O desemprego atingiu em cheio a vida de Ângela Marques, 53 anos, cuja profissão sofreu impacto logo no início da pandemia. Ela era motorista de transporte escolar. Com a suspensão das aulas, a trabalhadora ficou sem renda e teve que voltar atrás no consórcio de uma casa que havia começado a pagar.
Para tentar amenizar o dano causado pela falta do salário, a motorista tentou fazer “bicos” e chegou a comprar, usando seu CNPJ, roupas de cama para revender. “Foram meses difíceis, meu marido também era motorista de transporte escolar e, por isso, os dois ficaram sem emprego. Graças a Deus, meus filhos, que estão na faculdade, me ajudaram um pouco”, conta.
Há oito meses, ela conseguiu uma vaga de motorista no Laboratório Sabin. Ângela transporta amostras biológicas das unidades de Brasília para o Setor de Armazenagem e Abastecimento Norte (SAAN). Apesar de ganhar bem menos agora, hoje tem benefícios que não tinha antes como autônoma. A empresa oferece plano de saúde, auxílio alimentação e auxílio transporte.
“Aqui, me sinto valorizada. Todos os meses posso contar com meu trabalho e salário, tirando o fato de que, no fim do ano, receberei o décimo terceiro”, diz.
Um aspecto positivo da nova vida é o tempo que ganhou. Antes, seu antigo emprego ocupava o dia. Hoje, a realidade é outra: Ângela tem espaço para cuidar de si mesma.
Marly Vidal, diretora administrativa e de pessoas do Grupo Sabin, conta que é importante valorizar a experiência, o conhecimento e o repertório. Para ela, é estratégico promover um ambiente pautado na empatia, no diálogo e na colaboração. Profissionais sêniores são fundamentais no alinhamento com as novas gerações quanto aos diferentes contextos da organização que, às vezes, requerem soluções inusitadas.
“Pessoas mais velhas possibilitam a troca de experiências entre as multigerações, disseminam e fortalecem uma cultura de alto desempenho”, afirma a diretora Marly. Ângela Marques conta que trabalha com jovens que têm idade para serem filhos dela. Mas, ainda assim, a motorista diz que não encontrou dificuldades para se adaptar, e afirma ser muito respeitada por eles.
Ângela Marques, 53 anos
Mecânico feliz
Há apenas quatro meses no atual emprego, Valtair Rodrigues, 41 anos, afirma que, em sua nova caminhada, “cada dia é um aprendizado a mais”. Contratado da Votorantim Cimentos, localizada em Sobradinho II, região de Brasília, o mecânico conta que trabalhar com profissionais diversos tem agregado à sua experiência.
Valtair estava empregado na área de mecânica até quatro anos atás, mas já fez parte da equipe de manutenção. Mesmo tendo parado em 2019 para ser motorista de aplicativo, a vontade dele era de voltar a trabalhar no ramo. Hoje, está alocado na área preventiva, ou seja, ele tem o cuidado de checar máquinas para que não ocorram problemas.
O mecânico, que mora a 10 minutos de carro de sua empresa e vai de moto quase todos os dias, lembra que trabalhou como terceirizado. Entretanto, os benefícios do contrato direto com a empresa são mais vantajosos. “Como terceirizado, você não tem reconhecimento, de certa forma. Não há suporte ou apoio”, diz.
Gerente de restaurante
A gerente do restaurante Sabor Glacê, localizado em frente ao Parque da Cidade de Brasília, Josilene Pereira, 51 anos, está há quase um ano na empresa. Ela conta que conhecia a dona por já trabalhar no ramo. As duas eram próximas antes mesmo de a profissional trabalhar ali.
A proprietária do local conhecia o trabalho da gerente. Josilene, inclusive, foi quem indicou outra funcionária que está empregada no restaurante. “Queria trabalhar aqui antes da pandemia. Resolvi sair do antigo emprego, no fim do ano passado, e vir para cá”, conta.
A profissional que Josilene havia indicado foi quem a chamou para mudar de restaurante. “Quando recebi o convite fiquei animada e tive mais motivos para vir para cá, porque ela era alguém com quem eu tinha vontade de trabalhar junto”, lembra.
De acordo com Maria Helena Brizolim, 67 anos, dona do Sabor Glacê, os maiores impasses sempre ocorrem com funcionários mais jovens. Segundo a empresária, pessoas mais velhas conseguem resolver problemas que os novos não são capazes, ou não têm a expertise ainda.
Segundo a proprietária do estabelecimento, esse grupo prefere trabalhar diretamente com alimentos a desempenhar a função de atendente. A empresária afirma que o pique desse grupo, com mais de 40 anos, muitas vezes, se compara ao dos mais novos. “Não vejo problema algum em trabalhar com pessoas mais velhas, esta semana mesmo contratei um funcionário que tem 48 anos”, afirma Maria Helena.
"Queria trabalhar aqui antes da pandemia. Resolvi sair do meu antigo emprego no fim do ano passado, e vir para cá"
Josilene Pereira, gerente do Sabor Glacê