Estabelecer metas após um ano que mudou drasticamente as dinâmicas de vida pessoal e profissional é uma tarefa difícil, não há dúvida. A pandemia de covid-19, iniciada em março no país, causou incertezas e retrações no mercado de trabalho e fez com que muitos planos de mudar de carreira, empreender ou aprender uma nova língua fossem guardados na gaveta.
Após 10 meses de isolamento social, especialistas afirmam que o mercado de trabalho ajustou-se à nova realidade e apresenta um cenário otimista para quem planeja conquistar o que não conseguiu neste ano.
De acordo com a Pesquisa de Expectativa de Emprego, do ManpowerGroup, 17% dos 609 empregadores brasileiros entrevistados preveem aumento nas contratações no primeiro trimestre de 2021. “O resultado mostra a mesma expectativa do fim de 2019, quando não havia pandemia”, explica Wilma Dal Col, diretora de RH da instituição.
“É um grande avanço e mostra que as empresas estão com uma visão otimista, independentemente de as medidas de isolamento continuarem ou não. Essa é uma notícia bacana para quem quer forças para traçar novas resoluções”, pontua Wilma.
Com uma boa perspectiva em vista, especialistas convocam profissionais a pegarem caneta e papel para planejarem 2021. O fato de a pandemia não ter chegado ao fim não é motivo para desistir dos seus sonhos. Com organização, eles viram metas mais palpáveis.
Rumo ao alto
Emerson Weslei Dias, consultor de carreira e especialista em gestão estratégica de pessoas pela Fundação Getulio Vargas (FGV), afirma que traçar planos é mais do que uma ação pontual antes de um ano começar: é, sobretudo, um estilo de vida para quem quer conseguir alcançar até os objetivos mais altos.
“Planejar dá ritmo para a vida de quem se organiza. Muita gente simplesmente segue o fluxo, deixa-se levar e não consegue chegar a nenhum lugar”, alerta Emerson. Para os sonhadores, a afirmação é semelhante: não adianta desejar intensamente um objetivo sem construir um plano sólido para realizá-lo.
“Somos procrastinadores por natureza. Quanto mais difícil é um objetivo, maior é a nossa tendência em empurrar para a frente a realização dele. Muitas vezes, alcançar metas é lutar contra você mesmo”, explica.
Diferente do que muitos pensam, o primeiro passo para criar um planejamento assertivo não é começar a escrever metas. Emerson Weslei Dias explica que um planejamento implica em responder três perguntas: onde estou, para onde vou e como vou. Assim, é preciso, primeiro, analisar o ano que se passou para entender o que foi feito e o que ainda está pendente.
“Se você sonha em chegar à fluência de um idioma ou a um nível melhor, você precisa saber como está a sua fala e seu conhecimento dele atualmente para estabelecer uma métrica de desafio para o próximo ano”, exemplifica. A análise ajudará a medir o esforço necessário para realizar o objetivo.
“Se quer ser presidente da República, o seu trabalho atual ajuda nesse objetivo? Não é melhor começar como vereador? Se sim, como você pode chegar até este posto?”, indaga Emerson. “Quando eu não sei onde eu estou, é muito difícil saber para onde vou e, mais importante, qual é o esforço para chegar àquele lugar”, diz.
Saiba Mais
Trace sua estratégia
Depois da análise da sua situação atual, os objetivos podem ser traçados, como recomenda o consultor Emerson Weslei Dias. Para isso, o especialista aconselha a utilização do método Plan-Do-Check-Act (PDCA): planejar, fazer, verificar e agir, em português. Confira em detalhes cada parte:
Planejar
Na primeira etapa, chamada Planejar, Emerson sugere que o planejamento seja feito a partir de quatro grandes perspectivas: financeira, saúde, relacionamentos e desenvolvimento. Nessa última, enquadra-se à carreira.
“As divisões nos ajudam a fazer as perguntas certas. Quais são os sonhos para a vida financeira? E para a minha carreira? Pergunte e escreva. A partir disso, estabeleça os objetivos. Existe uma diferença entre sonho e objetivo: o primeiro é apenas uma inspiração; já o segundo é o que ajudará a realizá-lo, são metas pragmáticas”, explica.
Avaliar recursos necessários para conquistar os objetivos também faz parte da etapa de traçar o plano. Por último, estabeleça indicadores de avaliação de desempenho. “Se você quer fazer uma pós-graduação, por exemplo, defina quando quer se matricular e quando quer terminar. O indicador deve ser claro na definição de tempo para cada objetivo”, diz.
Fazer
A segunda etapa do plano, do Fazer, é aquela em que o profissional executa o que planejou. “A parte de Planejar pode ser vista como a planta de uma casa: você a desenha de acordo com tudo que sonhou. Já a etapa do Fazer é aquela em que você vai comprar o cimento, as maçanetas, contratar o pedreiro, tudo para executar o sonho”, exemplifica Emerson.
Checar
As duas últimas etapas do método são as mais importantes, já que a falta delas pode fazer com que o planejamento feito se traduza apenas em anotações em um papel. Verificar e agir são passos que andam conjuntamente. O terceiro passo é a parte Checar: verifique se a execução do plano tem funcionado.
“Se a pessoa quer perder 10kg em 10 meses e optou por perder 1kg por mês, ela tem de janeiro a outubro para cumprir a meta. O ideal é parar, ao fim de janeiro, e verificar se perdeu o quilo almejado. Se a resposta for negativa, precisa refazer a meta, colocando mais um mês no planejamento e agir, que é a última etapa”, explica Emerson. O ideal é fazer uma checagem em tempos menores para que o replanejamento tenha sucesso.
Agir
O último passo do método, o Agir, sucede a checagem. Ao perceber o que funcionou e o que não funcionou para saber como continuar agindo. É preciso fazer isso periodicamente.
“Quando as pessoas vão para a checagem e percebem que a execução não deu certo, acabam desistindo. No entanto, você não deve abandonar o plano, tem de replanejar e começar de novo”, encoraja Emerson.
O consultor aconselha as pessoas a deixarem as metas visíveis. Não, necessariamente, como um planner na parede. Dá para escolher um símbolo ou objeto que lembre a meta e deixá-lo em locais estratégicos para que se lembre do que planejou.
“É preciso entender, também, que o objetivo, muitas vezes, não será alcançado em um ano. Contudo, é neste ano planejado que você estará mais perto dele”, diz.
Três perguntas para
Thaís Gameiro, doutora em neurociência pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e sócia-fundadora da Nêmesis, empresa de soluções corporativas na área de neurociência organizacional
Metas e objetivos ajudam a ter melhor performance cerebral?
O cérebro é quem produz o nosso comportamento e, quando pensamos muito no que vai acontecer em vez de pensar no presente, surge a ansiedade e ela pode atrapalhar o cérebro e o comportamento. As metas, no entanto, são uma forma concreta de antecipação, o que nos faz sentir mais seguros e menos ansiosos. O planejamento serve como um guia, como algo que ancora nosso pensamento e essa ancoragem dá a sensação de controle. Quando queremos mudar de comportamento, essa é a melhor forma, porque nos ajuda a ter algo concreto para nos basear. Escrever metas não é algo místico. Se eu escrever que quero parar de tomar refrigerante, por exemplo, isso sai do meu campo das ideias e se torna concreto, me ajuda a ficar mais consciente e a tomar decisões melhores.
Qual é a explicação para ser tão difícil cumprir metas?
Existem algumas. A primeira envolve crenças erradas a respeito do nosso comportamento, como esta: “basta você querer”. Não. Para mudar de comportamento, não basta querer, não é questão de força de vontade ou de determinação. Toda mudança de comportamento exige muito da gente, é um processo custoso, não simples. A mudança ou a adesão a um hábito exige muito do cérebro, ele muda fisicamente, faz novas conexões. É algo que não ocorre do dia para a noite, é necessário persistir e, mesmo assim, muitas vezes, vamos fazer tudo certo e falhar. Outra questão é a falta de uma boa estratégia. Se o seu objetivo é encontrar mais a família ou ler mais, qual é a sua estratégia? Quais horas do dia você vai separar para ler? Quais são os dias em que você pode visitar a família? O que você precisa mudar para conquistar o objetivo? Confiar na força de vontade é uma estratégia errada. Se a gente não criar uma estratégia plausível, não muda. Para isso, precisamos parar e pensar para, depois, planejar. Não é um planejamento que fazemos em meia hora.
Existe uma forma melhor de estabelecer metas que ajudem nosso cérebro a assimilá-las mais facilmente?
Existe algumas práticas. Primeiro, uma meta eficiente é algo que se consegue medir, seja no âmbito pessoal ou no trabalho. Quando você planeja um projeto, tem que estabelecer alguns pontos de checagem, como quanto tempo leva para um objetivo, as vendas necessárias e outras coisas. As metas pessoais e individuais também têm de ser assim. Além disso, é necessário estabelecer metas eficientes. Ou seja, algo que você realmente veja como realizar. Praticar atividade física é uma meta eficiente? Não. Porque você não estabelece quando e onde fará. Agora, se você tem uma meta de praticar atividade física três vezes por semana durante as noites livres, você tem um caminho certo a seguir e também uma meta para verificar. Por último, não estabeleça metas longas demais. Dizer que, no próximo ano, fará algo é muito pouco palpável. Quebre o objetivo em etapas menores. A meta não deve ser escrever um livro em 2021, mas, sim, escrever 20 páginas do livro em janeiro; e, em fevereiro, terminar o capítulo dois.
Leia
O inédito viável
Autor: Emerson Weslei Dias
Editora: D’livros Editora —
116 páginas — R$ 26,99
O autor ensina a planejar e executar objetivos a partir de quatro perspectivas: finanças pessoais, relacionamentos interpessoais e desenvolvimento intelectual. A execução dos pilares leva o leitor, de acordo com Emerson, ao inédito viável, ou seja, àquilo que nunca foi vivido antes.
Vivendo o sonho
Davi Moura, 24 anos, estudante de economia da Universidade de Brasília (UnB), planeja o próximo ano para conseguir lidar com grandes mudanças na vida acadêmica. Ele precisará se mudar para a cidade do Rio de Janeiro para ocupar uma vaga de mestrado em economia, conquistada em outubro deste ano na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). As aulas começam em janeiro. Ele planeja fazer uma poupança.
O estudante também colocou no papel a meta de fazer um intercâmbio para adquirir a proficiência na língua inglesa, já que quer se candidatar a um doutorado no exterior, após o término do mestrado, em 2022. Para ele, o planejamento é um amigo conhecido que o ajudou a conquistar os objetivos. Foi assim que conseguiu estudar para a prova de mestrado e continuar a graduação.
Para ele, a única opção que garantisse o sucesso, seria construir e colocar em prática um planejamento arrojado. “Eu tive poucos meses para fazer tudo”, explica. O jovem decidiu tentar a vaga de mestrado em outubro de 2019, quando foi para uma competição da área, no Rio de Janeiro, e conheceu pessoas que estavam na carreira acadêmica.
“Percebi que gostava de estar no meio e que queria construir uma trajetória de formação”, lembra. Durante os dois últimos meses de 2019, o estudante planejou o próximo ano para conquistar o objetivo. “Decidi fazer a prova antes mesmo de me formar, ao mesmo tempo em que precisei adiantar várias matérias e o meu trabalho de conclusão de curso (TCC). No geral, eu tive cerca de dez meses para me preparar”, conta.
Após as metas traçadas, Davi fez o planejamento, que começou a ser cumprido em fevereiro deste ano. Ele conciliou disciplinas e grupos de pesquisas da UnB com um curso preparatório para o mestrado, além de cumprir a carga horária do estágio. Ele também encaixou a produção do TCC, que apresentou na última semana, na rotina.
“Eu sabia que seria difícil, mas persisti. Perto da prova, que ocorreu em 21 de outubro, estava estudando de oito a nove horas por dia”, lembra. O esforço valeu a pena e Davi foi aprovado entre os melhores em oito universidades, entre elas, a Universidade de São Paulo (USP) e as unidades do Rio de Janeiro e de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV).
A PUC-Rio foi a instituição escolhida por ele. O jovem ganhará auxílio-moradia de R$ 1,5 mil da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), além de uma bolsa de R$ 1 mil da universidade. Nos últimos cinco anos, apenas dois negros passaram entre os 50 melhores na prova de mestrado em economia. “Eu sou um deles e quero incentivar a todas as pessoas pretas a se planejarem para conquistar seus sonhos”, estimula.
Mais perto da segunda língua
Não é novidade que a proficiência em outro idioma é importante para quem deseja obter melhores postos, alcançar oportunidades na área acadêmica e também conhecer novos mercados, no caso de empreendedores. Com a pandemia, falar outras línguas abriu outra portas por meio de contratos a distância com empresas internacionais.
“A pandemia quebrou as barreiras geográficas por meio do home office. Hoje, podemos trabalhar ou integrar programas acadêmicos em instituições do exterior. Por isso, precisamos de uma segunda língua”, pontua Alberto Costa, gerente de avaliação sênior do departamento de avaliações de proficiência de inglês da Universidade de Cambridge.
Para quem se interessa por aprender outro idioma, mas não sabe qual escolher, o especialista afirma que o inglês ainda é a língua mais utilizada internacionalmente. “Geralmente, os contatos são feitos em inglês, não apenas por países com essa língua materna, mas por vários outros que têm neste idioma o meio de comunicação mais comum”, diz.
A relevância do idioma faz com que muitas pessoas incluam o aprendizado da língua inglesa nas metas anuais, mas se frustram por não conseguir a sonhada proficiência no período desejado. Alberto afirma que isso ocorre pela disparidade entre o objetivo traçado e a execução adequada, estratégica e planejada.
“De acordo com o Quadro Europeu Comum de Referência de proficiência, leva ao menos 200 horas de aprendizagem guiada por um tutor para progredir em níveis de fala e compreensão de um idioma. Se você quer, então, em um ano, aumentar o seu nível, precisa dedicar esse tempo na sua rotina”, exemplifica.
Por conta própria?
Aventurar-se a aprender o idioma sozinho não é a melhor opção para quem deseja ganhar níveis mais altos de proficiência em pouco tempo. “Quando falamos de aprender, falamos de orientação. A própria psicologia educacional diz isso: um parceiro com mais conhecimento ajudará um com menos”, declara.
É o mentor que ajudará o aluno a não só falar e entender corretamente, mas, também, poderá criar um modo de aprendizagem especializado. “O professor pautará o ensino com o fim de desenvolver habilidades para o meio em que o aluno vai atuar, encurtando, assim, o tempo até o objetivo. Ele pode, por exemplo, ensinar termos da área de mineração, se for esse o campo de atuação do estudante.”
Fora da sala de aula, o aluno deve buscar momentos para estudar com calma. Vale o uso de aplicativos para aprimorar a conversação, a leitura e a escrita (veja uma lista de plataformas gratuitas abaixo) e também meios de lazer, como podcasts, filmes e músicas na língua escolhida.
Pontos de atenção
Se os avanços não podem ser vistos, Alberto indica uma análise do modo de aprendizado e do perfil da pessoa. “Às vezes, o aluno pode ser tímido ou inseguro quanto a falar no idioma, mesmo após muito estudo. Assim, precisará de uma prática mais acentuada na comunicação e de um professor que dará um tratamento personalizado para isso”, indica.
Inglês é mais do que a gramática da língua. Se você percebe que o ensino é pautado apenas nesse viés, algo está errado. “Muitos também desistem porque veem que só aprendem a gramática. Geralmente, em aulas em português, explicando regras, mas sem ensinar a fala da língua. Isso desanima”, exemplifica.
Fora da sala de aula, o aluno deve buscar momentos para estudar com calma. Vale o uso de aplicativos para aprimorar a conversação, a leitura e a escrita e também meios de lazer, como podcasts, filmes e músicas na língua escolhida.
Confira dicas de aplicativos gratuitos da Cambridge para auxiliar no aprendizado:
Learning English
São mais de 100 atividades gratuitas para os diferentes níveis de conhecimento e ainda é possível escolher, por meio de filtros, o tempo disponível para estudos no dia. Acesse: bit.ly/aprendacambridge
Quiz Your English
É um game em que você pode desafiar ogadores de todo o mundo em partidas rápidas relacionadas às habilidades do inglês. Acesse: bit.ly/quizcambridge.
Exam Lift
É possível ter acesso a atividades diárias com versões para diferentes níveis de conhecimento de acordo com o Quadro Europeu Comum de Referência para Línguas (Common European Framework of Reference for Languages – CEFR). Acesse: bit.ly/exercicioscambridge.
Write&Improve
Uma plataforma para escrever redações em inglês e obter correções, de acordo com o nível de conhecimento da língua.O sistema também sugere melhorias para aprimorar a escrita. Acesse: writeandimprove.com.
Speak&Improve
Fale qualquer coisa e tenha um feedback em instantes, com sugestões para aprimorar a conversação na língua. Acesse: speakandimprove.com.
Teste seu Inglês
Para quem não sabe o nível de conhecimento na língua, basta acessar esse link e descobrir por meio de um teste de Cambridge Assessment English: bit.ly/nivelcambridge.
*Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa