Coluna Saber

Dilemas de carreira

Pessoas no começo da carreira, e também aquelas com certa experiência, têm dificuldade em definir qual será o próximo passo a tomar e se ele será o mais adequado

Ana Machado
colunista
postado em 06/06/2021 14:45 / atualizado em 06/06/2021 14:45
 (crédito: Reprodução)
(crédito: Reprodução)

Recentemente, tenho observado pessoas em diferentes etapas de sua jornada profissional a viver um dilema parecido: o que eu devo fazer da minha carreira? De jovens no auge dos seus 17 anos, às vésperas do vestibular, a profissionais com muita bagagem na faixa dos 50, ambos deparando-se com as incertezas de escolher ou redefinir qual caminho profissional seguir.

Equilibrar todos os aspectos que são importantes em uma profissão por vezes parece um quebra-cabeças no qual algumas peças estão sempre faltando, ou foram feitas para não se encaixarem perfeitamente com as outras. Ao optar por uma carreira com remuneração competitiva, podemos estar abrindo mão de uma rotina de trabalho equilibrada com a vida pessoal, ou de seguir propósitos nobres que não nos rendem tanto dinheiro assim. Do mesmo modo, podemos escolher trabalhar para uma organização que nos ofereça flexibilidade, mas que não tenha uma missão com a qual estejamos completamente comprometidos.

Fazer o que se ama. Ser bom e se destacar no que faz. Ganhar dinheiro suficiente para viver confortavelmente e realizar sonhos materiais. Ter flexibilidade. Se relacionar bem com a liderança e colegas de trabalho. Ser reconhecido pelo trabalho que realiza. Aprender novas habilidades. Crescer na carreira. Mudar o mundo. Impactar a sociedade. Deixar a sua marca no universo. Ser famoso, respeitado, requisitado. São inúmeros os desejos, por vezes simultâneos, que tentamos conciliar ao escolher nossos caminhos profissionais.

O que talvez já esteja nítido nas entrelinhas, vou deixar explícito agora: é praticamente inviável tentar equilibrar tantos objetivos distintos e muitas vezes divergentes. O primeiro passo para resolver o dilema é nos autoconhecer, entendendo quais aspectos são indispensáveis para nós. Quanto mais conflitantes eles forem, maior será o desafio de tentar combiná-los de uma maneira satisfatória. Mas o exercício é válido para entendermos como tomar melhores decisões, aumentando as chances de atingir os resultados almejados.

Dependendo da fase da vida na qual estivermos, o enquadramento do desafio muda. Aos jovens que estão prestes a começar a sua vida profissional, o aspecto mais importante é escolher algo que gostem e desperte a sua curiosidade. Se possível, fazer escolhas que ampliem as possibilidades de testar diferentes assuntos, evitando decisões muito rígidas que limitem os interesses e experiências que são fundamentais para entender o que de fato se quer, do que se gosta e o que se faz bem. Caso seja necessário corrigir a rota, saibam que não há nenhum problema, pelo contrário. Se pessoas maduras se veem em encruzilhadas profissionais após anos de trabalho, não é de se espantar que estudantes de graduação descubram após alguns semestres que aquele não é o curso certo para eles. Por isso, à juventude, fica a dica: não tenham medo - explorem, testem, aprendam e corrijam a rota. Essa é a melhor fase para se fazer isso.

Aos profissionais mais maduros, ou na metade de sua carreira, a decisão por vezes envolve compromissos maiores e se torna mais complexa. Após identificar quais são as prioridades, já aceitando que raramente conseguimos equilibrar tudo que nos é caro, é necessário escolher com consciência e procurar caminhos que se encaixem em nossos objetivos. O desafio aqui é muito maior, porque as opções disponíveis e o que elas significam nem sempre são tão claras e estruturadas como uma lista de profissões a qual escolher. Por vezes os dilemas envolvem empreender ou não um novo negócio, escolher entre envolver-se com iniciativas completamente diferentes, optar por ficar onde está ou mudar de localidade, abrir mão de alguma reserva financeira para arriscar na realização de um novo projeto, entre outros.

Nem sempre a trilha a se percorrer estará clara, mas a jornada também se constrói ao caminhar. Mesmo que não visualizemos de forma nítida o destino final, devemos continuar dando um passo de cada vez. Eventualmente, fazer pausas. Esperar o tempo de maturação natural das decisões importantes. Em um mundo cada vez mais acelerado, por vezes esquecemos que os ciclos precisam ser respeitados. Aos que vivem dilemas de carreira, confortem-se: além de não estarem sozinhos, essa situação é cada vez mais normal em todas as etapas da vida. Com sabedoria, paciência e uma pitada de autoconhecimento, chegaremos lá.


"Nem sempre a trilha a se percorrer estará clara, mas a jornada também se constrói ao caminhar. Mesmo que não visualizemos de forma nítida o destino final..."


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