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Denúncia

Estudante com câncer denuncia negligência da UnB para concluir curso

Fábio teve que interromper os estudos para dar continuidade ao tratamento e agora enfrenta obstáculos burocráticos e falta de apoio da universidade para retomar sua graduação em psicologia

O estudante de psicologia Fábio de Abreu Gonçalves Filho, 29 anos, tem enfrentado uma série de desafios para retomar sua graduação na Universidade de Brasília (UnB) após ter de interromper os estudos, em 2022, devido ao tratamento de um câncer no cérebro.

"Decidi retornar para Brasília ano passado, quando minha condição de saúde permitiu o meu regresso e retomada dos planos, mas não consegui me manter em Brasília sem auxílio-aluguel ou vaga na Casa do Estudante", conta. Fábio relata negligências da universidade, que nega os pedidos de auxílio: "Eu me formo em um semestre, só estou pedindo um teto!", desabafa o formando.

Auxílios negados

De acordo com o estudante, entre 2017 e 2022, ele foi beneficiário dos auxílios alimentação e moradia oferecidos pela UnB para estudantes de baixa renda de fora do Distrito Federal. Em 2024, após ter sua saúde estabilizada, decidiu retomar os estudos e solicitou novamente os auxílios. Porém, o pedido foi negado, com base na alegação de que não teria declarado todas as contas bancárias em seu nome. Fábio contesta: "Desde 2017, não criei nenhuma conta nova, mas eles afirmam que há uma conta desconhecida por mim. Não consigo entender de onde veio essa informação", manifesta.

Após a primeira tentativa, o estudante fez uma nova solicitação de auxílio-emergencial para cobrir despesas, como passagens. De acordo com Fábio, o pedido demorou a ser analisado e acabou sendo negado, dessa vez sem explicações detalhadas. "As respostas que recebo são protocolares. Ninguém entrou em contato para entender minha situação ou oferecer algum apoio concreto", expõe. 

Erros

Quando Fábio foi fazer a rematrícula, outro obstáculo surgiu: um erro indicava que ele havia sido desligado da universidade. Após questionar o Serviço de Atendimento ao Aluno (SAA), a situação foi corrigida, mas os problemas não acabaram por aí. Dois estágios realizados antes do afastamento não constavam em seu histórico acadêmico. Com o apoio da coordenadora do curso na época, Silvia Renata Magalhães Lordello Borba Santos, ele reuniu documentos antigos e conseguiu comprovar a conclusão dessas atividades.

Natural de São Paulo (SP), o graduando conta que chegou a passar algumas semanas em Brasília, hospedado na casa de um amigo no Cruzeiro Novo, enquanto aguardava uma resposta da Diretoria de Desenvolvimento Social (DDS) sobre o auxílio-emergencial. Sem retorno, precisou voltar para SP. Agora, ele afirma estar aguardando a análise de uma nova solicitação de auxílio, mas teme que a negativa se repita. "Considerando que não esclareceram a questão das supostas 'contas bancárias', acredito que o auxílio será novamente negado", lamenta. 

Resposta da universidade

Em nota enviada ao Correio, a UnB informou que o estudante foi beneficiário dos auxílios socioeconômicos, como moradia e alimentação, entre 2020 e 2023 e que os auxílios são renovados semestralmente com base nos critérios estabelecidos em editais públicos. A universidade explicou que, em 2024, Fábio participou do processo seletivo do primeiro semestre e foi notificado sobre a necessidade de corrigir e complementar a documentação apresentada. Segundo a universidade, documentos obrigatórios não foram entregues, impossibilitando a avaliação socioeconômica do estudante.

A nota também esclarece que, no segundo semestre de 2024, Fábio realizou uma nova solicitação, que está, atualmente, em análise. A DDS informou que tem priorizado casos de estudantes que não conseguiram concluir seus processos em ciclos anteriores e destacou que o atendimento aos alunos é realizado por meio de diversos canais, como e-mail, telefone e presencialmente nos câmpus.

Fábio afirma que seguirá tentando retomar seus estudos e finalizar o curso. Ele destaca que já considerou protestar em frente à reitoria e à DDS, mas que se sente desamparado e exausto. "Não sei quanto tempo de vida tenho, mas gostaria de me formar, concluir o que comecei e, se puder, trabalhar com o que gosto e dar um sentido para minha vida", compartilha o estudante.

*Estagiário sob a supervisão de Marina Rodrigues