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Especialistas dão dicas de como conquistar vaga de trainee

Profissionais que foram trainees, e recrutadores, falam da importância do processo e qual a melhor maneira de passar

Ana Luisa Araujo
postado em 28/06/2021 20:14 / atualizado em 28/06/2021 20:14
Segundo o professor Rodrigo Berghahn, uma das dicas cruciais é estar aberto a mudanças
 -  (crédito: Arquivo Pessoal)
Segundo o professor Rodrigo Berghahn, uma das dicas cruciais é estar aberto a mudanças - (crédito: Arquivo Pessoal)

É comum que empresas exijam de seus candidatos experiências complexas para um cargo de início de carreira, mas, para obter prática, é preciso que uma oportunidade seja aberta, não é mesmo? A boa notícia é que algumas organizações têm passado a adotar outro tipo de política, não exigindo de uma pessoa que acabou de sair da faculdade um conhecimento de anos. Afinal, um recém-formado pode não ter muita bagagem, mas ele tem características que podem ser aproveitadas, como força de vontade, disposição e uma memória fresca de aprendizados.

É difícil entrar no mercado de trabalho, mas esse processo pode não ser tão sofrido devido a um programa feito especialmente para aqueles que estão começando. Trabalhar em uma grande empresa como trainee pode, além de oferecer um primeiro emprego, uma prospecção que um cargo comum não proporciona.

Geralmente, os processos são longos, alguns vão levar até seis meses para a escolha de um candidato. Mas a estrutura tradicional é a fase de inscrição, na qual as empresas selecionam perfis que têm a ver com as vagas. A segunda etapa é onde os conhecimentos de raciocínio lógico e inglês são testados. A terceira e última fase é aquela que envolve dinâmicas em grupo e entrevista com gestores. Quando o trainee é selecionado, normalmente, ele passa por um período de dois a três meses em cada área da empresa para poder conhecê-la.

De acordo com Rodrigo Berghahn, 41 anos, coordenador pedagógico e consultor de franquias do Centro de Formação Minds de Idiomas, o candidato, para estar bem posicionado em um programa, precisa pelo menos ter o nível intermediário de inglês.

“Os recrutadores estão procurando pessoas que ofereçam diferenciais, e eles não necessariamente exigem experiência”, argumenta. As empresas não estão em busca de trainees que estejam prontos, para o coordenador, afinal, eles serão profissionais em treinamento, mas procuram por indivíduos que tenham competências diferentes para acrescentar à empresa. Segundo ele, é “fácil” ensinar a uma pessoa a forma de trabalhar adequada para cada cargo, mas o diferencial estaria no que um funcionário novo poderia agregar à organização, com suas particularidades.

Essas habilidades incomuns, segundo a Minds, podem fazer um candidato conquistar salários excelentes, que variam de R$ 4.500 a R$ 6.400.

Aberto a mudanças

Lisa Cardoso, gerente regional de gestão Centro Oeste-Norte da Ambev, diz que a empresa não exige mais o inglês como habilidade no processo de recrutamento
Lisa Cardoso, gerente regional de gestão Centro Oeste-Norte da Ambev, diz que a empresa não exige mais o inglês como habilidade no processo de recrutamento (foto: Arquivo Pessoal)

Rodrigo Berghan explica, também, sobre a questão do inglês. É simples ensinar a alguém como trabalhar adequadamente em um cargo se comparar isso a passar todo o conhecimento de inglês a uma pessoa. Mostrar como funciona uma língua é diferente de indicar a alguém como faz para tramitar um processo, por exemplo. São níveis de complexidade distintos.

Segundo ele, uma das dicas cruciais é estar aberto a mudanças, porque o mercado vai modificar toda hora, e o candidato precisa estar disponível a agir e a realizar cursos rápidos para se especializar. Rodrigo Berghahn ainda afirma que é essencial estar bem desenvolvido de maneira socioemocional, e que ess e é um dos requisitos primordiais que a gestão de pessoas das empresas tem cobrado dos candidatos.

A Ambev, em 2020, modificou radicalmente o seu processo de trainee e retirou a obrigatoriedade de algumas habilidades, como o domínio de inglês, com objetivo de deixá-lo mais inclusivo, “passando a valorizar mais as histórias e trajetórias únicas de cada candidato”, diz a gerente regional de gestão Centro Oeste-Norte da empresa Lisa Cardoso, 37 anos (foto).

Para Gustavo Orlandi, os candidatos devem buscar programas de trainee que tenham a ver com eles
Para Gustavo Orlandi, os candidatos devem buscar programas de trainee que tenham a ver com eles (foto: Arquivo Pessoal)

Ela ainda informa que a companhia oferece, agora, bolsa de estudos do idioma aos que são aceitos no programa e criou uma plataforma de capacitação digital. Lisa informa que há diversos trainees das últimas edições trabalhando na empresa, alguns deles, inclusive, assumindo cargos de liderança, como é o caso de Gustavo Orlandi, 27 anos, atual gerente-comercial do Distrito Federal. A última foi recorde de inscrições, conforme ela conta, chegando a 120 mil. “Isso mostra que estamos no caminho certo”.

No Centro Brasileiro de Cursos Profissionalizantes (Cebrac) ainda não há uma vaga destinada à trainee, mas a gerente de recursos humanos da empresa, Jéssica Nayara Giustino, 29 anos, está começando a implantar o programa, porque consegue enxergar a importância e validade dele. “Tem o objetivo de fazer o desenvolvimento de novos talentos, recém-formados, ou que estão finalizando o curso. São pessoas que têm um gás maior, que podem potencializar e desenvolver uma capacidade técnica dentro da empresa”, explica Jéssica.

Ela alerta que a vaga do Cebrac deve estar aberta para contratação no início de julho. A empresa, que funciona como uma prateleira de cursos para outras empresas, abrirá uma oportunidade para a área de negócios, a qual envolve parte comercial, processo de consultoria, além de secretaria e atendimento.

Como funciona na prática

A CEO do Centro de Formação Minds de Idiomas, Leiza Oliveira, 43 anos, afirma que o processo de trainee é um método interessante para se começar dentro de uma empresa, justamente em razão do conhecimento obtido nos meses de treinamento, nos quais o indivíduo aprende tudo sobre a empresa, porque trabalha em vários setores dela.

“Desde o início, eu tive a experiência de ser trainee numa empresa, e isso me chamou muita atenção, porque eu era jovem, saí da faculdade e passei por todos os setores. Você conhece toda a empresa, e foi isso que eu trouxe para cá (para a Minds), acreditando no jovem, tanto aquele que está estudando, quanto aquele que está perdido, que acabou de sair da faculdade. Ele traz muitas ideias, está muito fresco, ele quer tentar colocar em prática aquilo que estudou”, explica. “Trazer a novidade e juntar às regras da empresa, isso é muito bom”, diz Leiza.

Luma Costa é trainee da Energiza, companhia do setor elétrico
Luma Costa é trainee da Energiza, companhia do setor elétrico (foto: Arquivo Pessoal)

Luma Costa, 23 anos, morava em Brasília quando decidiu se aventurar na vida de trainee. A jovem conta que, só no processo dela, havia quinze mil candidaturas, no qual ela e mais oito pessoas foram escolhidas no começo deste ano, em janeiro. Hoje, ela trabalha em Aracaju na Energiza, uma companhia do setor elétrico

“A primeira etapa foi o teste cultural e de lógica, depois disso tivemos uma dinâmica em grupo, avaliada pelos recursos humanos da empresa. Na última etapa, então, fui avaliada pelos vice-presidentes e CEO da empresa”, conta Luma, afirmando que não houve nenhuma etapa individual.

Ela sempre pensou em ocupar cargo de gestão e viu que o caminho mais fácil era por meio de um programa de trainee, foi aí que ela resolveu tentar entrar em um. Luma se formou em engenharia elétrica na Universidade de Brasília (UnB), e escolheu a Energiza, pois outras mulheres já haviam passado e se tornado gestoras, e ela se agradou com a diversidade.

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. (foto: Reprodução)

O gerente comercial do Distrito Federal da Ambev, e ex-trainee da companhia Gustavo Orlandi, aconselha às pessoas buscarem por um programa de uma empresa que admirem. “Não procure um processo pelo selo trainee. Procure porque você admira a empresa, e porque tem vontade de investir nela. O maior erro que se pode ter é moldar um personagem para passar no programa, seis meses depois, você vai perceber que está em um ambiente que não te agrada e vai gerar insatisfação. É sobre autoconhecimento e alinhamento com a cultura, antes do selo de trainee”.

Quando Rodrigo Berghahn, coordenador pedagógico da Minds, afirmou que é necessário haver um diferencial ele não estava errado. Gustavo constata isso como ex-trainee e atual gerente da Ambev. “As empresas buscam nos talentos a vontade, o alinhamento cultural e a diferença que você como talento pode trazer para elas. O que te torna único ou única? O que te diferencia?“, questiona.

O currículo tem uma lista de itens que diz quais são suas capacidades, mas mais importante do que isso é entender o que motiva alguém a buscá-las. O jovem aconselha que é essencial estar atento ao que você aprende no processo, e o que molda a pessoa enquanto ela chega até seu objetivo.


Salários de trainees

Nestlé - Salário aproximado de R$ 6.400

Ambev - Salário aproximado de R$ 6.100

IBM - Salário aproximado de R$ 4.500

JBS - Salário aproximado de R$ 5.900

Usiminas - Salário aproximado de R$ 5.100

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