Vitor Lacerda Siqueira, de 25 anos, passou em processos seletivos em cinco universidades norte-americanas em linguística: três para mestrado nas universidades de Chicago, Hawaii e na City University of New York; e dois para doutorado nas universidades de Oregon e Nova York, onde vai estudar a partir de agosto. Ele se formou em linguística com honras e fez uma segunda graduação em espanhol, ambos os cursos pela Pitzer College, na Califórnia, em Los Angeles.
Natural de Mutum, cidade do interior de Minas Gerais, Vitor fez o ensino médio no Instituto Federal do Espírito Santo (IFES), porque seria mais perto da cidade do que Belo Horizonte, capital do estado, gastando cerca de quatro horas de deslocamento. Diante disso, Vitor se mudou para o Espírito Santo, onde morou de 2014 até 2017.
Nesse período, ele fez várias atividades extracurriculares diferentes, mas seguia com a intenção de estudar física na graduação e de estudar fora do Brasil, sonho que ainda estava longe de sua realidade.
Até que um dia conheceu uma colega do IFES que tinha conseguido bolsa para estudar em Harvard, nos Estados Unidos. “Nunca parei para pensar na possibilidade de estudar fora e, em uma dessas atividades, conheci essa colega que foi para Harvard, o que me fez ver que era um sonho possível. Além disso, as universidades dos EUA são mais amplas quanto à escolha do curso, e eu me identificava mais."
Desafios
Isso o motivou a investir nesse futuro, mas teve alguns obstáculos, como as reprovações nas tentativas de ingresso e o fato de a família não ter condições suficientes para arcar com eventuais gastos envolvendo provas. “Eu cheguei a passar no vestibular da Universidade de São Paulo (USP), mas desisti porque não era isso que eu queria. A minha família não apoiou logo a minha decisão, o que foi difícil, porque é muito distante da nossa realidade, então tive que fazer por mim mesmo."
Paralelo a isso, Vitor conseguiu o apoio da Associação de Estudantes Brasileiros no Exterior (Brasa) e do programa Prep Estudar Fora, da Fundação Estudar, que disponibilizou mentoria gratuita de preparação para os processos seletivos e condições para fazer as provas e poder estudar fora do país.
Em 2019, ele entrou na Universidade de Stetson, faculdade privada da Flórida, onde conseguiu bolsa de 100%, mas por conta do alto preço para se sustentar e da pandemia, que começou logo depois, Vitor teve de voltar para o Brasil. Nesse período, conseguiu transferência para a Pitzer College, também com bolsa integral.
Ciência
A ciência sempre foi a área de interesse dele, o que foi mais consolidado na época que estava no IFES, quando também desempenhava atividades de mentoria, como o ensino de matemática por meio da arte. “Com a experiência, vi que a ciência e a educação são aliadas e que consegui transformar a minha realidade e a de outras pessoas, o que carreguei para a vida."
Quando estava na Pitzer, o jovem ainda tinha planos de cursar física, mas escolheu estudar linguística no segundo período da graduação, quando os alunos decidem qual área seguir nas universidades norte-americanas. “Sempre me interessei pela ciência, mas, nesse tempo, conheci a linguística. No Brasil, ela é vista como humanidades, mas nos EUA, é uma ciência cognitiva. Então, eu quis fazer a ciência sob o fator humano e social”, descreve.
Realização
Diante da escolha que fez, Vitor continuou estudando e se especializando em linguística. Realizou, entre férias e intercâmbios da universidade, pesquisas em diferentes faculdades, como Harvard, mas também em outros países, como a Coreia do Sul.
Em uma dessas pesquisas, ele percebeu a importância do estudo da língua e dos gestos para o entendimento de comunidades marginalizadas, ainda mais sendo brasileiro. “Estudar línguas indígenas brasileiras que estão em extinção pode contribuir com a ciência, porque entendemos o processamento de linguagem natural, que tem a ver com a tecnologia", explica.
Além de querer contribuir com a sociedade, Vitor se sente orgulhoso por ter chegado onde chegou e, principalmente, com os desafios que enfrentou. Ele percebeu o impacto disso, quando se formou na graduação e viu a família presente no evento, quando pôde levá-los para conhecer Los Angeles. "Esse episódio me marcou, porque eles puderam conhecer tudo o que eu vivi lá, e tudo isso foi graças às ajudas que consegui, como a bolsa, por exemplo."
*Estagiária sob supervisão de Marina Rodrigues