Governo e empresários estão animados porque, finalmente, o comércio e os serviços estão se recuperando, segundo empregadores, depois de um longo tempo em recessão. O aquecimento desses setores gerou 24 mil novos empregos em junho, segundo dados da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan). O quadro positivo aumentou o Índice de Confiança do Empresário do Comércio do Distrito Federal (Icec-DF), que chegou à marca de 110,4 pontos no último mês.
O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio), José Aparecido Freire, avalia que uma série de fatores influenciam diretamente na criação de novos postos de trabalho. Sendo eles, o crescimento da intenção de consumo, o aumento da confiança do empresário e o avanço da vacinação contra o novo coronavírus.
Para Freire, o ciclo acontece da seguinte maneira: a população, encorajada pela vacinação, passa a demonstrar maior intenção de compra, e os empresários, ao verem as vendas aquecidas ficam confiantes em ampliar seus negócios e consequentemente novas vagas no mercado de trabalho são abertas.
O indicador, que chegou à marca de 110,4 pontos em relação à confiança do empresário no comércio do DF, está numa escala que vai de 0 a 200. O estudo, realizado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), considera a percepção do empresário no momento presente da economia. Além disso, leva em conta as expectativas sobre o futuro de curto prazo e capta as intenções de contratação de funcionários, investimentos e níveis de estoques. Em julho de 2020, o índice era de 69,8. O aumento em um ano foi de 58,1%. Atualmente, o Icec-DF encontra-se na zona de satisfação.
O total de pessoas empregadas no setor privado do Distrito Federal, que era de 218 mil em dezembro de 2020, passou para 242 mil em junho de 2021, registrando alta de 11%. Somente no comércio, foram criadas 24 mil novas ocupações. Divulgada no fim do mês de julho, a Pesquisa de Emprego e Desemprego no Distrito Federal (PED-DF), realizada pela Codeplan em parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), apresentou dados animadores.
Saiba Mais
No último ano, o número de desempregados caiu, e em contrapartida, foram abertos 146 mil novos postos de trabalho. A oferta de empregos se deu, principalmente, nas áreas de comércio e reparação, construção, indústria de transformação e serviços. Outro dado que se destaca é o percentual de ocupados, que aumentou. Isso ocorreu porque foram criados mais postos de trabalho, do que fechados.
Em relação a junho de 2020, o número de empregados cresceu 12,3%, o que representa 1.336 mil pessoas, em junho de 2021. Os setores que mais contribuíram para esse avanço no decorrer do último ano foram a construção com 53,2%, o comércio e reparação com 18,6%, indústria de transformação com 11,9% e os serviços, com 8,4%. O rendimento médio dos salários aumentou apenas para os trabalhadores autônomos, em 19,1% , houve alta também no comércio e reparação (5,5%).
Jusçânio de Souza, gerente de pesquisas socioeconômicas da Codeplan, diz que as expectativas são boas e devem superar os resultados do primeiro semestre. “As performances melhorarão no que diz respeito à abertura de novas vagas de trabalho, principalmente, com as duas sazonalidades positivas que vêm por aí: outubro, com o Dia das Crianças, e as festas de fim de ano”, conta.
Conquista
Entre as estatísticas está Maria Fernanda Barbosa, 19 anos. Nessa idade, ela conseguiu o primeiro emprego e, com ele, pagou sua escola de direção para obter a carteira de motorista, comprou um novo celular e começará a pagar a faculdade de contabilidade no Centro Universitário do Distrito Federal (UDF).
A jovem trabalha num quiosque de um shopping vendendo jóias.“Estava entregando bastante currículo desde que fiz 18 anos e não conseguia nada”, relata Maria Fernanda.
Antes do Natal de 2020, uma funcionária foi demitida da loja em que Maria Fernanda trabalha. Uma tia soube da vaga e avisou a sobrinha. A jovem procurou a loja e se ofereceu para ajudar nas vendas do feriado. A primeira experiência que ela teve foi como auxiliar, durante seis dias. Depois disso, duas pessoas foram contratadas e demitidas e ela teve a chance de ser chamada para trabalhar na loja. Houve uma renovação no quadro de funcionários, além de demissões e contratações.
Residente do Novo Gama, em Goiás, Maria Fernanda leva 40 minutos todos os dias para chegar ao trabalho, que fica no Distrito Federal. Conforme seu relato, após se formar no ensino médio, no ano passado, fez um curso rápido e gratuito na área de vendas na cidade em que mora. “Eu sempre quis trabalhar com vendas, mas nunca conseguia”, declara a vendedora.
A jovem comemora o fato de trabalhar em um local que gosta, e ter um relacionamento bom não só com os funcionários, mas, também, com os clientes. “As vendas estão sendo boas para mim, além de vender bastante, conheço muita gente nova. Eu me dou bem com a minha chefe, que é mais ou menos da minha idade, temos assuntos em comum. Tem sido uma experiência muito boa”, conta.
A vida ficou mais doce para elas
Vender doces é o que ela sabe fazer. Luciane Amaral, 24 anos, trabalhava em uma loja de chocolate até o segundo mês da pandemia: abril de 2020. Infelizmente, a vendedora foi demitida, e com o seguro-desemprego, resolveu visitar sua mãe no Amapá por alguns meses, porque não a via há algum tempo.
“A pandemia trouxe coisas boas e ruins. Por um lado, fiquei desempregada, mas consegui ver minha mãe que não via havia sete anos e, fui capaz de me despedir dela. Assim como eu ganhei ela, eu me despedi também”, conta a atendente. A mãe de Luciane, infelizmente, faleceu por complicações da covid-19.
Contudo, há outra parte boa nessa história. Porque, assim que voltou do Amapá, em outubro, a jovem conseguiu uma nova ocupação. Seu antigo emprego ficava no Sudoeste e, bem perto da loja, ficava a Maria Amélia Doces. A sócia do local era cliente próxima de Luciane. Assim que soube que a atendente estava desempregada, quis contratá-la para a função.
Sua rotina é cansativa. Apesar de sair do Itapoã às 9h35 e chegar no trabalho às 11h, ela passa mais tempo esperando um ônibus do que no trajeto. Geralmente, pega dois ônibus: um, para a Rodoviária do Plano Piloto e, outro, para o Sudoeste.
“Eu tive medo demais de não conseguir outro emprego, tinha fechado tudo. Antes da pandemia o número de vagas já estava caindo. Eu fiquei desesperada, com medo mesmo de não conseguir uma ocupação de forma rápida, porque pago aluguel”, desabafa a vendedora.
De acordo com ela, o diferencial que há na atual loja em que trabalha é a proximidade que tem com a dona. “No meu antigo emprego não havia compreensão. Eu mal conversava com os donos, aqui eu tenho contato sempre com a gerente do local. Ela está sempre presente”, afirma.
Colega de trabalho de Luciane, Larissa Henrique, 25 anos, pensa o mesmo do local. A vendedora trabalha durante a semana, mas não deixa de fazer um curso de tanatopraxia e um dia por semana precisa sair um pouco mais cedo para ir presencialmente ao local, o que não é um impedimento no trabalho.
Diferentemente da colega, Larissa ficou sete meses desempregada na pandemia, mas, por sorte, recebeu auxílio-emergencial do governo, o que a ajudou. Seu currículo é extenso: trabalhou na Casa do Pão de Queijo; foi massoterapeuta na Vila Planalto e no Lago Norte; depois, voltou a ser atendente na Maria Amélia Doces da Asa Sul e foi estagiária na loja de Águas Claras.
Como o movimento aumentou, os proprietários da loja, que já conheciam Larissa, a colocaram na loja do Sudoeste e, em janeiro deste ano, ela voltou a trabalhar. “É um pouco cansativo conciliar, mas eu tenho conseguido e concluo o curso no fim de outubro. No dia que eu tenho aula, saio um pouco mais cedo para poder chegar a tempo”, afirma.
Carteira assinada
Lucas de Oliveira, 21, troca tela de celulares, conserta computadores e tablets, atende os clientes, além de fazer alguns orçamentos. O jovem está entre os novos empregados do comércio em 2021. Ele está há quase dois meses na GTech, loja que faz reparos de aparelhos eletrônicos, além de vender alguns acessórios.
Por enquanto, Lucas diz trabalhar informalmente, isso quer dizer que sua carteira não é assinada, e o acordo feito entre funcionário e patrão é de que o vendedor receberia semanalmente. “É difícil estar na minha idade trabalhar, e não contribuir para a Previdência Social. Queria poder estar pagando INSS e tendo FGTS”, afirma.
A expectativa, conta ele, é de que, completados dois meses de experiência, seu chefe o contrate e assine sua carteira. Sua rotina é de segunda a sábado, das 9h às 18h, com exceção do sábado, quando ele sai às 15h. Apesar de, às vezes, ser cansativo, segundo ele, é melhor do que passar esse período trancado em casa.
E a experiência tem sido recompensadora. “Muitos senhores de idade vêm aqui pedir algum conserto ou ajuda bem simples. O fato de aqui não ser uma lan house, e, sim, uma loja de informática, sempre atendemos esse tipo de cliente. Quando resolvemos coisas simples, eles ficam emocionados”, conta Lucas de Oliveira.
*Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Luisa Araujo