As provas da 2ª etapa do Programa de Avaliação Seriada (PAS) foram aplicadas neste domingo (8/12) no Distrito Federal e em municípios de Goiás e de Minas Gerais. Os 18,5 mil inscritos tiveram cinco horas para resolver 110 questões e escrever a redação. Essa foi a primeira vez em que o Cebraspe, banca organizadora do exame, disponibilizou, na 2ª etapa, dois temas — queimadas e Lei Maria da Penha.
Os estudantes puderam escolher, entre duas opções, sobre qual tema discorrer. Uma seria escrever uma carta ao Ministério do Meio Ambiente, expondo os efeitos das queimadas de grandes proporções na saúde dos brasileiros e a importância do uso de tecnologias avançadas para evitar incêndios criminosos. Outra seria escrever uma carta destinada a Carmen, uma personagem fictícia do século 19, expondo como poderia ter sido o final de sua história caso, em sua época, existissem leis como a Maria da Penha.
Para Waldson Muniz, professor de língua portuguesa, os dois temas são atuais e de fácil desenvolvimento por candidatos bem preparados. "O tema sobre danos ao meio ambiente é atualíssimo por causa da emergência climática e, por isso, sempre trabalhado com os alunos. O tema da violência contra a mulher, infelizmente, é sempre uma possibilidade dada a triste realidade dele no Brasil", analisou.
Tatiana Soares Vidal, professora de língua portuguesa na Maple Bear, lembrou que, no ano passado, a 2ª etapa também cobrou carta argumentativa, gênero textual que, geralmente, é trabalhado nas escolas. "A UnB está inovando, trazendo duas opções de temas, mas mantendo o mesmo gênero textual, o que é característica das universidades de São Paulo", disse. Ela avaliou que são duas questões superinteressantes, citando que as queimadas foram, neste ano, manchetes no mundo inteiro.
Frustração
O Correio esteve no campus Darcy Ribeiro, da Universidade Brasília (UnB), para acompanhar a movimentação pré-prova e conversar com os candidatos. Sob calor de quase 30°C, os estudantes aguardavam, ansiosos, a abertura dos portões ao lado de amigos e familiares. O nervosismo de quem estava prestes a fazer um teste para conseguir a vaga dos sonhos estava estampado no rosto da maioria dos inscritos.
Após o fechamento dos portões, formou-se uma confusão em frente ao portão do Pavilhão João Calmon. Revoltada, Mársia Oliveira, 51 anos, mãe da estudante Giovana Oliveira, 16, gritava que a filha havia sido prejudicada por causa do porteiro que administrava os portões do pavilhão.
Segundo ela, as duas chegaram por volta das 12h10 e questionaram o funcionário se aquele seria o local indicado no cartão. No entanto, ele teria, na versão dela, olhado o endereço e afirmado que o local correto seria o prédio à frente. Após enfrentarem um trânsito lento até o novo endereço, mãe e filha descobriram que o certo era, na verdade, onde estavam antes. Seguiram novamente para o prédio anterior, mas chegaram dois minutos depois de o portão ser fechado.
Aos prantos, Giovanna implorou para entrar, mas ouviu dos funcionários que o edital não permite após o horário marcado. Ao Correio, a estudante, que mora no Paranoá e frequenta uma escola pública da região, contou, em meio às lágrimas, que deseja cursar psicologia na Unb e havia se preparado durante o ano inteiro para a prova. "Ele destruiu o sonho de uma adolescente por não estar capacitado para executar sua função", disse Mársia, nervosa.
Outros atrasados e seus familiares tomaram as dores da mãe e da filha e gritaram, juntos, para que a entrada da jovem fosse liberada. A reportagem tentou conversar com o porteiro apontado por mãe e filha, mas ele preferiu não se pronunciar.
Atraso
A jovem Ingred Ghenefer Ribeiro, 17, veio de Luís Eduardo Magalhães, na Bahia, para realizar a prova, mas não conseguiu chegar a tempo. Ingred saiu da Bahia no início da noite de sábado e chegou a Brasília ontem pela manhã. Sem fazer a prova, ela embarcou de volta para casa às 21h. "Só vim aqui pra isso. É muita angústia, especialmente comigo mesma", completou.
A estudante estava com a mãe, Hallyne Ribeiro, 44, que ressaltou as dificuldades enfrentadas até chegar à capital federal. "Superamos oito horas de viagem, o ônibus quebrou, tivemos muitos transtornos. Chegamos na UnB, mas fomos ao prédio errado. Quando acertamos, já eram 12h31", lamentou.
Apoio
Muitos outros familiares fizeram questão de acompanhar estudantes. Valdemira Souza e Luno Souza, avó e pai de Geovana Lima, 16, ressaltaram a importância de estar perto. "Todo estudante precisa estar acolhido pela família, que deve participar junto desses sonhos, sem nenhuma cobrança e com total apoio", disse Luno.
Do lado de fora do local de prova, Felipe Wanderloff, 17, esperava, debaixo da sombra, acompanhado de sua mãe, Camili Wanderloff, 46. "Ele estudou bastante, fez muitos simulados. Felipe pensa em fazer medicina e sempre digo para não absorver o que as pessoas falam sobre ser difícil. Se é o que ele quer, deve tentar até conseguir. Estou aqui para apoiá-lo", declarou a mãe.
Quem não tinha os familiares por perto, contou com os amigos. Felipe Alves, 16, acompanhado de seu amigo, o jovem Pablo Luiz, 17, estava tão empolgado que chegou ao local de prova mais cedo do que o habitual. “É melhor prevenir do que remediar, né?”, completou o estudante, que chegou na UnB às 10h.
Amigo de Felipe há mais de 6 anos, o jovem Pablo Luiz, 17, estava tranquilo. De acordo com ele, a rotina de estudos foi intensa, já que se dividiu entre a escola e o trabalho na área da gastronomia — caminho que pretende seguir no futuro. “Estudava mais de 5h por dia, essa corrida diária foi trabalhosa. Tive que me organizar, e planejei tudo da maneira certa”, detalhou.
Em 15 de dezembro, será realizado o PAS 1.