.
"O que nós entendemos? Na verdade, quem não se adaptou ao home office, não se adaptou ao modelo virtual. Então, foi uma definição da empresa, porque, se a pessoa quiser ir para o presencial, estando de home office, nada impede", explica o gerente. Naturalmente, segundo ele, as pessoas que tiverem dificuldade de conexão no ambiente de casa terão outra opção.
Sérgio conta que a empresa oferece um auxílio home office. Quem estiver trabalhando definitivamente em ambiente remoto recebe R$ 120 mensais. Outro modelo que está sendo estudado para 2022 é o de teletrabalho. Nele não há a exigência de que o posicionamento do colaborador seja em ambiente doméstico. "Isso possibilita que ele seja contratado em outros estados ou até fora do país. Por dar uma liberdade maior, percebemos que isso é um fator de atratividade, como o home office está sendo de atratividade e retenção", avalia.
A queixa do gestor de RH da Bancorbrás é a mesma de outras empresas. Quando o assunto é cultura organizacional, sabe-se que ele fica meio perdido no home office. Segundo Sérgio, esse é um dos grandes desafios para o ano cuja solução está sendo buscada.
Em relação às ferramentas e dinâmicas que precisam surgir no meio da pandemia, uma delas foi o investimento em tecnologia. "Trocamos praticamente todos os computadores", lembra. O intuito é melhorar ainda mais para que a capacidade e a infraestrutura de quem trabalha de casa sejam adequadas.
Há outras questões em jogo. A segurança da informação, apesar de os colaboradores terem internet particular, corre riscos. Portanto, houve investimentos para essa área. Além disso, a empresa tem se dedicado no sentido de trazer ergonomia para quem trabalha de forma remota. "No ambiente doméstico, o colaborador não tem essa estrutura. A empresa até disponibiliza a cadeira para que ele possa retirar, mas as mesas, que são espaçosas, muitas vezes, não se adequam à casa do trabalhador", comenta. O descanso dos pés também foi oferecido para os colaboradores.
Em função desse trabalho em ambiente doméstico, a empresa monitorou durante 2021 os atestados médicos. Mas a maior parte das patologias girava em torno de questões psicológicas e da própria covid-19.
A orientação final que fica para as lideranças da empresa é de que prevaleça o home office, e o papel do líder é criar todas as condições para que o ambiente remoto seja mais favorável. Sobre os ganhos, não foram somente na questão de produtividade. Segundo Sérgio, os custos fixos diminuíram, consideravelmente, com transporte, limpeza, energia e água, que estão muito altos atualmente.
Em relação à segurança, o que eles mantêm de recomendações são os dois metros e meio de distância de um colaborador para outro. No entanto, eles precisam fazer uma autodeclaração todos os dias, e se alguém tiver algum sintoma ou contato com pessoa que testou positivo, precisa voltar para casa.
"A decisão não pode ser unilateral"
Marcelo Oliveira, CEO do Governança Brasil (GovBr), afirma que a decisão de retornar ao presencial, ou continuar na modalidade de home office, não pode ser unilateral. Os colaboradores precisam ser consultados.
"Depois que as pessoas compararam os prós e contras, decidimos adotar o modelo híbrido. Nele, a gente entende que os interesses de todos os colaboradores são acomodados", diz. Segundo Marcelo, há trabalhadores que continuarão 100% home office, como aqueles que trabalham na área de tecnologia de informação. Entre eles, alguns são de outros estados, inclusive. Somente uma parcela muito pequena ficará totalmente presencial.
Na Governança, foi feita uma pesquisa para ouvir o que cada um queria, como eram as condições de trabalho em casa, se moravam sozinhos ou se tinham filhos e parente para cuidar. Não adianta o home office se não houver uma estrutura mínima para trabalhar de forma confortável.
Uma das respostas que a pesquisa procurava era sobre como estava sendo a qualidade das horas de trabalho, a produtividade e o sentimento de pertencimento, que é algo que se perde muito fora do presencial. "É necessário atender, tanto as prescrições legais, que existem para o trabalho híbrido, quanto a flexibilidade, como adequar as áreas físicas de cada empresa. Como o funcionário pode agendar os horários que vai ficar na empresa ou em casa", explica Marcelo.
Em 3 de janeiro, começou o formato híbrido para todos da empresa. O diretor da companhia que oferece software para a gestão pública ainda diz que há organizações resistindo ao teletrabalho. "Engana-se a empresa que pensa que poderá tomar a decisão de retomar o trabalho sem prejudicar o negócio, porque os profissionais já têm suas dúvidas se querem voltar", afirma. Instituições que resistirem e não se adaptarem a esse modelo home office vão ter dificuldades e perder talentos, segundo ele, "isso passou a ser uma realidade, e é preciso ouvir as pessoas".