futuro em pauta

Evento gratuito discute economias do futuro e formação profissional

Voltado a jovens em São Paulo, o Trampos do Futuro conta com palestras, oficinas e bancos de oportunidades para o mercado. Atividades ocorrem entre esta quarta (19/2) e quinta-feira (20/2) na Fundação Bienal

Júlia Giusti*
postado em 19/02/2025 23:29 / atualizado em 20/02/2025 16:43
Evento reúne 3 mil pessoas na Bienal de São Paulo -  (crédito: Júlia Giusti)
Evento reúne 3 mil pessoas na Bienal de São Paulo - (crédito: Júlia Giusti)

De forma inédita, o evento “Trampos do futuro: arte, cultura e educação” reúne, gratuitamente, jovens paulistas para discutir as economias do futuro e formação profissional, aproximando-os do mercado de trabalho. Promovido pelo Itaú Educação e Trabalho, uma das frentes da Fundação Itaú, o encontro ocorreu nesta quarta-feira (19/2) e vai até quinta (20/2), na Fundação Bienal de São Paulo, que fica no Parque Ibirapuera. A previsão é de que o espaço receba 3 mil pessoas entre os dois dias; só no primeiro, foram 1.800.

A programação conta com palestras, oficinas e bancos de oportunidades para os jovens, que podem trocar experiências com escolas profissionalizantes e instituições responsáveis por capacitá-los para o mercado de trabalho. Além disso, há exposições de projetos de pesquisa e inovação, mentoria sobre carreira e rodas de conversa sobre o futuro das profissões. 

“A agenda para as juventudes ligadas ao trabalho é muito empobrecida, então quando a gente faz um evento desses, em que os jovens falam para os jovens, trazendo suas experiências e as economias do futuro, percebemos um grande interesse por parte deles, tanto pelas práticas quanto pelas palestras, que estão lotadas. Eles têm sede de conhecimento, por isso, a ação é fundamental porque abre um espaço para que eles tenham contato com a educação e o trabalho”, defende a superintendente do Itaú Educação e Trabalho, Ana Inoue.

Ana Inoue, superintendente do Itaú Educação e Trabalho
Ana Inoue, superintendente do Itaú Educação e Trabalho (foto: Júlia Giusti)

Palestras

Divididas em eixos temáticos, que levam em consideração “como é trabalhar com” as economias do futuro, as palestras abordam as tendências profissionais atuais e, principalmente, quais oportunidades estão disponíveis para a juventude. Entre os eixos, estão: meio ambiente e sustentabilidade; longevidade e gerações; arte, cultura e tecnologia; tecnologia e inovação; apoio à saúde mental. 

Amanda Costa, 28 anos, foi uma das convidadas para falar sobre sustentabilidade como futuro do trabalho. Fundadora do Instituto Perifa Sustentável, organização sem fins lucrativos que promove ações educativas em periferias, ela defende a ampliação do diálogo e a participação dos jovens para garantir um futuro sustentável, levando em consideração as realidades socioeconômicas. “Falar de clima é falar da vida, insegurança alimentar e moradia acessível; todas essas intersecções. Por isso, é preciso discutir a partir de um olhar horizontalizado, pensando em cuidar do planeta para as futuras gerações."

Já o artista digital Jean Guilherme, de 25 anos, fundou o Movimento 2050, produtora audiovisual da favela que apoia jovens a utilizarem o universo criativo de tecnologias e inovações. “É sobre poder realizar, expandir e recriar; entender a dinâmica para passar o conhecimento”, diz. A iniciativa valoriza o uso de Inteligências Artificiais (IAs) e outras ferramentas que têm se popularizado no mercado de trabalho, inserindo-se no campo da economia criativa. Na visão de Jean, “o que mais tem são jovens interessados em aprender, mas faltam oportunidades, por isso, a profissionalização da mão de obra em tecnologia é fundamental."

Andreza Rocha, do AfrOya Tech Hub: "É preciso encontrar formas sustentáveis de desenvolver tecnologias"
Andreza Rocha, do AfrOya Tech Hub: "É preciso encontrar formas sustentáveis de desenvolver tecnologias" (foto: Júlia Giusti)

Seguindo na linha tecnológica, Andreza Rocha, criadora do AfrOya Tech Hub, que envolve o fomento de lideranças negras no ecossistema de tecnologia e inovação, percebe a expressividade dessa área, porém, sem que haja um modelo ideal para resolução de problemas. Para ela, um olhar para as minorias sociais pode potencializar os resultados. “A grande corrida é encontrar uma maneira mais sustentável de desenvolver as tecnologias, porque ainda estamos experimentando as implementações. Quanto mais pessoas diversas nessas áreas, mais indivíduos serão incluídos nas soluções, o que vai promover mais a inovação de produtos”, defende. 

Outro eixo em destaque foi o de gerações, com Marcia Monteiro, de 58 anos, fundadora da Geração Ilimitada, que visa a diversidade geracional nas empresas. O movimento faz parte da economia prateada, que inclui lideranças com mais de 50 anos. Ela diz que, enquanto os jovens podem enfrentar dificuldades de ingresso no mercado de trabalho por falta de experiência, os mais velhos ficam de fora uma vez que saem dele, não conseguindo ingressar novamente. Considerando a idade como “fator transversal a todas as diversidades”, ela acredita que é importante que os jovens estejam abertos para o novo mercado, desconstruindo o etarismo, já que “todos vão envelhecer."

Apresentação de Camilo Coelho, do Instituto Felipe Neto, sugere conscientizar os jovens sobre saúde mental e educação midiática
Apresentação de Camilo Coelho, do Instituto Felipe Neto, sugere conscientizar os jovens sobre saúde mental e educação midiática (foto: Júlia Giusti)

Em relação à saúde mental, Camilo Coelho, do Instituto Felipe Neto, fala sobre a proposta de combinar essa questão com educação midiática, ao observar que muitos jovens têm sido afetados de maneira negativa pela internet e tecnologias digitais. “O mundo digital traz ansiedade e outros problemas de saúde mental, então queremos levar para eles a relação que devem ter com as tecnologias, tratando o problema, e não os sintomas”, destaca.

Atividades

O Serviço Social da Indústria (Sesi) é uma das instituições que participa do “Trampos do Futuro” com uma oficina de luta de sumô com robôs feitos de lego, proporcionando o aprendizado na área de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM) por meio da prática lúdica. “A gente traz manual de montagem e programação e faz um teste antes da competição para ver se os parâmetros estão certos”, conta a aluna do Sesi Lívia Garcia, 15 anos. Para ela, levar o projeto para outros jovens que não têm acesso a essas tecnologias é muito gratificante: “Ver as pessoas ficando felizes com isso é muito legal, vê-las sorrindo mostra que estamos fazendo a diferença."

Alunas do Sesi Ana Júlia Rodrigues (esq) e Lorena Souza (dir), 15 anos
Alunas do Sesi Ana Júlia Rodrigues (esq) e Lorena Souza (dir), 15 anos (foto: Júlia Giusti)

Lorena Souza e Ana Júlia Rodrigues, também de 15 anos e estudantes do Sesi, trouxeram ao evento um robô movido à luz. Lorena percebe a relevância da difusão do conhecimento no local, principalmente, pelo alcance de outros estudantes que, muitas vezes, não tiveram muitas oportunidades de contato com a robótica. “Quando você entra no projeto, você não tem noção do quão bom é estar aqui, isso abre uma porta para o mundo da ciência e da tecnologia”, compartilha. Ana Júlia considera que “estar aqui é um momento único”. Ela diz que já fez novas amizades, e vivenciar essa experiência é algo inspirador: “Quero levar isso para o meu futuro."

Equipe de robótica do Sesi
Equipe de robótica do Sesi (foto: Júlia Giusti)

“Os estudantes saem do ensino médio e são lançados no mundo do trabalho sem conhecimento, então é preciso que haja uma transição entre a educação e a vida profissional, por isso, acreditamos nessa integração desde o começo da escola até o ensino superior”, explica Fausto Augusto Junior, presidente do Conselho Nacional do Sesi.

A aluna Mariana Cordeiro, 15, com Erica Azzellini, no simulador de entrevistas por IA
A aluna Mariana Cordeiro, 15, com Erica Azzellini, no simulador de entrevistas por IA (foto: Júlia Giusti)

A Fundação Wadhwani, que promove o desenvolvimento econômico por meio da criação de empregos, oferece uma preparação para entrevistas por meio de IA, na qual o aluno escolhe uma carreira e a plataforma seleciona perguntas cabíveis para cada profissão. “A gente abre a câmera e o microfone para ele responder, como se estivesse simulando uma entrevista. Depois da gravação, damos um feedback do desempenho e como pode melhorar”, explica Erica Azzellini, uma das organizadoras da Fundação. A estudante Mariana Cordeiro, 15 anos, fez a simulação e relata uma experiência positiva: “Acredito que estou ainda mais preparada para quando buscar um emprego, porque são perguntas que você precisa refletir antes de responder, e tive todo o suporte aqui."

João Vitor Caíres, fundador do Instituto Kondzilla
João Vitor Caíres, fundador do Instituto Kondzilla (foto: Júlia Giusti)

O Instituto Kondzilla, que amplia oportunidades de inserção profissional para jovens de origem periférica e em situação de vulnerabilidade, realiza uma oficina de audiovisual e captação de imagens, pensando na força da economia criativa. “A arte, o audiovisual e a música não estão atrelados só a trabalho, mas também a lazer, entretenimento e identidade, então usamos isso para dialogar com os jovens, que têm culturas e gostos próprios, ao mesmo tempo em que os apresentamos ao mundo profissional”, expõe João Vitor Caíres, fundador do instituto. 

Theodoro Silva, 19 anos, atua com direção criativa no Instituto Kondzilla
Theodoro Silva, 19 anos, atua com direção criativa no Instituto Kondzilla (foto: Júlia Giusti)

Theodoro Silva, 19 anos, fez o curso de escola de criadores no Instituto Kondzilla aos 17 e conta que sua formação foi decisiva para a atuação no mercado de trabalho. Hoje, ele é filmmaker e assistente de direção criativa do instituto. “Esse tipo de evento é muito importante para a minha geração, justamente por oferecer esse conhecimento de diversas áreas e ter o contato com os profissionais diretamente, sem que precisemos nos aprofundar muito em pesquisas”, compartilha.

Árvore do amanhã
Árvore do amanhã (foto: Júlia Giusti)

O “Trampos do Futuro” também conta com a atração “Árvore do amanhã”, que incentiva os jovens a escreverem mensagens sobre suas expectativas e desejos para o futuro. O projeto é da Co.liga, escola de cocriação, colaboração e convivência que oferece cursos gratuitos em áreas criativas do mercado para jovens, como artes, design, música e tecnologia. “A árvore representa muito a parte da esperança, diversidade e inclusão. Foi muito legal ver esses jovens refletindo sobre suas trajetórias profissionais e cheios de sonhos tão diversos”, conta Gustavo Ueda, de 27 anos, integrante da equipe da Co.liga.

Equipe coliga
Equipe coliga (foto: Júlia Giusti)

A estudante Beatriz Alannis Souza, de 17 anos, conta que o contato com as tecnologias em alta é diferencial para o mercado de trabalho, mesmo para quem não pretende trabalhar diretamente com isso, como ela. Na “Árvore do amanhã”, Beatriz colocou os sonhos: “Quero ser oficial militar de carreira e ajudar meus pais, dar uma vida melhor para eles."

Estudantes escrevem sonhos na "Árvore do amanhã". Beatriz Souza (direita), 17, colocou: “Quero ser oficial militar de carreira e dar uma vida melhor para os meus pais"
Estudantes escrevem sonhos na "Árvore do amanhã". Beatriz Souza (direita), 17, colocou: “Quero ser oficial militar de carreira e dar uma vida melhor para os meus pais" (foto: Júlia Giusti)

*Estagiária sob a supervisão de Marina Rodrigues

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