Formado em 2017, advogado não consegue emprego

Correio Braziliense
postado em 31/10/2021 06:00 / atualizado em 31/10/2021 06:00

Jefferson Antônio Coelho, 27 anos, é advogado e se formou em 2017. Por falta de oportunidades, atualmente, o profissional é autônomo na área de direito cível e minerário e estuda para concursos desde 2018. O morador de Petrolina (BA) foi estagiário no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) da Bahia. Ele fazia parte do setor de licitação e logística, onde cuidava de questões administrativas como contratos.

O jovem trabalhou como estagiário na Prefeitura de Juazeiro, cidade vizinha de Petrolina. No órgão, ele também fazia parte do setor de licitação, e assessorava a parte jurídica. Inclusive, chegou a cuidar das dispensas de contratos.

De acordo com ele, o mercado de trabalho não está preparado para receber graduados recentes. "Tampouco, recém-formados estão aptos, na maioria das vezes, a serem inseridos no mercado", afirma.

O advogado conta que as faculdades, de forma geral, se comportam como uma "ilha autossuficiente", na qual não há uma integração de atividades do curso com o objetivo de preparar para a prática. O aluno, ao fim da graduação, não se sente pronto para encarar o mundo do trabalho. Segundo ele, isso sempre gera um prejuízo ao formando, que não saberá qual próximo passo a ser tomado por não ter uma experiência concreta.

Apesar de tudo, Jefferson diz estar pronto para assumir uma colocação. "No entanto, dentro de regras objetivas exigidas para ocupar um cargo, sinto que deixo margens para passar uma imagem de despreparado, porque há um excesso de requisitos exigidos previamente em um emprego", pondera.

"É uma necessidade quase fora do normal de experiência prévia ou networking extremamente eficiente para você conseguir uma colocação dentro do mercado, principalmente nesse início de carreira", argumenta o advogado.



Treinamento



Daniela Caetano, gestora do projeto Engajafro, faz a ponte entre profissionais que estão desempregados e empresas. Na proposta, que é voltada para pessoas negras, a especialistas em recursos humanos ajuda no processo de preparação de currículo e criação de LinkedIn. Além disso, a profissional tira dúvidas sobre entrevistas e dinâmicas de processo seletivo. Ou seja, o trabalho da empresa é instruir brasileiros para conseguir um emprego.

"É um deficit que tenho observado na população negra, ela não está no mercado de trabalho. Quanto mais a gente qualificar essas pessoas e deixá-las aptas a exercer cargos, maior será o número de negros em posições de liderança e ingressando em empresas", argumenta.

A gestora também afirma que as universidades não têm preparado bem os alunos para o mercado de trabalho. A grande maioria dos conteúdos são teóricos, mas a parte prática, apesar de ter estágio, está distante e é diferente da "vida real". Ela diz que mesmo que algumas instituições deem mais atenção à vivência prática, ainda é uma exceção.

"Não é em toda experiência que você vai utilizar a parte teórica. As empresas focam mais na questão da prática", afirma. Até por conta disso, segundo Daniela, alguns locais não costumam contratar profissionais sem experiência, por não acreditar no desempenho sozinho da universidade na vida do recém-formado. Ela assegura que não acha irrelevante a graduação, inclusive incentiva que seja feita, mas não pensa também que a formação seja suficiente para conseguir um emprego.

A especialista na área de RH pontua que as instituições de ensino deveriam colocar em debate a questão de como fazer um currículo e passar em uma entrevista de emprego ou processo seletivo. "Na minha universidade tinha uma oficina para o pessoal de RH, da gestão. Eles promoviam essas oficinas, mas não é toda universidade que faz isso e eu acho que é por esse motivo que os profissionais não saem prontos", considera. De acordo com Daniela, o aluno sai preparado na área de conhecimento, no entanto, as habilidades deixam a desejar. (A.L.A) e (M.S.)

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