Josyanne Braga, 31 anos, é graduada em teologia, pós-graduada em educação infantil, tem curso técnico em tecnologia da informação, secretariado, fotografia e design. Mesmo com essas qualificações, está desempregada desde o início de 2020 e, apesar de enviar currículos frequentemente, não é chamada para entrevistas.
Ao falar das experiências que teve, a moça relata que nunca passou em um processo seletivo por mérito próprio. “Os empregos que tive foram por indicação”, conta. Uma das dificuldades enfrentadas por Josyanne está na adequação do currículo à vaga. “Sempre alegam que minha qualificação é demais para o cargo oferecido, então, não sou contratada”, diz. Desde que ficou sabendo disso, dependendo do lugar que envia currículo, coloca como formação somente o ensino médio.
O primeiro emprego de Josyanne foi aos 20 anos, como repórter da Câmara dos Deputados, mas desistiu em pouco tempo porque sofreu assédio e desvio de função. “Fui contratada para trabalhar alimentando as redes sociais e, depois, meu chefe me colocou para cuidar dos filhos dele. Acabei saindo”, relata.
Enquanto cursava pós-graduação, trabalhou em uma escola infantil, numa espécie de regime de estágio. Quando o período acabou, foi dispensada. Depois disso, trabalhou em uma escola de dança por alguns anos como secretária, serviços administrativos, vendedora, produtora de eventos, programadora de site e, além de alimentar as redes da instituição, produziu vídeos e fotografias.
No atual cenário brasileiro de retração do Produto Interno Bruto (PIB) e alto índice de desemprego, Josyanne diz que está disposta a assumir a vaga que aparecer. Enquanto não encontra oportunidade, a teóloga, junto à irmã, à mãe e à avó, criou um ateliê familiar para produzir artesanatos e vender pela internet. Entre os itens produzidos pela família estão amigurumi, tapete, roupa para bebês, peças para adultos e crianças, bolsas, colchas e caixas decoradas. Ou seja, de tudo um pouco.
Sem perspectiva no mercado formal de trabalho, a jovem se dedica ao empreendimento e espera colher bons frutos. Para isso, tem feito cursos de empreendedorismo, vendas e afins com o objetivo de melhorar o negócio da família. “Gostaria mesmo que se tornasse uma empresa de onde posso tirar meu sustento. Por enquanto, faturamos bem pouco, mas estamos nos empenhando e investindo o possível”,
Candidato carismático
Gerson Moraes, 30 anos, é graduado em biologia e mestre em educação pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). Atua como professor no ensino fundamental, médio e pré-vestibular na cidade do Rio de Janeiro.
De cinco processos seletivos para o cargo de professor dos quais participou, passou para quatro. O último não o selecionou, mas ele diz não saber o porquê. “Deu para ver que gostaram muito de mim. Falaram que iam retomar contato, e não deu certo”, diz.
O professor relata que foi bem na seleção para a pós-graduação, a qual gabaritou. “Tirei 100 na entrevista do mestrado, falando quem era, contando por que queria estar ali, qual era meu estudo, meu projeto e, também, colocando os motivos de escolher minha profissão”, lembra.
Para ele, o principal segredo para tantos êxitos em entrevistas é o carisma. Mesmo sendo um espaço sério, é possível demonstrar alto-astral. Segundo Gerson, a hora da seleção é o momento adequado para mostrar quem se é. Mesmo que não caibam brincadeiras, é preciso cooperar, expor bom humor e vontade de estar ali. “O primeiro passo é demonstrar que você é uma pessoa leve”, aconselha.
O professor destaca dois pontos cruciais para a trajetória profissional que tem: o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) — investimento federal do qual participou por quatro anos durante a faculdade — e o projeto comunitário no Centro Educacional de Ações Solidárias da Maré, no qual deu aulas de pré-vestibular.
Saiba Mais
Mas nem sempre a vida profissional foi bem-sucedida. A primeira vez que trabalhou de maneira formal foi em 2016, no Colégio Pedro II, onde entrou por meio de um processo seletivo realizado em 2014. Antes disso, o professor dava aulas em um pré-vestibular comunitário e recebia somente uma bolsa.
A primeira entrevista de emprego dele foi, justamente, a que lhe rendeu o primeiro emprego. Ex-aluno do colégio federal, Gerson conta que estava muito nervoso porque, além de ser sua primeira entrevista, teve receio de se deparar com ex-professores, o que não aconteceu, pois os recrutadores eram desconhecidos, e isso o fez ter mais confiança. Ele conta que se apresentou com calma, explicou sua trajetória e disse por que gosta de lecionar. O biólogo ressalta que é fundamental demonstrar paixão pelo que se faz na hora do recrutamento.
Mesmo confiante e consciente de suas habilidades e defeitos, revela que sempre haverá nervosismo por ser uma experiência nova conduzida por pessoas diferentes, de maneiras variadas. Para o professor, o que o ajuda a melhorar cada vez mais o desempenho é a maturidade que adquiriu nas seleções de emprego. “O tempo de resposta diminui, bem como a insegurança, e a gente assume uma postura mais confiante. Passei a falar de mim sem demonstrar nervosismo, sem gaguejar ou titubear”, afirma.
Gerson também tem uma estratégia que considera infalível. Sempre que é possível escolher o horário para ser entrevistado, ele opta pelo primeiro. “Me esforço para ir bem e deixar elevado o nível da seleção”. Recentemente, recebeu o título de professor destaque do Centro Educacional da Lagoa, o que, para ele, foi cumprir o que prometeu na seleção.
*Sob a supervisão da subeditora Ana Luisa Araujo