Entre as metas para 2021, encontrar trabalho certamente está no topo tanto para desempregados quanto para insatisfeitos com o emprego atual. Conquistar a vaga certeira nem sempre é fácil, especialmente num país com tantos desempregados. No entanto, em qualquer organização, pessoas vêm e vão; assim, nem que seja para repor profissionais, elas precisam contratar.
Sabendo que as oportunidades existem, é preciso mais do que pesquisar vagas e sair disparando currículos. Segundo especialistas, o profissional em busca de uma vaga, seja para se recolocar, seja para mudar de emprego, deve apostar em autoconhecimento, planejamento e estratégia. É o que recomenda a analista de recursos humanos e orientadora de carreira Denise Minera.
Segunda ela, toda seleção de emprego é um momento de venda. Para vender um produto, é preciso conhecer o conteúdo que, no caso, é o próprio trabalhador e suas habilidades. “Tomar consciência de quem é você é um processo fundamental para você conseguir um emprego e para vários outros objetivos na vida”, diz.
“Nos processos seletivos que eu faço como analista de RH, muitas vezes, as pessoas não sabem falar sobre elas mesmas e não demonstram segurança. O autoconhecimento é fundamental para você entender seus pontos fortes e destacar isso na entrevista, em vídeos e durante todo o processo seletivo”, observa.
O autoconhecimento é uma jornada, de acordo com Denise Asnis, cofundadora da empresa de recrutamento e seleção Taqe. Denise comenta que uma pergunta clássica durante entrevistas é: “Conte um pouco sobre você”. Para responder bem em entrevistas, as pessoas precisam se conhecer e exercitar o storytelling — a arte de contar algo de modo cativante — a fim de deixar o recrutador interessado.
“Você tem que ter uma história para me contar em um minuto, em três minutos ou em 10 minutos, dependendo de como será a entrevista”, explica. “O ponto principal é exercitar seu storytelling para fazer entrevistas muito melhores.” Para saber mais sobre isso, leia o quadro Narrativa cativante.
Saiba Mais
Estratégia
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Para a orientadora Denise Minera, a procura por emprego é um projeto pessoal que não pode ser executado de qualquer jeito. “Não adianta distribuir currículo aleatoriamente. Você tem que ter organização para acompanhar o que está faltando para você conseguir se adequar ao perfil exigido pelo mercado”, explica. “Procurar trabalho dá trabalho”, reforça.
É necessário construir uma rotina voltada à busca de emprego. Um dos primeiros passos é criar uma planilha com as empresas pesquisadas e as candidaturas já feitas. Algo que pode ajudar no processo é estabelecer pequenas metas diárias (incluindo, por exemplo, quantos currículos vai enviar, em quantos sites de recrutamento vai se cadastrar e quanto tempo vai gastar na pesquisa).
O técnico em logística Leonardo Azevedo, 39 anos, está desempregado há dois meses, quando deixou o posto de supervisor comercial em uma empresa de alimentos perecíveis. Desde então, participou de cinco processos seletivos e enviou 15 currículos.
Ele organiza o dia a dia de busca por etapas, como selecionar vagas compatíveis com o perfil dele, ativar alertas de oportunidades em plataformas, candidatar-se e resolver alguns testes on-line de processos seletivos, que exigem conhecimentos como matemática, português e lógica.
Para Leonardo, durante a pandemia, tem sido vantajoso poder permanecer em casa e fazer entrevistas por videoconferência. Apesar das incertezas que a crise trouxe, as organizações se tornaram cada vez mais flexíveis com o home office.
“Todas as empresas a que me candidatei buscam entrevista por vídeo e não exigem mais que você participe do processo presencial. Para mim, é melhor”, conta. Antes das conversas, Leonardo estuda sobre a empresa, pesando pontos positivos e negativos. Com essa estratégia, o morador de Samambaia acredita que tem conseguido se destacar.
O técnico está em busca de uma carreira no setor hospitalar, o segmento que mais cresceu durante a pandemia. A fim de se manter atualizado e aprender, está cursando pós-graduação em gestão comercial e tem feito cursos adicionais sobre a área da saúde.
Autoconhecimento em quatro passos
Denise Minera, psicóloga e orientadora de carreira
Confira dicas da psicóloga Denise Minera para se conhecer melhor e, assim, conseguir também se vender durante processos seletivos:
Meditação
A prática de meditar é considerada por especialistas uma das melhores maneiras de se conhecer, além de ser um dos escapes para as tensões. Segundo dados do Google, as buscas por meditação cresceram 4.000% durante o isolamento social. Existem diversas técnicas, como mindfulness (atenção plena) e mantras para praticar.
Anote tudo em um papel
Anotar pensamentos é outra forma de exercer o autoconhecimento. Em um local tranquilo, anote o que está em mente, sem filtros ou hesitações. Depois, analise o que escreveu e os motivos de pensar dessa forma. Você poderá descobrir gatilhos, conhecer a forma que seu cérebro funciona e ainda relaxar.
Peça feedback
Pergunte para amigos e colegas de profissão quais são as características que mais enxergam em você. Às vezes, você não consegue notar seus pontos fortes ou tem dificuldade em perceber certas características negativas sob um viés positivo.
Terapia
Conversar com um profissional qualificado sobre si mesmo é uma pedida. Um psicólogo poderá orientar você de maneira assertiva e trabalhar inseguranças, bloqueios, pontos a melhorar e o que você tem como fortaleza.
Busca por estudos
A possibilidade de investir o tempo em cursos gratuitos ou a baixo custo se tornou ainda maior durante a pandemia. Para se manter ativo, estudar é uma das grandes apostas de desempregados. Matheus Goyas, CEO da escola de tecnologia Trybe, afirma que os candidatos precisam colocar a energia nos estudos, sim, mas procurando fazer algo de que gostem.
“As pessoas devem buscar capacitação em profissões que vão ser demandadas, mas também têm que procurar fazer o que amam. Não adianta fazer o que o mercado precisa se você vai fazer uma coisa que não gosta”, pontua. Além disso, é importante verificar se o investimento de tempo naquela formação compensa para a sua área antes de escolher os cursos on-line a fazer.
Narrativa cativante
Confira dicas para aperfeiçoar sua capacidade de storytelling, segundo a recrutadora Denise Asnis:
Escreva um roteiro
Escreva tudo o que se lembra ou gostaria de falar sobre você para alguém. Depois leia e releia. Sublinhe os pontos mais importantes e aqueles que podem chamar atenção do recrutador. Agora, adapte as informações em um roteiro de conversa de elevador (um minuto) ou um texto para diálogos mais longos de três a 10 minutos, como um roteiro de filme.
Desperte interesse
Apresente-se de forma clara, direta e sem rodeios. No entanto, não deixe de despertar a curiosidade e o interesse das pessoas. Comece contando algo que
seja crítico para a vaga: uma experiência profissional
sua que é essencial para o posto.
Seja empático
Faça um exercício de empatia e se coloque no lugar do recrutador. Imagine-se criando perguntas que seriam muito importantes para ele saber e ter interesse em você.
Ensaie
Fale na frente do espelho ou faça uma pequena apresentação para familiares e amigos. A técnica auxilia para que você ganhe confiança e memorize as informações. Uma forma de estimular a memória é por meio de elementos sonoros. Encontre as melhores palavras e sinônimos para ganhar ritmo ao seu roteiro.
Craque em entrevistas
Fernanda Campos, gerente de consultoria: tranquilidade e segurança são diferenciais
A analista de RH e orientadora de carreira Denise Minera diz que a regra de ouro para entrevistas é se preparar com antecedência, seja o encontro a distância, seja presencial. “Se for uma etapa virtual, teste o equipamento antes, seja pontual, procure um lugar silencioso e escolha uma roupa adequada, como se você estivesse indo, presencialmente, para a entrevista”, diz.
Ela observa que, mesmo com as câmeras, o corpo fala. “Cuide da linguagem corporal e oral, evite o nervosismo e seja você.” Fernanda Campos, gerente da consultoria Energy People, diz que o candidato pode se destacar, inicialmente, demonstrando segurança e tranquilidade. “Quando se transmite credibilidade sobre aquilo que está sendo falado, você tem o domínio da situação e pode conquistar a simpatia do outro mais rapidamente”, ensina. Outras regras incluem pesquisar e estudar a empresa, a área e a pessoa com quem você vai falar.
Orientação profissional
Nem sempre os candidatos conseguem lidar com o processo de candidatura sozinhos. Existe muita frustração envolvida em obter respostas negativas ou, ainda pior, não ter resposta nenhuma, nem ser chamado para entrevistas.
Serviços de orientação de carreira são uma opção para ajudar candidatos. Denise Minera, psicóloga e analista de RH, atua há três anos como orientadora de carreira autônoma e afirma que houve um aumento na procura pelo serviço durante a pandemia.
“Atendi mais clientes do que o normal exatamente porque as pessoas entenderam que é um momento mais complicado para conseguir se recolocar e enxergaram que essa ajuda seria necessária”, explica.
A consultoria que Denise oferece aos clientes conta com a reformulação do currículo, planejamento de carreira e sensibilização para que as pessoas entendam que objetivos e metas são primordiais.
Construa uma rede de contatos
E se, em vez de receber currículos aleatórios, o recrutador de RH pudesse pesquisar o candidato ideal num grande banco de dados? É assim que funciona o LinkedIn, a maior rede social profissional do mundo, lançada em 2003.
O site permite também que os próprios usuários encontrem vagas de emprego e que sejam abordados por consultores de RH. Também é possível criar conexões e fortalecer o networking, a famosa rede de contatos, o que aumenta as chances de contratação.
Há mais de 200 milhões de pessoas no mundo cadastradas na rede social e, no Brasil, há 40 milhões de usuários. Para quem está em busca de emprego, além do bom e velho currículo, o LinkedIn deve estar entre as apostas.
Algumas dicas de Denise Minera para começar a deslanchar a carreira pela rede social são: fazer postagens sobre assuntos do seu interesse ou da sua área profissional, interagir (curtir, comentar e compartilhar publicações), fazer conexões e escrever a carta de apresentação na seção “Sobre”.
Caso esteja procurando emprego, coloque no título, abaixo do seu nome, os antigos cargos e não “Em busca de recolocação”. O seu perfil deve ser encarado como um currículo: os recrutadores devem saber de cara o que você faz ao acessar sua página. Para informar a sua disponibilidade para início imediato, existe a opção de usar o selo Open to work (aberto para trabalho), que pode ser ativado na foto do perfil, para sinalizar a procura por emprego.
Vendendo meu peixe
Noemi Farias, 24 anos, analista de gestão de relacionamento com o cliente, é graduada em administração e está à procura de uma vaga na área há mais de um mês. Ela enviou 200 currículos e participou de dois processos seletivos.
A jovem contratou um serviço de consultoria em recolocação on-line após perceber que os esforços feitos pela procura de um posto não rendiam os resultados esperados. Antes, recebia só propostas incompatíveis com o perfil. “Eu sempre recebia ofertas de telemarketing. A consultoria me fez entender que a forma que montei o meu currículo apresentava uma visão de querer telemarketing”, conta.
Noemi aproveita o LinkedIn para aprimorar a apresentação pessoal. Recentemente, gravou um vídeo sobre as próprias competências e experiências profissionais. “Vejo que esse tipo de vídeo ajuda a atrair recrutadores. Diversas pessoas podem ver e compartilhar. E, uma hora outra, consultores de RH vão te chamar”, acredita.
O vídeo de Noemi rendeu 65 likes e mais de 500 visualizações, além de um convite para participar de um processo seletivo. Noemi não passou, mas, nos tempos atuais, conseguir mais visibilidade e receber propostas deve ser encarado como conquista.
Atualmente morando em São Paulo, a administradora segue firme na busca por recolocação e busca se aprimorar. No passado, ela diz que perdeu muitas oportunidades por ser tímida e ficar nervosa, mas, atualmente, com orientação e amadurecimento, tem se saído cada vez melhor nas etapas de seleção.
Currículo perfeito
» Estaria o CV impresso com os dias contados? Segundo a analista de RH e orientadora de carreira Denise Minera, a tendência é de que tudo seja informatizado, tanto para agilizar o trabalho do recrutador quanto para evitar que tenha que se procurar um local para armazenar tantos documentos. Contudo, a transformação digital, acelerada com a pandemia, não atingiu a todos. Empresas pequenas ainda aceitam o currículo impresso.
» Seja para o documento impresso, seja para a versão digital, é preciso ser objetivo. Segundo pesquisa da empresa de recrutamento on-line Catho, 30% dos recrutadores demoram cerca de seis a 10 segundos para ler e descartar um currículo. Por isso, é essencial saber quais informações inserir de modo sucinto e que, ao mesmo tempo, chame atenção positivamente.
» Não é o volume de informações que faz o seu currículo ser bom. O que garante isso é responder àquilo que o recrutador precisa saber rapidamente. O currículo é para dar os pontos-chaves, destaca a consultora de RH Denise Asnis.
» Não há fórmula certa para o CV, mas alguns pontos-chave podem garantir a classificação ou a eliminação do candidato. Confira as dicas:
Partes do CV
Conheça os requisitos principais de um bom currículo
» Objetivo profissional
É um campo importante e pode lhe destacar. Deixe a frase clichê de lado e seja direto, diga qual é o cargo almejado. Assim, mesmo se você não conseguir a vaga pretendida, poderá ser guardado no banco de vagas da empresa.
» Apresentação
Logo abaixo do objetivo profissional, é importante ter um parágrafo curto sobre você. Apresente-se e diga tudo o que o recrutador precisa saber sobre seus interesses, habilidades e pontos fortes em um texto curto. O RH vê muitos currículos, então ele precisa identificar nas características descritas a pessoa ideal para a vaga.
» Experiências
Quem tiver experiências profissionais deve descrever as funções exercidas, sempre de forma resumida, em, no máximo, três palavras. Para quem procura o primeiro emprego, basta incluir dados da formação que foram relevantes e com potencial de serem relevantes à posição.
» Informações adicionais
Por fim, vale colocar cursos que se encaixam no perfil da vaga, interesses pessoais, idiomas e o respectivo nível de compreensão. É positivo inserir projetos relevantes e descrever os resultados alcançados com a participação do candidato.
Para não errar
Confira cuidados importantes e alertas para não fazer feio e representar bem o seu perfil profissional por meio do documento
» Seja autêntico
Seja você mesmo na montagem do currículo, desde o conteúdo até o design. Assim, o recrutador conhecerá o seu perfil. A linguagem deve estar de acordo com o cargo e o local de trabalho pretendido. Locais sérios exigem currículos com linguagem séria.
» Não minta
De acordo com pesquisa da empresa de recrutamento e seleção Heach Recursos Humanos, as mentiras em currículo aumentaram de 42% em 2019 para 61% neste ano, durante a pandemia. No entanto, mentir é fatal. Além de causar uma quebra de confiança, a imagem do candidato fica manchada.
» Revise
Assim como mentiras, erros de português também podem ser eliminatórios. Leia o currículo mais de uma vez antes de enviar, inclusive peça para algum amigo revisar para você.
» Faça mais de um currículo
Parece uma dica óbvia, mas, para economizar tempo, as pessoas tendem a enviar o mesmo currículo para várias vagas. O ideal é desenhar um documento para cada oportunidade, pois são perfis distintos e, ao personalizar o seu CV, você consegue destacar o que tem a ver com aquele posto e tem mais chances de ser chamado para uma entrevista.
» Não exceda uma página
O ideal é que o currículo não ultrapasse uma folha. A exceção é para profissionais com mais de 15 anos de experiência, que podem apresentar um documento de até duas páginas, dizem especialistas.
» Não coloque foto
A não ser que seja requisitado, não coloque foto no currículo. A tendência é de que o recrutamento seja feito às cegas, para que o analista de RH não julgue o candidato pela aparência ou pelo gênero, mas, sim, pelos conhecimentos e pelas qualificações para a vaga.
» Não coloque informações pessoais
Endereço residencial e número de documentos pessoais ainda figuram em muitos currículos no mercado de trabalho, mas especialistas alertam para o perigo da prática. Este tipo de informação pode parar em mãos erradas, pois muitas pessoas podem ter acesso ao documento. Os dados serão solicitados na hora certa, quando o RH da empresa ligar para
fazer o contrato.
No Brasil
14,1 milhões
Quantidade de brasileiros desempregados
414,5 mil
Quantidade de vagas de emprego criadas em novembro
Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PNAD Contínua/IBGE) e Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) do Ministério da Economia
CAPITAL FEDERAL
288 mil
Quantidade de desempregados no DF em novembro, 7 mil a menos do que no mês anterior
17,8%
Taxa de desemprego no DF em novembro; em outubro, o percentual era de 18,5%
Fontes: Pesquisa de Emprego e Desemprego no Distrito Federal feita pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) e pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese)
*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa