A pandemia impactou todos os processos seletivos de alguma maneira. Boa parte das seleções passou a ter etapas on-line. Além disso, a crise mudou a maneira pela qual os recrutadores enxergam os candidatos. Pessoas que, mesmo em meio a dificuldades, se aprimoraram por meio de cursos e não se estagnaram pela pandemia estão um passo à frente por demonstrarem a habilidade de resiliência.
Até mesmo a maneira de encarar a crise faz diferença. Para Rose Mary Barbosa, sócia e diretora da empresa de recrutamento e seleção Soma Desenvolvimento, o segredo é olhar a pandemia com olhos de oportunidade. “Então, o fato é que a maioria está, sim, em um mesmo momento ruim, mas, o que muda é a atitude diante deste cenário”, comenta.
Isso não quer dizer que é preciso achar que o momento é bom ou que precisa fazer algo incrível. Não parar já é um começo. “Não adianta querer abraçar o mundo e achar que tem que fazer algo gigante para sair do problema. É justamente o contrário: é preciso fazer o pouco que tem condições, mas com qualidade e com continuidade”, afirma a pedagoga.
Se as soft skills, ou habilidades socioemocionais, já estavam em alta antes da covid-19, agora, tornam-se ainda mais importantes nas seleções. Empatia, colaboratividade, disciplina, comprometimento, organização e inteligência emocional são algumas delas. Essas habilidades são bastante requisitadas em processos seletivos e ainda mais valorizadas agora.
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Equilíbrio
Fernanda Campos, gerente da consultoria Energy People, acredita que o candidato com boa comunicação ganha destaque. Além disso, habilidades da personalidade são cada vez mais requisitadas em detrimento de requisitos técnicos. “O equilíbrio emocional, o bom senso e a atitude positiva ganharam força, além de resiliência, flexibilidade, espírito colaborativo e empatia”, ressalta.
Ela observa que um grande desafio tem sido equilibrar os aspectos pessoal e profissional da vida. “Conciliar tudo isso é a grande questão: é preciso criar rotina e agenda diária, aliando resultados laborais com qualidade de vida. É imprescindível ter disciplina, planejamento e comprometimento para que tudo saia bem”, afirma.
Além de observar isso nos candidatos antes de contratar, Fernanda alinha expectativas dos dois lados para não gerar frustrações. Com o trabalho home office em alta é ainda mais fundamental recrutar gente preparada. “Quanto mais liberdade se tem para trabalhar de forma independente, maior a responsabilidade e a necessidade de se organizar e respeitar regras”, pondera Fernanda.
Em busca de resiliência
A diretora de RH da Mercado Eletrônico, Adriana Oliveira, conta que valoriza essa capacidade na hora de recrutar. “A gente mudou a forma de contratar. Por sermos uma empresa de internet, estamos sempre inovando. Para nós, era muito importante que o candidato demonstrasse resiliência no processo seletivo”, afirma.
Quem mostra que consegue trabalhar em harmonia em todos os cenários (incluindo home office) e que é colaborativo ganha pontos. Por isso, Adriana Oliveira costuma perguntar, nos processos seletivos, se a pessoa divide tarefas domésticas com os familiares. “Eu pergunto para saber como o candidato se comporta, se é alguém colaborativo ou se é alguém que ‘faz o dele e acabou’. Como somos uma empresa colaborativa, esse é um diferencial no nosso contexto.”
Outra característica importante é a atitude do candidato em relação à carreira. Buscar, por conta própria, aprimorar a formação com cursos e pedindo auxílio dos gestores é bem-visto. Dentro da Mercado Eletrônico por exemplo, o protagonismo para se aperfeiçoar é analisado na seleção.
“A carreira não é o gestor que define, é o colaborador. Buscar essas características no processo seletivo é fundamental, porque essa pessoa tem que ter uma capacidade de fazer a coisa acontecer”, ressalta Adriana. Segundo ela, esse protagonismo também vem acompanhando de maior produtividade.
Empregado com visão positiva
O estudante de gestão ambiental do câmpus Planaltina da UnB Luis Oliveira, 23, passou por um processo seletivo de emprego durante a pandemia e conseguiu uma vaga de agente comercial. Ele se considera uma pessoa bastante focada e tenta extrair os pontos positivos de qualquer situação. Para ele, quem lida com esse ambiente de notícias da covid-19 todos os dias e controla as emoções tem mais chances nas seleções.
“As empresas, hoje, estão buscando pessoas que têm inteligência emocional. Então, se você, em situações de estresse, consegue contornar e lidar com a situação, sairá na frente. Porque, no dia a dia na empresa, você vai ter problemas e a empresa não vai conseguir mensurar você senão pelos seus resultados”, afirma.
Demonstrando soft skills
O fisioterapeuta Vitor de Castro, 28 anos, procura outro emprego para melhorar as experiências profissionais. Ele atua em uma empresa de pilates e teve o salário e a carga horária reduzidos durante seis meses. Atualmente, voltou à jornada original. Vitor participou de dois processos seletivos e acredita que a adaptabilidade é um requisito de destaque. “Vejo que o profissional de RH avalia muito esse ponto da postura do profissional e como ele se afeta por questões externas”, diz.
Fernanda Teles, 38, perdeu o emprego durante a pandemia. A psicóloga estava desempregada desde maio e participou de quatro processos seletivos. “O feedback que recebi de uma empresa foi que eles estavam procurando pessoas com mais capacidade de inovação”, explica.
Ela não desanima e sabe que as pessoas que estão se destacando na pandemia são aquelas focadas em aprimorar os conhecimentos. É isso que Fernanda está fazendo. A psicóloga investiu em cursos e workshops on-line de vendas, design thinking, empreendedorismo e coaching. “Tem pessoas que estão realmente se isolando e entrando no looping negativo. E tem pessoas que estão pegando a pandemia e transformando isso em oportunidades, que é o meu caso”, afirma.
Sem retorno positivo nos processos seletivos, Fernanda não ficou parada e passou a oferecer consultoria de RH e atendimentos de coaching, thetahealing (técnica de meditação) e barra de access (terapia quântica), de maneira autônoma, desde setembro. “Eu cansei de ficar esperando e comecei a pensar em alternativas. Como eu já tinha essas formações, comecei a me posicionar dessa forma no mercado”, conta.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa