Dia da Mulher

Mercado é mais difícil para mulheres trans do que para homens trans

Projeto inovador promove empregabilidade de pessoas transgêneros. A TransEmpregos têm banco de dados para travestis e transexuais que buscam inserção no mercado

Vitórian Tito*
postado em 07/03/2021 16:23 / atualizado em 07/03/2021 17:05
'Mulheres transexuais enfrentam, ainda, mais barreiras para se inserir no mercado profissional
'Mulheres transexuais enfrentam, ainda, mais barreiras para se inserir no mercado profissional" Maite Schneider, cofundadora de banco de talentos de pessoas trans - (crédito: Cibele Barreto/Divulgação)

A curitibana e mulher transexual Maite Schneider, 39 anos, viu no mundo dos negócios uma possibilidade de abrir portas. Embaixadora da Rede Mulher Empreendedora, ela é uma das fundadoras da TransEmpregos, banco de talentos para auxiliar pessoas transgênero, transexuais e travestis a entrar no mercado de trabalho e capacitar empresas na pauta da diversidade. A iniciativa surgiu há sete anos.

Apaixonada por direito penal, Maite começou sua trajetória acadêmica no curso de direito, o qual cursou até o quinto semestre depois de entrar em depressão por não conseguir estágio num mercado preconceituoso. Para ela, a TransEmpregos é um projeto para mudar o cenário de empregabilidade no Brasil e permitir que pessoas trans, assim como ela, encontrem possibilidades de inserção.

Em 1º de março, a organização comemorou a marca de 777 empresas parceiras. A empresária conta que a falta de conhecimento sobre pessoas transexuais é um dos grandes desafios a se vencer. “Eu acredito que diversidade seja uma dádiva. Quando se leva conhecimento, tudo fica mais tranquilo.”

Em 2020, a plataforma on-line da TransEmpregos registrou aumento de 315% no número de usuários. Foram abertas 1.419 vagas e, no período de um ano, 794 profissionais foram empregados. Maite também explica que as barreiras em oportunidades não são por falta de competência: 40,2% daqueles cadastrados no site têm graduação, mestrado ou doutorado.



Desafio feminino

“Mulheres transexuais enfrentam ainda mais barreiras para se inserir no mercado profissional”, reflete Maite. Dos currículos apurados pela plataforma, 47,2% são de homens e apenas 29% são de mulheres. Maite entende que essa disparidade é resultado de um duplo preconceito sofrido por mulheres trans: primeiro pela questão de identidade e, em segundo lugar, pela questão de gênero.

“A gente nota que mulheres têm um início mais difícil por causa da educação. Homens trans conseguem se capacitar e se manter mais tempo nos bancos escolares”, conta. O preconceito em idade escolar é, para ela, um dos motivos da evasão de mulheres transexuais do sistema de ensino. E isso dificulta, posteriormente, a inserção no mercado de trabalho.

“Normalmente, como no meu caso, as mulheres trans são tidas como a mariquinha, como eu era chamada. Então, eu tinha isso na minha cabeça, de que mulher era aquela que chorava, assim, não me defendia e não queria voltar a estudar”, diz.

Para esse Dia Internacional da Mulher, Maite manda um recado para todas as mulheres: “Confie em você, estamos no meio de uma revolução. Orgulhe-se da pessoa que você se torna e tente, cada vez mais, ser uma versão melhorada da sua existência. Não tenha vergonha, nunca, de quem você é”.



Projeto voluntário

A TransEmpregos é um projeto totalmente gratuito para empresas e profissionais. A companhia nasceu com o objetivo de encerrar as atividades em 15 anos. “O sucesso do nosso projeto é quando ele for falido, quando as empresas entenderem que competência e talentos não têm nada a ver com identidade, orientação, credo ou raça”, conta Maite.

A empresária entende que ainda falta muito para que mulheres transexuais ocupem cargos de liderança. “Uma das maiores inserções hoje, não só de profissionais trans, mas de qualquer um desses grupos que estão excluídos do processo societário e, consequentemente, de inserção no mercado de trabalho, são os programas de jovem aprendiz, estagiários e trainees”, diz.

Ela se alegra por visualizar, aos poucos, mudanças. “Hoje em dia, uma pessoa trans que esteja em uma faculdade não fica como eu, que fiquei sem estágio. Ela consegue estágio, sim, vai trabalhar em uma empresa, vai conseguir ascensão, vai conseguir crescer naquilo que sonha. Então isso está acontecendo”, comemora.

Saiba mais / Acesse no site www.transempregos.org


*Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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