Apesar da pandemia, o mercado editorial tem crescido em 2021. As pessoas têm comprado mais livros e, com a reabertura do comércio, as livrarias têm aberto novas lojas. Ao comparar os números do setor livreiro de 2021 com os de 2019, um ano sem impacto da pandemia, percebe-se uma variação positiva de 31% em volume e de 27% em valor, de acordo com os dados do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel). A mesma pesquisa, feita pela Nielsen, comprovou que o hábito de leitura cresceu em 2021 e mostrou que entre os dias 13 de setembro e 10 de outubro de 2021 foram vendidos 4 milhões de livros, o que representa um aumento de 26,4% em relação ao mesmo período do ano passado. No acumulado de 2021, foram vendidos 40,15 milhões de exemplares, um aumento de 37,54% em volume. Mas como isso se reflete na prática?
Leandro Teles, 45 anos, sócio-diretor da rede de livrarias Leitura, conta que nos quatro primeiros meses de 2021 houve uma queda bem acentuada na venda em livrarias físicas, em torno de 35% no Brasil, porque o fechamento do comércio na pandemia prejudicou as vendas. No entanto, esse número foi melhorando ao longo do ano. Em outubro, a realidade era bem diferente. Nesse mês, houve um crescimento nas vendas que está oscilando em torno de 8%. “À medida em que as atividades foram sendo retomadas, conseguimos sair de uma queda grande para um crescimento real expressivo”, relata.
Ele explica que, tanto em 2020 quanto em 2021, as livrarias físicas sofreram muito com o comércio fechado. Contudo, grandes sites tiveram um crescimento exponencial de vendas, porque a venda do livro migrou para a internet e os sites das livrarias físicas não são os grandes revendedores. “Naturalmente, quem mais se beneficiou foi a Amazon, mas não apenas. Outros como B2W e Magazine Luiza também. Todos esses grandes sites se beneficiaram”, afirma.
Leandro conclui: “O produto livro teve um desempenho muito bom durante a pandemia, porque, seja em loja física seja pela internet, o volume total de livros vendidos em 2021 teve um crescimento muito grande”. Por isso, a tendência do mercado é abrir novas lojas. A rede Leitura, por exemplo, pretende abrir 16 novas unidades e tem a meta de terminar o ano com 94. Mas ele reforça que isso não é exclusivo da leitura, outras redes estão seguindo os mesmos passos: “A Livraria da Vila abriu um número grande este ano, a Página, rede local do Paraná, e a Travessa também. São redes que estão investindo em novas unidades, o que mostra que o mercado de livrarias físicas como um todo está animado”.
O movimento presencial nas lojas tem crescido de forma gradual segundo Leandro Teles. Ele diz que está muito satisfeito e otimista: “Em outubro de 2021, tivemos um crescimento em relação a 2019. O movimento de vendas foi superior a 2019, o que foi uma grata surpresa. Acho que nós teremos um final de ano muito bom”. Parte desse otimismo vem do fato de que para ele as livrarias físicas continuam sendo atraentes. Isso porque os compradores de livros podem conversar com vendedores que entendem do assunto e fazem uma curadoria, podem sugerir livros de interesse. “É também nas lojas físicas que podemos fazer eventos, clube do livro, rodas de discussão”, observa. Ele explica que outro diferencial da livraria física são os eventos de lançamentos. Muitas vezes acompanhados de sessão de autógrafos, esses eventos são responsáveis por 80% das vendas do livro lançado, e são uma oportunidade de os leitores conversarem com o autor. Leandro conta que as lojas físicas também estão se reinventando com a tendência de misturar produtos que conversem com os livros, como itens de papelaria, jogos e produtos de informática.
O mercado de livrarias em Brasília, de acordo com Leandro, sempre foi um mercado extremamente competitivo, caracterizado pela presença de grandes redes: “A gente tinha umas 7 saraivas, 2 culturas, 7 leituras, Nobel, Laselva, FNAC. Todas as grandes redes tinham presença expressiva em Brasília”. Ele conta que a partir da crise econômica entre 2015 e 2016, grandes redes internacionais suspenderam as atividades no Brasil, como a FNAC, e algumas redes nacionais tiveram dificuldade e decretaram recuperação judicial, esse foi o caso da Saraiva e da Livraria Cultura, duas das maiores do mercado. Com isso, desde 2018, houve um fechamento de unidades puxado pela Saraiva e pela Livraria Cultura: “Isso fez as pessoas terem a percepção de que o mercado do livro como um todo estava em declínio, mas os números de 2019 e agora em 2021, mostraram que o problema não era do setor, mas de duas grandes redes que não se adaptaram à crise financeira que o brasil passou, tanto é que outras redes estão ocupando o espaço deixado por elas”. Ele exemplifica que a Leitura abriu loja no ParkShopping e Livraria da Vila vai abrir uma loja no Iguatemi.
O mercado está reagindo, se autorregulando, abrindo novas lojas e continua ocupando os espaços, acreditando no modelo de livraria físicas. “Claro que vai ter que conviver com as vendas nos grandes sites, mas isso é uma tendência do mercado como um todo. O mais importante é que a venda do livro está crescendo. Em 2021 cresceu por todos os canais. A verdade é que a pandemia acabou sendo favorável para o livro. Ele acabou sendo um refúgio. As pessoas ficaram em casa mais tempo e acabaram recorrendo ao livro”, analisa Leandro.
Rui Campos, 68 anos, sócio-diretor da Livraria da Travessa, concorda que o livro se valorizou enquanto objeto na pandemia: “Com o cansaço do eletrônico e da tela, as pessoas abraçaram o livro ainda mais. Ele é o contraponto, a fuga da velocidade”.
Sobre o mercado em Brasília, Rui afirma: “Com essas mudanças do mercado e com Brasília se transformando numa praça em que algumas grandes livrarias saíram, isso abriu uma oportunidade para novas livrarias”. Ele conta que a Travessa vai abrir uma loja em Brasília em 27 de novembro, no CasaPark. Ela terá mil metros e, além dos livros, terá espaço para café, galeria de arte e auditório. Para isso, foi necessário contratar uma equipe. “A gente abriu uma nova loja em Niterói no final de 2020, duplicou o tamanho da loja em Pinheiros e agora está abrindo em Brasília. Tudo isso exige contratação”, comenta.
Ele destaca que a equipe de Brasília passou por diversas entrevistas. Nelas, a empatia dos candidatos foi um critério. “A gente já está com a equipe contratada. Mais de uma dezena de contratações diretas além das indiretas. Eu fui pra Brasília pra conversar com todos. Fiquei bastante satisfeito com as pessoas que a gente contratou”, diz. Entre os profissionais contratados, estão alguns livreiros. Rui observa que essa profissão é bastante sofisticada e exige conhecimento. Pensando nisso, a Travessa buscou pessoas que já tinham experiência no mercado.Apesar de a equipe de Brasília já estar toda contratada, Rui afirma que a Travessa vai adaptar a equipe conforme o movimento: “Espero precisar de crescer a equipe”.
Uma tendência importante do mercado mundial, segundo Rui, é que o setor que mais cresce no mundo dos livros é o infantil e o infanto-juvenil. Isso, para ele, é motivo para ficar animado com o futuro. “O mundo dos jovens e das crianças é muito promissor. Então, vamos ter na loja de Brasília um belíssimo setore infantojuvenil”, afirma.