formas de trabalho

Qual a melhor forma de trabalho: presencial ou híbrido?

Pesquisa revela que metade das companhias planejam retornar às atividades presenciais ou híbridas somente em 2022

Ana Luisa Araujo. Malu Sousa*
postado em 27/09/2021 19:24 / atualizado em 27/09/2021 20:07
Maria Araújo, 57 anos, voltou a trabalhar em agosto em uma biblioteca da Asa Sul -  (crédito: Carlos Vieira/CB/D.A Press)
Maria Araújo, 57 anos, voltou a trabalhar em agosto em uma biblioteca da Asa Sul - (crédito: Carlos Vieira/CB/D.A Press)

No Brasil, 10% da população completaram o ciclo vacinal contra o coronavírus. Ou seja, tomaram a dose única da vacina, ou as duas necessárias para a imunização. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que o seguro para retomar as atividades é a partir de 70% de indivíduos vacinados. No entanto, algumas empresas voltaram a exigir que seus funcionários trabalhem presencialmente. Um estudo feito em julho e agosto de 2021, pela KPMG consultoria, constatou que metade das instituições que estão em home office voltaram às atividades presenciais ou pretendem voltar neste ano ainda. A outra metade só voltará em 2022.

No primeiro semestre, 66% das empresas tinham interesse em retornar à rotina normal ainda neste ano, contudo, a situação mudou no último levantamento feito. Grandes companhias como Google, Apple, Amazon e Facebook estão seguindo essa linha. A primeira tinha deixado a cargo dos funcionários decidirem se voltariam ou não a trabalhar presencialmente até 10 de janeiro de 2022. A ideia, no começo, era de que, a partir de 18 de outubro, o modelo híbrido fosse implementado para 60% dos trabalhadores. No entanto, a empresa voltou atrás e afirmou que em cada país pode haver uma regra diferente nesse quesito.

Apesar da popularização do home office, o Google anunciou que está comprando um dos edifícios que era alugado pela companhia: o St. John's Terminal, localizado na Washington Street. O prédio custou US$ 2,1 bilhões. Apesar de acreditar que o trabalho a distância continuará sendo muito importante, a empresa diz que seus funcionários precisam ter onde se reunir para trabalhar em conjunto e estreitar os laços.

A pandemia fez cair os preços dos escritórios, e o Google está seguindo uma das regras básicas do mundo dos negócios, comprar enquanto o preço está baixo, pensando a longo prazo.

O banco Bradesco anunciou, na última semana, que retomará suas atividades presenciais, de forma progressiva, a partir de 4 de outubro. Antes, na metade de setembro, o Itaú Unibanco já havia anunciado a volta, também de maneira escalonada.

No serviço público, o Governo do Distrito Federal (GDF) está funcionando presencialmente desde julho. Os trabalhadores do Executivo local precisam ficar alertas. O procurador-geral do DF determinou que o servidor que se recusar a voltar ao trabalho presencial pode ser demitido por abandono de cargo.

De acordo com levantamento da empresa Korn Ferry, de consultoria organizacional, 70% dos entrevistados acham que voltar à rotina de antes da pandemia será difícil e estranho. O levantamento feito em abril deste ano revelou que mais da metade, 55%, se sente estressada somente com a ideia de voltar a trabalhar presencialmente. Do total, 58% reconhecem que não têm coragem de falar que preferem trabalhar remotamente, uma vez que isso poderia prejudicá-los na empresa.

A pesquisa ressalta, ainda, que 74% disseram ter mais energia e foco quando trabalham em casa. Já 49% deles recusariam uma oferta de emprego se tivessem que trabalhar do escritório em tempo integral.

Outro estudo, do Ensino Social Profissionalizante (Espro), constatou que, quanto menos condições financeiras uma pessoa tem, mais chances ela terá de trabalhar presencialmente. A Pesquisa Jovem Covid-19, maior levantamento do país sobre a influência da pandemia na vida pessoal e profissional de jovens entre 15 e 24 anos, mostra que 52% deles estão trabalhando presencialmente.

Readaptação

Maria não se sente segura para retornar ao presencial, mas está trabalhando
Maria não se sente segura para retornar ao presencial, mas está trabalhando (foto: Carlos Vieira/CB/D.A Press)

Maria Araújo, 57 anos, retornou às atividades presenciais no último mês de agosto. Ela é servidora pública e professora da Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF) há 27 anos. Atualmente, trabalha na Biblioteca da EQS 108/308, em Brasília.

Receosa, Maria intensificou os hábitos pessoais de higiene, porque, além de fazer parte do grupo de risco, na família dela há pessoas com comorbidades. Para a servidora, a segurança está sendo conquistada no dia a dia. “Sinto uma ansiedade e um sentimento de impotência diante do pouco conhecimento sobre este vírus”, desabafa.

Não houve proposta de trabalho híbrido para a função que ela desempenha. A servidora se considera uma pessoa privilegiada, pois, raramente, utiliza o transporte público, o que faz com que esteja mais protegida no trajeto de ida e volta do trabalho. Mas não foi o suficiente para impedir que, logo na primeira semana, ela fosse contaminada pela covid-19. Por conta do diagnóstico positivo, ficou 15 dias afastada do serviço. “Tive sintomas considerados leves e acredito que seja porque tomei as duas doses da vacina”.

A professora afirma que o trabalho híbrido é, aparentemente, a melhor forma de diminuir a exposição à covi-19 e, por isso, acredita que esse não é o momento adequado para retornar ao trabalho. Vacinada com as duas doses e contaminada uma vez, ela diz temer se infectar novamente com o vírus.

Ela que, no retorno, houve uma adaptação urgente dos hábitos de higiene diários dos servidores, como uso de álcool gel, medição de temperatura, higienização das mãos, uso de luvas e outros que se fizeram necessários na biblioteca. Segundo ela, os cuidados com a higienização dos livros e materiais são criteriosos, e o distanciamento e o uso de máscaras têm sido respeitados por todos. Mas nem isso evitou que ela pegasse covid-19.

Para a servidora pública, o isolamento trouxe, individualmente, um aprendizado de intensa convivência on-line, um exercício de resiliência e desenvolvimento de novas potencialidades como profissional. No retorno, a dificuldade está sendo persistir nos novos hábitos e cuidar para que os frequentadores da biblioteca compreendam a necessidade de mantê-los. “Confesso que largar o computador trouxe um pouquinho de felicidade, mas com a certeza de que jamais seremos os mesmos” finaliza.

Os pontos fortes

Douglas Souza faz parte da minoria que prefere o trabalho presencial
Douglas Souza faz parte da minoria que prefere o trabalho presencial (foto: Arquivo Pessoal)

Douglas Souza, 30 anos, gerente de tecnologia da informação na empresa We Do Care!, conta que experimentou o modelo presencial e a distância de forma separada. No entanto, nunca teve a oportunidade de ir para o trabalho somente alguns dias da semana — modelo híbrido —, o que ele acre dita ser o ideal.

Antes da pandemia, ele relata que se sentia bastante à vontade na empresa. “Todo mundo junto, conversando, um perto do outro, tudo bem apertadinho. Tinha mais pessoas inclusive”, relata o gerente.

Ele avalia que o cenário afetou os resultados da empresa, por isso, hoje, há menos pessoas do que havia em 2020. Douglas lembra que ficou um bom tempo em home office e, quando voltou, notou, principalmente, a diferença no espaço. As pessoas não ficavam mais tão juntas quanto antes.

“O que mudou mesmo foi o distanciamento; as pessoas estão mais longe umas das outras. Agora, em alguns pontos, tem álcool em gel de fácil acesso, e é obrigatório que todos usem a máscara no ambiente de trabalho, enquanto estiverem lá”, diz.

O gerente de TI afirma que a experiência de home office não foi positiva para a We Do Care!, porque não havia um processo eficaz de checagem de produção dos funcionários. “Hoje, a empresa busca formas de metrificação para verificar o impacto do funcionário em regime home office e presencial. Mas muitos deles ainda não estão prontos”, explica Douglas. Como há essa invalidação, não há previsão de curto, ou médio prazos, de voltar ao trabalho remoto ou mesmo híbrido.

Douglas relata que seu trabalho é possível de ser realizado a distância. No entanto, para ser eficiente como é presencialmente, ele precisaria se esforçar e aprender um pouco mais sobre a dinâmica do home office.

Em questão de preferências, ele é taxativo: “Sou suspeito para falar, gosto de conversar com as pessoas, olhar olho no olho. Isso o trabalho remoto não me oferece”, pondera. De acordo com ele, essa é uma falta que faria diferença no dia a dia. “Esse ponto forte do trabalho presencial ainda fala mais alto para mim”, conclui.

Mobilidade facilitada

Daniel Tocci é entusiasta do home office, porque parou de se estressar com trânsito
Daniel Tocci é entusiasta do home office, porque parou de se estressar com trânsito (foto: Arquivo Pessoal)

Daniel Tocci, 27 anos, é advogado e, há quase três anos, trabalha num escritório de advocacia na capital paulista. Depois que foi decretada a quarentena, o único retorno presencial do escritório de Daniel ocorreu em julho de 2020, quando havia algumas medidas de afrouxamento de restrições. O trabalho presencial seguiu até o começo de 2021 quando foi decidido que seria adotado o modelo híbrido. “Essa forma é bem flexível, por mais que não seja o dia determinado para trabalhar em casa, se surge algum imprevisto, podemos ficar em home office”.

A forma híbrida foi interrompida este ano, em março, quando a segunda onda da pandemia veio e foi decretada quarentena de novo.

O retorno mais recente foi depois da segunda onda, quando os números de casos de mortes em São Paulo se estabilizaram, e o Governo do estado e a prefeitura diminuíram as medidas de restrição. “Voltamos em maio direto para o modelo híbrido, indo alguns dias da semana para o escritório e, em outros, ficando em casa”, conta. Os protocolos seguidos no escritório sempre foram os mesmos: medição de temperatura ao chegar e álcool em gel em todas as dependências da empresa.

Para chegar e voltar do trabalho, Daniel utiliza veículo próprio. “Vou de carro para o trabalho, e o trânsito até melhorou um pouco, agora, saio mais tarde, porque não pego engarrafamento”, afirma o advogado. O jovem se mostra bem adaptado ao modelo híbrido. Segundo ele, nos dias em que está em casa, a rotina é um pouco maleável. Às vezes, Daniel sai de casa para resolver alguma pendência na portaria do prédio dele, ou até mesmo para comprar um item no supermercado.

Sobre a exigência da vacinação no escritório, o advogado afirma que, toda semana, é divulgada uma espécie de ranking interno do escritório, no qual dá para ver quantas pessoas se vacinaram. Daniel garante que pelo menos 100% das que trabalham lá já tomaram pelo menos a primeira dose, e cerca de 60%, as duas.

Desde o início da pandemia, ele tem se cuidado da mesma forma: não frequentando ambientes aglomerados. Além disso, tomou as duas doses da vacina, carrega um frasco de álcool no carro, e tem um em casa e outro, na mesa de trabalho.

Todo mundo precisa trabalhar de máscara no escritório, não há exceção. “A gente se adaptou a essas medidas e exigências de protocolos de saúde, o que foi deixando o trabalho mais tranquilo”, diz. Para o advogado, é satisfatório saber que os colaboradores do escritório, obrigatoriamente, têm que usar máscara, não ficam próximos e nem falam com ele sem máscara.

Daniel defende o modelo híbrido como a melhor forma de trabalho, “porque você tem o melhor dos dois mundos”. Tem a facilidade de estar em casa, de não perder tempo com trânsito, e há liberdade para, em casos de necessidade de ter uma conversa mais direta com alguém, estar no escritório presencialmente.


*Sob a supervisão da subeditora Ana Luisa Araujo

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