Adaptabilidade à pandemia

Quem encara a pandemia com resiliência pode se destacar na recolocação

Para especialista de recursos humanos, candidatos flexíveis que aproveitam as oportunidades do momento se sobressaem nos processos seletivos

Isabela Oliveira*
postado em 03/01/2021 14:56 / atualizado em 04/01/2021 10:52
Rose Mary Barbosa, sócia e diretora da empresa de recrutamento e seleção, diz que é preciso enxergar o momento com olhos de oportunidade -  (crédito: Arquivo Pessoal)
Rose Mary Barbosa, sócia e diretora da empresa de recrutamento e seleção, diz que é preciso enxergar o momento com olhos de oportunidade - (crédito: Arquivo Pessoal)

A pandemia impactou todos os processos seletivos de alguma maneira. Boa parte das seleções passou a ter etapas on-line. Além disso, a crise mudou a maneira pela qual os recrutadores enxergam os candidatos. Pessoas que, mesmo em meio a dificuldades, se aprimoraram por meio de cursos e não se estagnaram pela pandemia estão um passo à frente por demonstrarem a habilidade de resiliência.

Até mesmo a maneira de encarar a crise faz diferença. Para Rose Mary Barbosa, sócia e diretora da empresa de recrutamento e seleção Soma Desenvolvimento, o segredo é olhar a pandemia com olhos de oportunidade. “Então, o fato é que a maioria está, sim, em um mesmo momento ruim, mas, o que muda é a atitude diante deste cenário”, comenta.

Isso não quer dizer que é preciso achar que o momento é bom ou que precisa fazer algo incrível. Não parar já é um começo. “Não adianta querer abraçar o mundo e achar que tem que fazer algo gigante para sair do problema. É justamente o contrário: é preciso fazer o pouco que tem condições, mas com qualidade e com continuidade”, afirma a pedagoga.

Se as soft skills, ou habilidades socioemocionais, já estavam em alta antes da covid-19, agora, tornam-se ainda mais importantes nas seleções. Empatia, colaboratividade, disciplina, comprometimento, organização e inteligência emocional são algumas delas. Essas habilidades são bastante requisitadas em processos seletivos e ainda mais valorizadas agora.

Equilíbrio


Fernanda Campos, gerente da consultoria Energy People, acredita que o candidato com boa comunicação ganha destaque. Além disso, habilidades da personalidade são cada vez mais requisitadas em detrimento de requisitos técnicos. “O equilíbrio emocional, o bom senso e a atitude positiva ganharam força, além de resiliência, flexibilidade, espírito colaborativo e empatia”, ressalta.

Ela observa que um grande desafio tem sido equilibrar os aspectos pessoal e profissional da vida. “Conciliar tudo isso é a grande questão: é preciso criar rotina e agenda diária, aliando resultados laborais com qualidade de vida. É imprescindível ter disciplina, planejamento e comprometimento para que tudo saia bem”, afirma.

Além de observar isso nos candidatos antes de contratar, Fernanda alinha expectativas dos dois lados para não gerar frustrações. Com o trabalho home office em alta é ainda mais fundamental recrutar gente preparada. “Quanto mais liberdade se tem para trabalhar de forma independente, maior a responsabilidade e a necessidade de se organizar e respeitar regras”, pondera Fernanda.

Em busca de resiliência

Adriana Oliveira, diretora de RH, valoriza resiliência e colaboração
Adriana Oliveira, diretora de RH, valoriza resiliência e colaboração (foto: Arquivo Pessoal)

A diretora de RH da Mercado Eletrônico, Adriana Oliveira, conta que valoriza essa capacidade na hora de recrutar. “A gente mudou a forma de contratar. Por sermos uma empresa de internet, estamos sempre inovando. Para nós, era muito importante que o candidato demonstrasse resiliência no processo seletivo”, afirma.

Quem mostra que consegue trabalhar em harmonia em todos os cenários (incluindo home office) e que é colaborativo ganha pontos. Por isso, Adriana Oliveira costuma perguntar, nos processos seletivos, se a pessoa divide tarefas domésticas com os familiares. “Eu pergunto para saber como o candidato se comporta, se é alguém colaborativo ou se é alguém que ‘faz o dele e acabou’. Como somos uma empresa colaborativa, esse é um diferencial no nosso contexto.”

Outra característica importante é a atitude do candidato em relação à carreira. Buscar, por conta própria, aprimorar a formação com cursos e pedindo auxílio dos gestores é bem-visto. Dentro da Mercado Eletrônico por exemplo, o protagonismo para se aperfeiçoar é analisado na seleção.

“A carreira não é o gestor que define, é o colaborador. Buscar essas características no processo seletivo é fundamental, porque essa pessoa tem que ter uma capacidade de fazer a coisa acontecer”, ressalta Adriana. Segundo ela, esse protagonismo também vem acompanhando de maior produtividade.

Empregado com visão positiva

Luis Oliveira, agente comercial e estudante de gestão ambiental, conseguiu emprego durante a pandemia: visão positiva ajuda
Luis Oliveira, agente comercial e estudante de gestão ambiental, conseguiu emprego durante a pandemia: visão positiva ajuda (foto: Arquivo Pessoal)

O estudante de gestão ambiental do câmpus Planaltina da UnB Luis Oliveira, 23, passou por um processo seletivo de emprego durante a pandemia e conseguiu uma vaga de agente comercial. Ele se considera uma pessoa bastante focada e tenta extrair os pontos positivos de qualquer situação. Para ele, quem lida com esse ambiente de notícias da covid-19 todos os dias e controla as emoções tem mais chances nas seleções.

“As empresas, hoje, estão buscando pessoas que têm inteligência emocional. Então, se você, em situações de estresse, consegue contornar e lidar com a situação, sairá na frente. Porque, no dia a dia na empresa, você vai ter problemas e a empresa não vai conseguir mensurar você senão pelos seus resultados”, afirma.

Demonstrando soft skills

Vitor de Castro, fisioterapeuta, percebe que recrutadores procuram candidatos com adaptabilidade
Vitor de Castro, fisioterapeuta, percebe que recrutadores procuram candidatos com adaptabilidade (foto: Arquivo Pessoal)

O fisioterapeuta Vitor de Castro, 28 anos, procura outro emprego para melhorar as experiências profissionais. Ele atua em uma empresa de pilates e teve o salário e a carga horária reduzidos durante seis meses. Atualmente, voltou à jornada original. Vitor participou de dois processos seletivos e acredita que a adaptabilidade é um requisito de destaque. “Vejo que o profissional de RH avalia muito esse ponto da postura do profissional e como ele se afeta por questões externas”, diz.

Fernanda Teles, 38, perdeu o emprego durante a pandemia. A psicóloga estava desempregada desde maio e participou de quatro processos seletivos. “O feedback que recebi de uma empresa foi que eles estavam procurando pessoas com mais capacidade de inovação”, explica.

Ela não desanima e sabe que as pessoas que estão se destacando na pandemia são aquelas focadas em aprimorar os conhecimentos. É isso que Fernanda está fazendo. A psicóloga investiu em cursos e workshops on-line de vendas, design thinking, empreendedorismo e coaching. “Tem pessoas que estão realmente se isolando e entrando no looping negativo. E tem pessoas que estão pegando a pandemia e transformando isso em oportunidades, que é o meu caso”, afirma.

Sem retorno positivo nos processos seletivos, Fernanda não ficou parada e passou a oferecer consultoria de RH e atendimentos de coaching, thetahealing (técnica de meditação) e barra de access (terapia quântica), de maneira autônoma, desde setembro. “Eu cansei de ficar esperando e comecei a pensar em alternativas. Como eu já tinha essas formações, comecei a me posicionar dessa forma no mercado”, conta.

 

*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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