Dia da Mulher

Mulheres custam mais a ser promovidas; empreendedorismo é alternativa

Mesmo nas empresas mais inclusivas, existem desequilíbrios a superar. Trabalhadoras recorrem a abrir um negócio para construir a própria trajetória de liderança

Vitórian Tito*
postado em 07/03/2021 15:33 / atualizado em 07/03/2021 17:03
Os caminhos para conquistar cargos de gestão ainda são mais difíceis para elas. Mesmo nas empresas mais inclusivas, existem desequilíbrios a superar. Por isso, muitas trabalhadoras optam por abrir um negócio próprio, nos quais podem construir uma trajetória de liderança -  (crédito: Reprodução)
Os caminhos para conquistar cargos de gestão ainda são mais difíceis para elas. Mesmo nas empresas mais inclusivas, existem desequilíbrios a superar. Por isso, muitas trabalhadoras optam por abrir um negócio próprio, nos quais podem construir uma trajetória de liderança - (crédito: Reprodução)

No 51º Dia Internacional da Mulher, amanhã, há conquistas a celebrar, sim, mas quando o assunto é mercado de trabalho, falta muito a avançar. Pesquisas demonstram que ainda existe um longo caminho a percorrer para alcançar oportunidades iguais, especialmente em cargos de chefia.

Desde 1970, o 8 de março simboliza a luta histórica de mulheres por equidade. Mais do que flores e parabéns, o marco é um lembrete dos direitos adquiridos e daqueles que ainda faltam alcançar. Machismo, violência, desigualdade salarial e disparidade de possibilidades no mercado de trabalho são pontos a serem trabalhados no mundo contemporâneo.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres representam 52,6% da população em idade ativa (PIA). Elas representam 43,8% da força de trabalho ocupada e 37,4% dos cargos gerenciais. Na faixa dos 20% dos trabalhadores com maiores salários, elas são apenas 22,3% do total, contra 77,3% de homens. Em 2019, as mulheres ganharam o equivalente a 77,7% do rendimento médio dos homens.

E não é por falta de capacitação. Segundo dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC), 54% dos estudantes em cursos de pós-graduação no Brasil, em 2019, eram do sexo feminino. Em 2020, as pesquisadoras representaram 58% do total de bolsistas stricto sensu da fundação.

A busca por mais estudo pode ter a ver, também, com as disparidades: 73,7% das mulheres sentem que precisam ser mais qualificadas do que os homens para ter uma oportunidade de cargo de liderança. O dado é de levantamento com 3 mil trabalhadoras feito pelo InfoJobs, site de emprego. A pesquisa mostra ainda que mais da metade das mulheres já enfrentaram preconceito no mercado de trabalho.

As mulheres costumam ganhar menos, mesmo em funções semelhantes. O levantamento do InfoJobs investigou 10 áreas de atuação e descobriu que as faixas salariais maiores têm predominância de homens, especialmente em administração e RH. Os trabalhadores, em geral, esperam ganhar mais que elas. Em relação aos cargos de liderança, 2,3% das mulheres esperam ganhar acima de R$ 10 mil, contra 5,2% dos homens.

Radiografia de gênero

A cultura de inclusão de gênero está crescendo, e as empresas estão contratando mais profissionais mulheres do que demitindo. O resultado é do Índice Bloomberg de Igualdade de Gênero 2021 ou GEI (Gender-Equality Index), da Bloomberg, empresa de tecnologia e dados para o mercado financeiro.

A pesquisa traz informações relacionadas à promoção da igualdade de gênero em empresas de capital aberto e avalia critérios como liderança feminina, paridade salarial e cultura inclusiva.

Entre as marcas no índice, 69% têm uma estratégia para recrutamento de mulheres e 59% revisam a remuneração baseada em gênero. Entre as companhias do índice, 52% exigem uma lista de candidatos com várias opções para seleção em cargos de gestão. Além disso, 61% têm um diretor de diversidade ou executivo responsável por inclusão.

Do total, 85% das funcionárias permanecem no emprego após a licença-maternidade. Mais da metade das organizações (65%) oferecem salas de amamentação e 46% destinam subsídios para creches ou outro apoio financeiro. Em 2020, no retorno ao trabalho após a licença-maternidade, 82% mantinham o cargo e a disponibilidade de salas de amamentação era de 69%.

Os conselhos das organizações presentes no índice são compostos por 29% de mulheres. A pesquisa mostra que colocar uma mulher numa função de gestão tem efeito transformador para impulsionar o crescimento de mais mulheres. Em 2020, as organizações lideradas por mulheres relataram ter mais trabalhadoras entre os 10% mais bem remunerados em relação a empresas lideradas por homens.

As companhias sinalizaram, em média, 39% de mulheres em funções geradoras de receita que, além de serem muito importantes, são posições em departamentos como vendas e que geram faturamento.



Sobre o estudo

As empresas devem encorajar a igualdade de gênero porque é bom para os negócios" Patricia Torres, chefe global de soluções financeiras sustentáveis de consultoria
As empresas devem encorajar a igualdade de gênero porque é bom para os negócios" Patricia Torres, chefe global de soluções financeiras sustentáveis de consultoria (foto: Bloomberg/Divulgação)

Patricia Torres, chefe global de Soluções Financeiras Sustentáveis da Bloomberg, explica que as organizações incluídas no GEI são aquelas que pontuam acima de um limite estabelecido globalmente com relação ao desempenho em políticas de inclusão e diversidade.

“As empresas devem encorajar a igualdade de gênero porque é bom para os negócios”, defende Patricia. “A pesquisa mostrou que a promoção de um ambiente de trabalho inclusivo aumenta a produtividade, o que, na última análise, contribui para os resultados financeiros da empresa”, explica.

A lista da Bloomberg não é um ranking, mas aparecer nela é um bom indício sobre a performance na luta por igualdade de gênero. No total, foram selecionadas 380 empresas com sede em 44 países para integrar o índice.

Aparecem nove instituições brasileiras: Bradesco, SulAmérica, Braskem, Odontoprev, BB Seguridade, Companhia de Gás de São Paulo (Comgás), Itaú, Cosan e Eletrobrás. Na edição anterior, o relatório listou 325 companhias e apenas quatro eram brasileiras: Bradesco, BB Seguridade, Itaú e Odontroprev.

Patricia explica que as empresas participantes ganham a chance de fazer um balanço das próprias iniciativas quanto à igualdade de gênero. Aparecer na lista é um bom sinal, mas ainda há muito trabalho a fazer.

Das 380 companhias listadas, a pontuação média de excelência na pauta de inclusão chegou a apenas 55% de um total de 100. Para fazer esse cálculo, são analisados os seguintes pilares: liderança feminina e banco de talentos, paridade salarial, cultura inclusiva, políticas contra assédio sexual e marca pró-mulheres.


Trajetória de sucesso

Luciana Campos foi promovida grávida e hoje é gerente de diversidade
Luciana Campos foi promovida grávida e hoje é gerente de diversidade (foto: SM2 Fotografia/Divulgação)

Luciana Campos, 39 anos, está na mesma empresa há 13 anos. Formada em relações internacionais com MBA em gestão e desenvolvimento organizacional, ela entrou no banco Itaú em 2007, como analista. Hoje, é gerente de Diversidade, Empreendedorismo e Negócios Inclusivos, atuando em São Paulo.

A questão de gênero se tornou latente durante a maternidade, quando já ocupava um cargo de gerente. “Foi a primeira vez em que eu me senti dividida e cobrada, até por mim mesma, pelo fato de ser mulher. Então, a maternidade me trouxe isso”, explica.

Profissionalmente, a decisão de ser mãe não impactou a trajetória. Grávida, fez entrevista para ocupar o atual cargo e avisou ao entrevistador sobre a gestação. Como resposta, recebeu os parabéns e a garantia de que não haveria mudanças na avaliação dela.

Apesar disso, Luciana entende que essa não é uma realidade recorrente. Por isso, defende ações para impulsionar uma cultura organizacional mais inclusiva.

Entre algumas das iniciativas nesse sentido, ela menciona o programa de mentoria que o Itaú lançou em 2020, voltado para gerentes e superintendentes entenderem quais serão os próximos passos. Além disso, também acredita na importância de programas que deem voz às mulheres e ações dentro e fora da empresa.

Esta é a quinta vez que o Itaú aparece no índice de igualdade de gênero da Bloomberg. “É resultado de toda essa agenda institucional voltada para a diversidade que já vem de muitos anos e que é, de fato, uma estratégia”, afirma Luciana.

“Tudo isso mostra, de forma concreta, para a organização como um todo, para as mulheres e para o mercado (pensando nas mulheres que querem trabalhar aqui dentro da organização) que temos, de fato, uma estratégia de igualdade de gênero e que isso é importante para o banco”, comemora.

 


*Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação