pesquisa nacional

10% dos estagiários são os únicos responsáveis pelo sustento da família, aponta Ciee

Mensalidade escolar e gastos com casa, como contas de energia e água, são as principais despesas pagas com a bolsa-auxílio. Programas do governo também contribuem para complementar a renda

Marina Rodrigues
postado em 07/11/2024 21:29
Pesquisa do Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee) para o 15º Prêmio Ciee revela realidade de estagiários do Brasil -  (crédito: Divulgação/Ciee)
Pesquisa do Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee) para o 15º Prêmio Ciee revela realidade de estagiários do Brasil - (crédito: Divulgação/Ciee)

Um levantamento inédito divulgado pelo Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee) nesta quinta-feira (7/11) revelou que, dos 11.964 estagiários entrevistados em todo o país, 68% contribuem financeiramente para as despesas da casa, seja com ajuda parcial ou total. Desses, cerca de 10% são os únicos responsáveis pelo sustento da família.

“A pesquisa mostra o quanto o programa de estágio é importante para a manutenção dos jovens no ambiente acadêmico e que, provavelmente, sem a bolsa-auxílio, eles não conseguiriam arcar com as mensalidades e demais necessidades da família”, contextualiza Monica Vargas, superintendente nacional de Atendimento do Ciee. De acordo com ela, a idade média nacional do estagiário é de 25 anos.

Idade média nacional do estagiário é de 25 anos, 69% do sexo feminino, de acordo com o Ciee
Idade média nacional do estagiário é de 25 anos, 69% do sexo feminino, de acordo com o Ciee (foto: Reprodução/Ciee)

Realizada pelo Inteligência em Pesquisa e Consultoria (IPEC), instituto brasileiro de pesquisas de mercado e opinião, e encomendada para o 15º Prêmio Ciee Melhores Programas de Estágio, o levantamento também destaca que, embora o número de jovens que são os únicos provedores de casa tenha reduzido 1% em relação ao ano passado, é o segundo maior desde 2019, quando a série histórica começou, registrando 6%. “O resultado mostra que as famílias, após a pandemia, estão conseguindo recompor a renda mensal, mas ainda em um processo lento”, explica Monica. 

Renda familiar e auxílios

Para ajudar a arcar com os custos da educação, 40% dos estagiários entrevistados utilizam bolsas ou financiamentos estudantis
Para ajudar a arcar com os custos da educação, 40% dos estagiários entrevistados utilizam bolsas ou financiamentos estudantis (foto: Reprodução/Ciee)

O Ciee também aponta que quase metade dos estagiários, 48%, vivem em famílias com uma renda mensal de até R$ 2.824. Nesse cenário, 16% dos estagiários complementam a renda familiar com o Bolsa Família, 9% com outros benefícios oferecidos pelos governos federal, estadual ou municipal, e 2% dependem do Benefício Assistencial de Prestação Continuada (BCP).

Quanto ao valor da bolsa de estágio, o montante médio pago aos estagiários no Brasil alcançou R$ 1.108,10, o maior valor da série histórica. No entanto, o destino do valor recebido permanece voltado, principalmente, para despesas educacionais e familiares. Cerca de 32% dos estagiários destinam o valor da bolsa para o pagamento da mensalidade escolar. As despesas da casa, como contas e alimentação, também consomem parte do auxílio, com 16% e 11%, respectivamente.

Mensalidade escolar e gastos com casa são as principais despesas pagas com a bolsa-auxílio
Mensalidade escolar e gastos com casa são as principais despesas pagas com a bolsa-auxílio (foto: Reprodução/Ciee)

Para ajudar a arcar com os custos da educação, 40% dos estagiários entrevistados utilizam bolsas ou financiamentos estudantis. Dentre eles, 21% aproveitam programas oferecidos pela própria instituição de ensino, 11% utilizam o Programa Universidade para Todos (ProUni), 5% se beneficiam de programas de outras instituições e 3% recorrem ao Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies).

“Ao menos 48% dos estagiários entrevistados têm renda familiar de 1 a 3 salários mínimos, ou seja, essas famílias precisam compor a renda familiar com programas de transferência de renda para arcar com os custos de vida. Nesse cenário, consigo enxergar que esses jovens apostam na educação como motor para ascensão social e profissional”, acredita Monica Vargas.

Expectativas para o futuro

No que diz respeito ao futuro profissional, a pesquisa trouxe dados inéditos sobre os planos dos estagiários. Mais da metade dos entrevistados (51%) afirmou que gostaria de ser efetivado na empresa onde está estagiando, com um índice mais alto nas regiões Norte e Nordeste (54%). 

Já 20% dos estagiários indicaram que o objetivo é conquistar uma vaga com registro na modalidade CLT, enquanto 13% ainda estão indecisos sobre os próximos passos. Outros 11% desejam buscar uma nova oportunidade de estágio antes de concluir o curso, 3% aspiram empreender, 2% sonham em trabalhar ou estudar no exterior, e 1% procura uma posição como prestador de serviços, sem vínculo empregatício.

Mais da metade dos entrevistados (51%) afirmou que gostaria de ser efetivado na empresa onde está estagiando
Mais da metade dos entrevistados (51%) afirmou que gostaria de ser efetivado na empresa onde está estagiando (foto: Reprodução/Ciee)

Quando questionados sobre a organização onde estagiam, os estagiários deram uma nota média de 9,1 em uma escala de 0 a 10, refletindo uma avaliação positiva sobre as empresas que os acolhem.

“Eu acredito que quando esses jovens têm a oportunidade de ingressar em uma empresa que os encara como talentos, lhe dá oportunidades reais de desenvolvimento, eles conseguem vislumbrar um futuro de carreira. Um dos índices importantes na pesquisa é que, contradizendo a máxima que jovens não gostam da CLT, ao menos 51% deles gostariam de ser efetivados”, completa a representante do Ciee.

  • Nota média de 9,1 reflete avaliação positiva dos estagiários sobre as empresas que os acolhem
    Nota média de 9,1 reflete avaliação positiva dos estagiários sobre as empresas que os acolhem Reprodução/Ciee
  • Nota média de 9,1 reflete avaliação positiva dos estagiários sobre as empresas que os acolhem
    Nota média de 9,1 reflete avaliação positiva dos estagiários sobre as empresas que os acolhem Reprodução/Ciee

Perspectivas sobre o mercado

Por fim, a pesquisa também investigou as opiniões dos estagiários sobre o futuro do mundo do trabalho. Embora a carteira de trabalho digital e a flexibilização das relações de emprego estejam em pauta, 63% dos estagiários discordam da ideia de que o registro em carteira de trabalho deixará de ser uma realidade nos próximos anos. 

Além disso, 60% dos entrevistados não acreditam que a modalidade CLT retira a liberdade das pessoas, destacando a preferência por uma relação de trabalho formal e protegida. “O que nos mostra que esses novos profissionais querem estabilidade e os seus direitos trabalhistas assegurados, ou seja, a CLT segue sendo um sonho para a geração Z também”, pontua Monica.

Ciclo virtuoso

De acordo com Monica Vargas, os resultados da pesquisa retratam o cenário macroeconômico do país, evidenciando o peso econômico e social dos estagiários no Brasil, além de trazer à tona suas preocupações e expectativas em relação ao futuro profissional em um cenário de incertezas econômicas e transformações no mercado de trabalho. 

A gestora acredita que programas de acesso ao mundo do trabalho estruturados, como o estágio, garantem aos jovens oportunidades qualificadas. “Dito isso, o estágio é um programa que não requer grandes arranjos na empresa, e é capaz de mudar a perspectiva dos jovens que estão buscando uma oportunidade. É com esse começo que temos o início de um ciclo virtuoso”, garante.

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