“Sempre fui exceção nos espaços em que estive. Na faculdade, era uma das duas negras da turma; no primeiro emprego, era a única. Em um país formado, em maioria, por pretos e pardos, eu me pergunto onde eles estão”, desabafa Thaís Argolo, 32 anos, gerente de sustentabilidade social, ambiental e equidade do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro). Graduada em administração pela Universidade de Brasília (UnB), em que entrou por cotas raciais, Thaís trabalha no Serpro desde 2015, quando ingressou na instituição como analista de gestão de pessoas. O bom desempenho a levou ao cargo de gerente três anos depois.
A gestora e sua equipe promovem, há três anos, o Programa Serpro de Equidade de Gênero e Raça e Respeito à diversidade (PSEG) para equiparar a presença de negros e brancos na empresa pública. Apesar de a instituição ser obrigada a destinar 20% das vagas para negros, a legislação de 2014 ainda não impactou o Serpro, que não ofertou concurso desde então.
Thaís explica que o PSEG inclui ações de conscientização. “Estimulamos líderes a adotar práticas de gestão que observem a igualdade de oportunidades na empresa, inclusive em cargos de liderança”, conta. Como coordenadora, ela é responsável pela organização e pela implementação das ações do PSEG e se orgulha ao contabilizar avanços.
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No programa de estágio do Serpro, pelo menos 30% das vagas precisam ser preenchidas por pretos e pardos. Além disso, o percentual de negros no quadro geral de colaboradores (27%) é proporcional ao índice dos que ocupam funções de confiança no Serpro (27%). O desejo de mudar a realidade brasileira que exclui negros surgiu na adolescência, quando ela percebeu que pretos não têm acesso aos mesmos lugares que os brancos. Thaís deixou o Rio de Janeiro para morar no Plano Piloto em 2005 por uma transferência do pai, militar. “Eu não via tantos negros como no Rio e acreditava que aqui não existiam pretos”, lembra. “Depois, descobri que somos uma das capitais com mais negros. Entendi que eu morava num local ao qual negros não tinham acesso.” Na mesma época, Thaís começou a se entender como negra e ter orgulho da pele, além de compreender os desafios contra o racismo.
A mensagem que ela deixa para outros negros em busca de cargos de liderança é de ânimo. “Não se menospreze e não ache que não é para você. Temos de confiar em nós e acreditar que somos mais do que um comentário racista ou machista. Nosso lugar é onde quisermos. Diga para o mundo: eu sou assim e você vai ter que lidar comigo”, orienta.
* Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa