Os mandamentos da entrevista on-line
Confira dicas para mandar bem numa conversa virtual para seleção de estágio, trainee ou emprego. As orientações são de Ronaldo Bahia, CEO e fundador da JobConvo; Renata Honda, supervisora do Centro de Integração Empresa Escola (Ciee) One; Ana Carolina Oliveira, gerente sênior de RH da ADP; e Miriam Rodrigues, coordenadora do Centro de Educação a Distância e professora da área de comportamento organizacional no Centro de Ciências Sociais e Aplicadas (CCSA) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM):
Antes da entrevista
1- Não se esqueça de estudar a companhia para a qual está se candidatando, conhecer sua missão e, principalmente, seus valores, de forma a se sentir confortável para tecer comentários e mostrar identidade com o negócio. Leia sobre a empresa, o que ela faz, quantos funcionários tem, quanto fatura, principais produtos, divisões / áreas de negócio.
2- Elabore uma ou duas perguntas sobre o que pesquisou para demonstrar interesse; recrutadores gostam de ver isso nos candidatos.
3- Durante a entrevista, os recrutadores costumam fazer perguntas relacionadas a trabalhos anteriores e projetos desenvolvidos, conhecimentos técnicos, autoconhecimento, liderança, relacionamento interpessoal, méritos e objetivos profissionais e perfil, a fim de detectar os pontos fortes e os que ainda necessitam de aprimoramento. Antes da entrevista, prepare uma lista com os principais tópicos relacionados a estes assuntos.
4 - As entrevistas, na maioria das vezes, passaram a ser on-line, mas a equação de sucesso continua a mesma: calma, conhecimento, objetividade, foco, segurança, experiências e competências. A tranquilidade é necessária tanto para falar com o recrutador quanto para o ambiente ao redor. Apesar das inseguranças e receios que uma avaliação pode causar, é importante manter a calma e, neste contexto, o ambiente colabora muito. O lugar precisa ser silencioso, ventilado e sem distrações.
5- Organize seu histórico profissional e acadêmico. Além de saber quais são seus interesses e objetivos é importante para o momento da conversa. Nós sempre nos preparamos física e emocionalmente para as coisas que são importantes e, com uma seleção de emprego, não deve ser diferente. Se não nos prepararmos, temos que improvisar, o que pode aumentar o risco de não dar certo. Questões que podem ser consideradas menores fazem diferença. Qualquer imprevisto pode acabar afetando o desempenho na seleção, então vale se precaver e estar num ambiente sem interrupções.
6- Em uma entrevista on-line, garantir que todos os equipamentos e computadores estejam em funcionamento, bem como certificar-se de uma boa conexão com a internet, são passos de fundamental importância.
7- Também vale ter atenção redobrada em relação à plataforma de videoconferência. São muitas opções de softwares e plataformas de vídeo. O candidato deve se antecipar, fazer o download do programa exigido pela empresa e testar seu áudio e vídeo. Verifique sua habilidade com a ferramenta a ser utilizada, seja Skype, Teams, Google Meets, Zoom, etc. Deixar isso para a última hora pode ser perigoso.
8- Em relação ao fundo, a recomendação é que seja algo neutro, preferencialmente uma parede branca.
9- A câmera deve ser posicionada na altura dos olhos e o ideal é usar um apoio caso o candidato esteja usando o telefone celular.
10- Use uma vestimenta adequada. Independentemente se está em casa ou no escritório da entrevista, é uma entrevista, afinal de contas.
Saiba Mais
Durante a entrevista
1- Respire fundo e dê o melhor de si! Encare a entrevista como um processo de aprendizado, de autoconhecimento. Viva com felicidade este momento, pois é uma importante oportunidade que você conquistou. Num contexto de alto desemprego, até mesmo ser chamado para uma entrevista é motivo para comemorar.
2- O candidato deve sempre demonstrar interesse e deixar claro por que acredita ter o perfil desejado para aquela oportunidade. Isso não muda.
3- Demonstre atenção às orientações e perguntas dos entrevistadores durante o processo seletivo.
4- Tom de voz: é importante se atentar para nem gritar, tampouco falar muito baixo. Um tom de voz que demonstre firmeza nas respostas, porém tranquilidade, é uma forma de o recrutador entender melhor o que o candidato está dizendo.
5- Busque responder às perguntas de forma construtiva, considerando início, meio e fim nos argumentos. Independentemente do tempo de duração, é importante que o candidato mostre objetividade e segurança, destacando o que é realmente relevante para a vaga almejada.
6- Saiba qual é o seu diferencial e não se esqueça de mostrar no dia da entrevista! Todos nós precisamos saber no que realmente somos bons e encontrar o melhor momento para expressar isso na entrevista: seja uma experiência específica, um projeto especial, seja uma conquista da empresa que foi fruto de um trabalho.
7- Embora os equipamentos falem mais alto neste momento, é muito importante papel e caneta em mãos, tanto para as anotações de direcionamentos passados pelo recrutador quanto para não deixar que as boas ideias ou assuntos importantes se percam no transcorrer da conversa.
8- O tempo de conversa com um candidato pode variar de uma empresa para outra, mas reserve pelo menos 30 minutos para fazer sua entrevista, caso ela seja virtual ou gravada em vídeo.
9- Bom senso e atenção devem estar presentes não apenas na entrevista, mas no processo seletivo como um todo. Qualquer comportamento que não seja condizente a uma postura profissional e interessada deve ser evitado. A começar pelo linguajar (nem formal demais e muito menos coloquial demais) e pela apresentação pessoal (roupas, cabelo, maquiagem).
10- Cuidado com gestos e posturas que não condizem com o momento: ficar olhando para o celular (o ideal é desligar), mascar chiclete, se debruçar sobre a mesa, fazer piadinhas ou tocar em assuntos sensíveis (política e religião, por exemplo) sem ser perguntado sobre isso são comportamentos fora de cogitação.
Candidatos contam como passaram na entrevista
A psicóloga e estudante de design gráfico Mariana Diniz, 30 anos, participou pela primeira vez de um processo seletivo on-line para uma vaga de estagiária no Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) e, graças aos cuidados tomados, conseguiu a oportunidade.
Ela explica que a experiência do diálogo remoto foi um pouco mais descontraída que a dinâmica presencial, sobretudo no momento de apresentação de habilidades. “O recrutador tinha o meu currículo e portfólio expostos na tela, e foi me pedindo para explicar e comentar os tópicos, dos detalhes às questões mais simples. Nas entrevistas presenciais, é tudo muito mais formal”, acredita.
Mariana aposta em falar apenas o necessário para evitar errar. “Respondo somente o que o entrevistador me pergunta. Se eu perceber que a pessoa que está me entrevistando é tranquila e aberta, fico mais à vontade e expando mais o diálogo, comento sobre o que fiz e o que planejo para o futuro”, revela.
Antes da entrevista, Mariana compartilha que se preparou da mesma forma que se prepararia para uma sessão convencional, prestando atenção, também, aos detalhes ao seu redor e conexão. “Eu me arrumei como se fosse para uma entrevista presencial, deixei todo o ambiente que apareceria no vídeo organizado e arrumado”, diz.
Nervosismo em dobro
O estudante de ciências sociais Diego Rodrigues, 20, conta que se sentiu ainda mais ansioso e nervoso em sua primeira entrevista por videoconferência, mas tentou controlar as situações externas e internas que poderiam atrapalhar seu desempenho. “Em entrevistas presenciais, eu costumava agir com mais calma e confiança, e essa foi outra dimensão”, admite.
O jovem foi entrevistado para uma vaga de estágio na Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan). Para driblar o nervosismo, ele abusou da sinceridade e do bom humor, apesar da ansiedade, conseguiu a oportunidade no local.
Contato telefônico
A estudante de sistemas de informação Fernanda Mota, 23, participou de um processo seletivo via telefone para vaga de estagiária em backend na empresa de aplicativos personalizados Mob Apps. Ela conta que não precisou se preocupar com os aspectos visuais cobrados.
No entanto, a jovem relata que, mesmo assim, se preparou bastante para um bom desempenho sonoro. “Pratiquei o meu discurso e a minha entonação, para ser o mais objetiva possível e passar confiança”, conta. O esforço foi recompensado e Fernanda foi escolhida para a vaga.
A aparência importa
Embora a entrevista seja a distância e o contato mediado por uma plataforma virtual, impossibilitando o olho no olho físico e as percepções que só uma entrevista presencial proporciona, preocupar-se com a apresentação visual em uma entrevista remota é igualmente importante.
Jacqueline Resch, consultora de RH, enfatiza a boa apresentação e a importância do estilo profissional do candidato, o qual precisa combinar com o perfil da empresa e transparecer seriedade e responsabilidade.
Na maioria das entrevistas remotas, o que aparece é o rosto do candidato e o ambiente onde ele está. Esse fundo que aparece na tela, de acordo com Jacqueline, também expressa alguma essência da pessoa.
Por isso, ela explica que, de preferência, o cenário deve ser neutro ou, no máximo, com algum elemento que não polua o visual ou possa desviar a atenção do entrevistador daquilo que o candidato está relatando.
“A mesma lógica se aplica à vestimenta, que deve priorizar peças com o mínimo de informação e distração visual”, acrescenta. Pode parecer óbvio, mas outra dica é: vista-se da cabeça aos pés. Já são vários os casos de gafes registradas por aí em que, por algum motivo, o candidato foi pego, literalmente, de calça curta quando precisou se levantar da cadeira por algum motivo.
Ronaldo Bahia reforça que “conhecer o perfil do empregador é fundamental para escolher o que vestir” na ocasião. “Imagine que o recrutador peça ao candidato para gravar uma vídeo-entrevista para uma oportunidade na área comercial de uma empresa do setor de consultoria financeira”, diz. “Empresas desse setor costumam ser bem tradicionais na vestimenta, homens, por exemplo, usam terno e gravata. Portanto, vista-se adequadamente”, indica.
Games são tendência em recrutamento
Para além da videoconferência, há outros formatos que podem ter adotados em seleções virtuais. Desde testes, redações e exercícios a até jogos e desafios e auxílio de inteligência artificial. Há empresas que apostam na gamificação para conhecer melhor os candidatos tanto no processo de recrutamento, quanto depois, durante o treinamento.
Renato Garcia, diretor publicitário da rede educacional Minds Idiomas, usa a gameficação durante a seleção e a capacitação de novos funcionários. A rede investiu em inteligência artificial para interpretar melhor os resultados dos jogos. Renato cita três motivos principais para usar esse recurso:
O candidato ideal não existe, porém, com os jogos, você o aproxima da marca e dos valores da empresa
“Toda marca tem como norte sua visão, missão e valores. Há uma cultura que deve ser seguida dentro da empresa. Por meio dos games, conseguimos aproximar os valores dos funcionários e futuros candidatos da cultura organizacional Minds. A partir da gamificação, selecionamos os perfis que se enquadram melhor para determinadas funções. Os candidatos conseguem participar do processo seletivo de forma remota, e os games vêm para ajudar neste processo de seleção a distância.”
Otimização de tempo
“Muitas vezes, abrimos uma vaga e somos inundados com muitos currículos e precisamos de horas para que eles sejam triados no RH. Com o game, essa etapa é realizada automaticamente, otimizando o tempo dos recrutadores e da empresa. Selecionando os perfis por meio de habilidades e competências socioemocionais, a vaga é preenchida por quem realmente dá ‘match’ conosco.”
Dados e devolutivas pautáveis
“Como o aplicativo de games gera dados, podemos analisar se o nosso processo tem algum entrave, se estamos no nível esperado e no tempo fixado para contratação. Além disso, conseguimos mandar, de maneira mais assertiva, o comunicado aos candidatos que passaram no processo e aqueles que foram eliminados com os motivos da negativa. Assim, o feedback fica coerente, rápido e pode-se dar a chance de os candidatos enxergarem os seus pontos positivos e negativos.”
*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa