A filial do escritório do Licks Attorneys, em Brasília, resolveu voltar ao trabalho presencial. Fundada no Rio de Janeiro, a firma está em São Paulo, Curitiba e Tóquio, no Japão. Sócio-fundador, Otto Licks explica que a empresa, que tem 10 anos, é a única do Brasil a ter um escritório na cidade japonesa.
Assim como é encarada no Japão, Otto Licks leva a situação mundial do coronavírus a sério. "A gente entende que a pandemia é um fator importante que não pode ser subestimado", afirma. Atualmente, o plano de retorno ao trabalho presencial está em curso, e o executivo diz que, observando as notícias na imprensa sobre o estado da pandemia e os casos da nova variante ômicron, essa volta será mais lenta.
Em 16 de novembro, a primeira leva de 1/3 dos funcionários voltou a trabalhar presencialmente. Em 16 de dezembro, foi a segunda. A terceira ocorrerá em 16 de janeiro. Para além do distanciamento, a empresa faz um trabalho de observação durante os dias em que os funcionários estão lá, para ver como eles se comportam e se adaptam.
"Fomos pesquisar como podíamos fazer o retorno de forma segura; nossa principal motivação foram os mais jovens", conta. Otto Licks explica que, a partir de um monitoramento, percebeu-se que aqueles que entram no mercado de trabalho neste momento perdem exponencialmente mais do que os que já estavam empregados.
Isso ocorre pelo fato de o ensinamento remoto de processos ser mais difícil e longo por meio de tecnologias, e não presencialmente. "Foi aí que encontramos o Hospital Albert Einstein e a Firjan para nos auxiliar com conhecimento", diz.
E os procedimentos utilizados foram, e estão sendo ainda, extremamente cuidadosos. O escritório, que colocou seus trabalhadores em home office durante 21 meses, cresceu bastante em todas as unidades, com exceção de Tóquio. Por isso, o retorno tem sido cauteloso. Somente com protocolos de segurança, a empresa gastou cerca de R$ 1 milhão.
O escritório piloto é o do Rio de Janeiro, a sede. Por ser o maior local, com número grande de pessoas, se der certo nele, certamente, dará nas filiais. Na empresa do Rio, as janelas não abrem, sendo assim, foi preciso um investimento com filtros de ar dentro do ar condicionado, os mesmos utilizados em aviões. "Investimos em filtros absolutos, que são encontrados dentro de hospitais, que tratam de doentes com covid-19", pontua.
Esses filtros são vendidos em diversos tamanhos. O que define qual é o ideal é a quantidade de pessoas por ambiente. Os menores parecem frigobar, e os maiores, geladeiras duplex. Somente no Rio de Janeiro, há mais de 40 desses. Além dos filtros, há também lâmpadas para conseguir combater a possibilidade de ter vírus dentro do ar condicionado. Mas nada disso adiantaria se os trabalhadores não colaborassem.
Todos precisam colaborar
Todos os dias, antes de irem trabalhar, os funcionários do escritório do Lick Attorneys em Brasília, Rio de Janeiro, Curitiba ou São Paulo precisam responder a um questionário, de casa, com seis perguntas. O sistema avalia as respostas e responde se o trabalhador pode ir ou não à empresa naquele dia. Dependendo do que for obtido, a pessoa pode ficar em casa de três a 14 dias. Esse método de checagem é diretamente ligado ao acesso às portas.
Se uma pessoa que reprovou no teste for para a empresa, o reconhecimento facial da câmera não permite que ela entre, e a porta fica bloqueada de acordo com a quantidade de dias estabelecidos. Além disso, há um termômetro na entrada, caso o funcionário esteja com mais de 37.8º, ele não consegue acessar o local, bem como se ele estiver sem máscara.
O escritório, de fato, é um modelo a ser seguido. Todos os visitantes que precisam ir à empresa, passam por todos os métodos 24 horas antes de comparecer às instalações, e precisam responder ao questionário.
Mas quem pensa que acabou se engana. O funcionário precisa usar duas máscaras cirúrgicas descartáveis por dia. Ao chegar à empresa, ele guarda a máscara que estava em seu rosto, e usa uma dada pelo escritório. As duas proteções cedidas pela empresa riamente são de cores diferentes, sendo uma para a manhã e outra para o período da tarde.
"Antes da consultoria, distribuíamos a máscara n95, mas, segundo a consultoria que fizemos, não há o selo de aprovação. Eles explicam que a n95, para ser usada por muitas horas, exige uma disciplina muito grande. É difícil conseguir uma utilização correta. Já com a máscara cirúrgica, as pessoas não precisam chegar muito perto umas das outras para se ouvirem, o que evita o contato mais direto", explica Otto Licks.
Até agora, com o que pôde ser observado, o ambiente de trabalho ficou mais leve e alegre, segundo o sócio-fundador da empresa de advocacia. "Todos enxergam o benefício de estar com as pessoas que trabalham, em um ambiente profissional correto. Não há a mistura da vida pessoal e profissional o tempo todo", argumenta.
"A gente monitora diariamente e, até agora, é uma experiência de muito sucesso", diz.
O que o home office mais atrapalhou foram os programas de treinamento de profissionais mais jovens. "Com os trabalhadores que estão no escritório há anos, não houve nenhum problema ou impacto negativo", conta. Diferentemente dos que acabaram de entrar, o processo de adaptação demorou muito mais tempo que o normal.
No começo ou no meio da pandemia, ninguém se manifestava pelo retorno presencial. Mas, a partir de março e abril deste ano, esse cenário mudou. "A mudança de opinião do escritório foi essencial para que planejássemos uma retomada", explica Otto.
Ter encontrado o Hospital Albert Einstein e a Firjan para prestarem essa consultoria, foi uma ótima saída para a instituição. "Precisa ser um trabalho de todos, não é só o governo, as empresas, a iniciativa privada. Todos têm que fazer parte para reorganizar a situação caótica. Fazemos tudo que as consultorias determinaram, mas precisamos da colaboração de todos", comenta.