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Censo 2022: DF lidera nível de escolaridade, mas desigualdades persistem no Brasil

Levantamento do IBGE revela avanços na educação nas últimas duas décadas, mas destaca disparidades regionais, raciais e de gênero no acesso ao ensino superior e na média de anos de estudo. DF é destaque positivo nos rankings

Marina Rodrigues
postado em 26/02/2025 18:07 / atualizado em 26/02/2025 19:00
Censo Demográfico 2022 ponta avanços e desafios na educação brasileira. DF lidera rankings no ensino superior -  (crédito: Colégio Arvense/Divulgação)
Censo Demográfico 2022 ponta avanços e desafios na educação brasileira. DF lidera rankings no ensino superior - (crédito: Colégio Arvense/Divulgação)

Os dados preliminares da amostra do Censo Demográfico 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira (26/2), evidenciam uma evolução nos indicadores educacionais do Brasil nas últimas duas décadas. No entanto, disparidades regionais e sociais ainda são marcantes. O Centro-Oeste, em especial, o Distrito Federal, mantém-se como referência educacional no país, enquanto estados do Norte e do Nordeste ainda enfrentam desafios para elevar o nível de instrução da população.

A pesquisa aponta que, em 2022, 18,4% da população brasileira com 25 anos ou mais possuía ensino superior completo, um avanço considerável em relação aos 6,8% registrados no ano 2000. O DF lidera o ranking, com 37% da população nessa faixa etária com nível superior, seguido por São Paulo, que registra 23,3%. Já o Maranhão ocupa a última posição, com 11,1%.

No mesmo sentido, a proporção de pessoas sem instrução ou com fundamental incompleto caiu de 63,2% para 35,2% no mesmo período no país. O DF também registrou a menor proporção de pessoas com 25 anos ou mais “sem instrução e com fundamental incompleto”, com 19,2%, sendo o maior índice no Piauí, com 49,1%.

“Se olharmos o grupo de 25 anos ou mais de idade, podemos observar que a proporção de pessoas com ensino superior completo quase que triplicou nos últimos 20 anos. No ano de 2000, esse percentual era de 6,8%, e em 2022, passou para 18,4%. Por outro lado, o percentual de pessoas sem instrução ou fundamental incompleto, quase que reduziu pela metade. Nos dados de 2000, esse percentual era de 63,2%, e passou para 35,2% agora em 2022”, explica Juliana Queiroz, analista da divulgação do IBGE, em áudio publicado pelo portal.

Mais tempo e diversidade

De acordo com o Censo, Brasil alcançou uma média de 9,6 anos de estudo entre pessoas com 25 anos ou mais. Entre as unidades da Federação, o DF se sobressai com a maior média do país, chegando a 11,8 anos, enquanto o Piauí registra o menor valor, com apenas 7,9 anos. Entre os municípios, São Caetano do Sul, em São Paulo, lidera o ranking com 12,7 anos, enquanto Breves, no Pará, apresenta a menor média, com 6,5 anos. A diferença também é perceptível entre os sexos: as mulheres apresentam média de 9,8 anos de estudo, superior aos 9,3 anos dos homens. Essa vantagem feminina é mais expressiva até os 49 anos, mas declina a partir dos 50. 

Os dados também mostram um aumento expressivo da presença de pretos e pardos no ensino superior: em 2022, 25,8% dos brancos com 25 anos ou mais possuíam diploma universitário, enquanto, entre os pardos, essa taxa foi de 12,3% e entre os pretos, 11,7%. Cursos como medicina, odontologia e economia apresentam maior concentração de pessoas brancas, cerca de 75%, enquanto Serviço Social se destaca por ter maioria preta e parda, totalizando mais de 50% dos formados na área.

“A primeira observação que a gente pode fazer é notar que brancos, pretos e pardos tiveram um avanço no percentual da sua população com ensino superior completo. A proporção de pretos e pardos de 25 anos ou mais com ensino superior no Brasil quintuplicou nos últimos 20 anos. No entanto, ainda observamos uma desigualdade entre brancos, pretos e pardos. 2022, 1/4 da população branca tinha ensino superior completo. Isso é mais do que o dobro da proporção entre pretos com 11,7 e pardos com 12,3”, esclarece Juliana. 

O número de anos de estudo é calculado pelas informações da série e nível ou grau que a pessoa estava frequentando ou havia concluído. Para o ensino fundamental completo, foram considerados 9 anos de estudo; ensino médio completo, 12 anos, e ensino superior completo, 16. Especializações de nível superior, como mestrado e doutorado, não adicionam anos de estudo à metodologia aplicada, sendo 16 anos o valor máximo.

Ensino superior

A graduação em gestão e administração foi a mais concluída no Brasil, seguida por formação de professores sem áreas específicas e direito. No DF, há um destaque para a área da saúde: há um graduado em medicina para cada 186,9 habitantes, enquanto, no Maranhão, essa relação é cinco vezes maior, com 921,7 habitantes por médico formado. 

A pesquisa também revelou o domínio feminino em cursos voltados para o cuidado, como serviço social, em que 93% dos graduados são mulheres, Enfermagem, com 86,3%, e formação de professores, em que elas representam 92,8% dos egressos. Em contrapartida, os homens são maioria em cursos de exatas, como engenharia mecânica e metalurgia, com 92,6% dos concluintes.

“Nós podemos observar a diferença interessante quando analisamos a distribuição por cor raça dentro de diferentes cursos de graduação. Medicina, por exemplo, destaca porque o maior percentual de pessoas declara por cor raça branca, com 75,5%. Economia e odontologia tem um resultado semelhante com cerca de 75% das pessoas com graduação concluída nessas áreas que se declaram branco. No extremo Oeste, o serviço social aparece uma área com maior percentual de pessoas pretas e pardas, que totalizam mais de 50%”, pontua Juliana.

Educação básica

A taxa de frequência escolar aumentou em todas as faixas etárias, com destaque para a educação infantil. Entre crianças de 0 a 3 anos, a taxa subiu para 33,9% em 2022, um aumento de 24 pontos percentuais desde 2000. Ou seja, 33,9% das pessoas de 0 a 3 anos frequentava creche ou pré-escola. Já no grupo de 4 a 5 anos, a frequência atingiu 36,7%. Entre jovens de 6 a 14 anos, o índice chega a 98,3%, mas cai para 85,3% na faixa de 15 a 17 anos, e despenca para 27,7% entre jovens de 18 a 24 anos, evidenciando desafios na continuidade dos estudos.

“Esses primeiros dados indicam uma aproximação da meta do Plano Nacional de Educação (PNE), que é de uma frequência de 50% para esse grupo etário. Entre o grupo de 4 a 5 anos, a taxa de frequência escolar bruta foi de 36,7%, o que indica um aumento de mais de 35% em relação aos anos de 2000. E também, tendo uma aproximação para a universalização do ensino nessa faixa etária”, diz a representante.

Para Juliana, quando se compara a taxa de frequência escolar bruta nas grandes regiões do país, é possível observar diferenças importantes. “O Norte apresenta a menor taxa de frequência em todos os grupos etários, exceto do último 18 a 24 anos. Nas idades iniciais de 0 a 3 anos e de 4 a 5 anos, é onde podemos encontrar a maior variação na taxa de frequência entre as grandes regiões do país", destaca.

"Quando observamos o número médio de anos de estudo por sexo no Brasil, podemos notar uma vantagem das mulheres em relação aos homens. Essa vantagem é mais expressiva até a faixa de 50 a 54 anos. A partir daí, essa vantagem vai declinando até que na última fase, de 80 anos ou mais. Os homens aparecem com uma leve vantagem de 0,1 anos em relação às mulheres", conclui Juliana.

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