A mineira Luísa de Souza Rocha Camargos, 27 anos, é a primeira relações públicas formada no Brasil com síndrome de Down, segundo o Conselho Regional de Profissionais de Relações Públicas de Minas Gerais. A trajetória de Luísa é inspiração e referência para as pessoas com a síndrome no país. além de colocar em xeque a recente declaração do ministro da Educação, Milton Ribeiro, de que as crianças com deficiência 'atrapalham' os outros alunos nas escolas.
LuÍsa conta que viu nos estudos a oportunidade de realizar um sonho: "Sou bem comunicativa e gosto muito de conversar. Pesquisei muito sobre o mercado de trabalho e diversas faculdades antes de começar o curso. No ambiente acadêmico, fui acolhida pelos professores da Faculdade Pitágoras. Concluir o curso foi uma realização", conta.
Para ela, a fala do ministro não está certa: “Estudei, ne formei em curso superior e nunca atrapalhei ninguém”, revela.
Dados do Movimento Down, o Brasil conta com mais de 270 mil pessoas com essa síndrome e apenas 74 concluíram o ensino superior. A jovem Luísa, que se formou em agosto de 2019 e foi convidada para trabalhar em uma empresa de comunicação logo após concluir o curso, afirma que o ensino superior promoveu uma verdadeira transformação em sua vida: "Graças ao estudo, tive a oportunidade de me profissionalizar, conhecer pessoas e fazer amizades. Desde que me formei, trabalho na área que escolhi para a minha vida profissional", revela.
A jovem conta que entrou na universidade por meio do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em 2015 , e logo se apaixonou pelo curso. Para obter essa conquista, ela diz que sempre estudou muito e, por isso, ficou honrada e feliz por ser a primeira RP com síndrome de Down. Após a formatura, ela foi contratada e não parou, conseguiu fazer amigos e superar os desafios que surgiram. Luísa também foi aluna com destaque acadêmico do curso.
Os objetivos de Luísa ainda são muitos. Ela deseja, por exemplo, fazer uma pós-graduação, trabalhar para se qualificar na área, realizar o mestrado, doutorado e MBA. Sonha também tirar a carteira de motorista, morar só e fazer um intercâmbio.
O Plano Nacional de Educação, aprovado em 2014, lista 20 metas a serem alcançadas em 10 anos e, uma delas, é a inclusão de pessoas com deficiência. Marisa de Souza Rocha Camargos, mãe da RP Luísa, acompanha de perto toda a trajetória da filha e afirma que é muito importante que pessoas com deficiência tenham oportunidades de estudar e trabalhar. "A graduação foi um passo gigantesco na vida da Luísa. Ela é um orgulho e um exemplo. É preciso desmistificar a visão de que a sociedade tem das pessoas com deficiência. Elas precisam de incentivo e estímulo para realizar seus sonhos", diz Marisa.
*Estagiária sob supervisão de Ana Sá