Em qualquer loja de Portugal, desde a capital Lisboa à miúda vila, ao vilarejo de 200 pessoas, em todas as suas vitrines, está escrito: promoção. Ali indica que, naquele estabelecimento, há uma liquidação. Todos os produtos estão com desconto nos preços. Aqui, durante o ano inteiro, as lojas também fazem suas promoções. Mas, ao contrário de Portugal, terra de Luís de Camões, um dos maiores escritores da literatura lusofona, aqui no Brasil, onde também se fala português (ou se deveria), nas vitrines estão sale off ou apenas sale, palavras da língua inglesa, que significam, também, promoção, oferta, preço reduzido, desconto.
Qual a diferença? Tecnicamente nenhuma. Mas, num país onde cada vez mais as pessoas escrevem e falam menos e mal a própria língua, chega a ser contraditório. E muito estranho. E há uma avalanche de expressões, especialmente em inglês, usadas diariamente, e cada vez mais frequentes, nas relações de trabalho. Em algumas profissões, como na publicidade e na tecnologia, elas chegaram de vez.
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Trabalho virou job; reunião, meeting; ligação, call; retorno, feedback. E por aí vai.
Essas são apenas as mais usadas diariamente, principalmente em redações publicitárias. É tão natural chamar a equipe para fazer meeting, atender uma call, durante a meeting, e perguntar se já houve um feedback sobre aquele assunto ou sobre aquela proposta, que ninguém mais estranha. Incorporou-se. Fora de contexto ficará quem não se encaixar aí. Ou, para não sair do contexto, out (fora).E cuidado para não perder o job (trabalho).
Não há mal em falar inglês. Muito pelo contrário. O domínio da língua — de mais alguma, ou de algumas, além da língua materna — abre portas, garante colocação melhor no mercado e é, num mundo globalizado, muito importante, talvez essencial para quem desejar estar inserido e sobreviver nesse mundo.
A questão, aqui, contra o excesso de estrangeirismos, é que, especificamente num país onde cada vez mais a língua portuguesa é negligenciada, é constrangedor ver pessoas tentando (ou decorando ou sendo obrigadas) compreender palavras ou expressões estrangeiras, quando desconhecem a origem e o sentido da própria língua que deveria falar.
Cada vez que os estrangeirismos ocultam e substituem a nossa língua, o poeta Camões, que já está mortinho da Silva Xavier, há séculos, em Lisboa, revira-se no túmulo a cada desuso da sua língua. Pobre de ti, Camões!
Caetano Veloso, o poeta de Santo Amaro (BA) e do mundo, escreveu o poema Língua, antes que a nossa língua desapareça por estas bandas maltratadas do Atlântico: "Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões (...) gosto do Pessoa na pessoa, da rosa no Rosa..."