A professora Rozana Naves tomou posse, ontem, como reitora da Universidade de Brasília (UnB), sendo a primeira brasiliense a ficar à frente do cargo na história da instituição. Em entrevista exclusiva ao Correio, ela adiantou que, na próxima quarta-feira, a UnB receberá a visita do ministro da Educação da China, Huai Jinpeng, no câmpus de Planaltina. A vinda da autoridade asiática pretende abrir caminho para a cooperação no âmbito agrícola. Momentos depois, durante a cerimônia em que assumiu seu posto, ela destacou seu projeto de gestão participativa, durante a vigência de sua autoridade, até 2028.
Sobre a visita, Rozana afirmou que Huai virá com uma grande delegação, grupo que terá a presença do reitor da Universidade Agrícola Chinesa, Zhenghe Song. Esse encontro ocorrerá no âmbito das atividades do Centro Brasil-China de agricultura familiar. Esse projeto, criado pela UnB, é coordenado por educadores do câmpus de Planaltina. "A visita deve funcionar como uma parceria proveitosa com o Ministério da Educação da China e a Universidade Agrícola Chinesa, na linha dos implementos agrícolas, especialmente para a agricultura familiar, além de atuar na área de bioinsumos e estar muito ligada às questões de clima e de segurança alimentar", destacou a nova reitora.
Ela também comentou sobre o projeto de justiça socioambiental, que está entre suas propostas de campanha e que pretende implementar. "A gente tem diversas ações voltadas ao tema. Vamos iniciar, de imediato, a discussão sobre a criação de um Instituto do Clima", pontuou. "Estamos vendo quanto a pauta da emergência climática é urgente e tem sido debatida no cenário mundial. Vamos contar com a expertise dos nossos professores e técnicos que atuam na área e que, por meio dos seus grupos de pesquisa, poderão constituir núcleos que vão dar origem ao instituto", detalhou. "Iniciamos alguns diálogos sobre o assunto fora da UnB, com parceiros que, futuramente, poderão financiar pesquisas e investir na criação do instituto", acrescentou Rozana.
Pioneirismo
A reitora também ressaltou outras prioridades da sua gestão. "Estamos trabalhando, desde o período da transição, para implementar ações iniciais que indiquem à comunidade acadêmica como será a atuação do nosso programa de gestão", explicou. "Temos estudado a criação de uma Secretaria de Esporte, Arte e Cultura, como uma atividade transversal, que vai promover a permanência dos estudantes. Também vamos criar um Comitê de Enfrentamento à Desinformação, como parte da nossa gestão participativa e de democracia interna", prometeu.
A professora Rozana aproveitou para explicar como vai funcionar a gestão descentralizada e participativa. "Vamos criar um grupo de trabalho que vai elaborar os mecanismos de gestão. A gente está em final de exercício financeiro. Então, para 2025, logo que a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentária) for instituída, teremos a oportunidade de consultar a comunidade a respeito das prioridades orçamentárias. É a primeira vez que vamos trabalhar dessa forma", afirmou. "Além disso, cada decanato está com a tarefa de criar instâncias de diálogo com a comunidade, para além das câmaras que cada um deles preside", garantiu.
Sobre outro da sua campanha para a reitoria, o combate à evasão estudantil, a nova reitora enfatizou que vai fazer um estudo de viabilidade orçamentária e de demanda da comunidade. O propósito é avaliar a melhor maneira de aplicar os recursos do Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAE), além de escutar os estudantes sobre as demandas prioritárias desse público. "Principalmente, no contexto da manutenção do reajuste das bolsas, que já foi feito. Também vamos abrir diálogo sobre o Restaurante Universitário, que era uma das nossas propostas, e viabilizar o intercampi — oferta de transporte gratuito entre os campi da UnB — ainda no primeiro semestre de 2025, o que será um desafio muito grande", pontuou.
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Cortes
Apesar de acreditar que é possível viabilizar os projetos que propõe, para a nova reitora um dos principais temores é o corte de gastos. Em relação ao assunto, Rozana Naves admitiu que há o receio de que a UnB perca verbas em 2025. "Só que o governo federal tem tido uma postura muito proativa no diálogo com as universidades, além de um cuidado muito grande com o campo da educação", ponderou. "A gente espera, realmente, que a nossa área não seja alcançada pelos cortes, mas, por ter essa possibilidade, estamos em contato com o Ministério da Educação e temos grandes possibilidades, por meio desse diálogo, de revertê-los", declarou otimista.
Sobre as obras de infraestrutura que estão em andamento na universidade, a nova gestora garantiu que dará continuidade àquelas que estão encaminhadas. "É muito ruim, para uma instituição pública, deixar obras paradas. Mas há várias outras que ainda não foram discutidas com a comunidade e que, durante o período de campanha, ficou evidente a necessidade de colocá-las em debate", comentou.
Cerimônia
Ao lado de seu vice-reitor, Márcio Muniz, Rozana participou da cerimônia de transmissão de cargo, no Auditório Lauro Morhy, do Instituto de Química (IQ), no câmpus Darcy Ribeiro, na Asa Norte. Em seu discurso, agradeceu à comunidade acadêmica pela mobilização e participação na construção de um projeto de gestão participativa e transformadora. "Para que a UnB se consolide como uma universidade inovadora, ousada, criativa e comprometida com os grandes desafios nacionais e globais, é essencial garantir que sua gestão e seu ambiente institucional sejam guiados por valores democráticos e ações voltadas à transformação social", avaliou.
Márcio Muniz, por sua vez, destacou sua gratidão e compromisso com a universidade, enfatizando a importância de retribuir o que recebeu ao longo de sua trajetória acadêmica. "Há 38 anos, a UnB abriu suas portas para mim. Quando cheguei aqui, em 1986, vindo das pequenas salas da PUC do Rio de Janeiro, fiquei maravilhado com o espaço e a amplitude de Brasília. A UnB nos ofereceu um lugar para sonhar, aprender e realizar. Devo tudo a esta instituição", disse emocionado.
Rozana Naves está sucedendo Márcia Abrahão — primeira mulher a gerir a UnB, função que ocupou por dois mandatos seguidos ao longo de oito anos — que, ao se despedir, destacou a emoção de concluir um ciclo significativo em sua trajetória profissional. Ela relembrou sua relação de longa data com a instituição. "Meu mais profundo agradecimento a todas e todos que confiaram em nossa capacidade de liderar e gerir uma das principais universidades públicas do Brasil e da América Latina", disse Márcia.