Estudantes da Universidade de Brasília (UnB) ganharam o prêmio de melhor jornal-laboratório do país na 30° Exposição de Pesquisa Experimental em Comunicação (Expocom) Nacional, promovida pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), o maior congresso de comunicação da América Latina. A premiação do chamado Jornal Campus, o mais antigo da modalidade em circulação no Brasil, desde 1970, ocorreu na última sexta-feira (6/9), na Universidade do Vale do Itajaí (Univali), em Balneário Camboriú (SC).
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As duas edições de 2023 da publicação, coordenadas pela professora Fernanda Vasques, venceram o prêmio nacional na categoria jornal-laboratório, disciplina voltada para a simulação de uma redação de jornal. Para a professora, o Campus tem papel fundamental na formação dos estudantes, “porque é a convergência de todos os conhecimentos adquiridos ao longo do curso”.
Na Expocom nacional, o jornal da UnB concorreu com trabalhos da Universidade Federal do Maranhão (Ufma), da Universidade Federal do Paraná (UFPR), da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUCMinas) e da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa). O Jornal Campus também foi premiado no Centro-Oeste, além de ganhar como melhor design de imprensa na fase regional. Para Fernanda Vasques, receber o prêmio é uma alegria e uma honra: “É uma satisfação incrível, os estudantes da Faculdade de Comunicação devem se orgulhar”.
Produção e inovações
Ambas as edições do Campus reúnem reportagens envolvendo questões sociais. A primeira edição de 2023, n° 455, foi feita no primeiro semestre por 11 estudantes e contou com 11 páginas, tendo como capa uma matéria sobre a desigualdade entre o Sol Nascente e o Lago Sul. Já a segunda edição, do segundo semestre de 2023, n° 456, foi produzida por 19 estudantes e teve 24 páginas, com o tema de capa sobre racismo no Judiciário. Confira as edições premiadas do Jornal Campus pelo link.
Como em uma redação de jornal, os estudantes foram divididos entre as funções de editor-chefe, editores de texto, arte, fotografia, web, diagramadores, checador e repórteres. Todos escreveram matérias, e a disciplina também contou com apoio de um monitor, aluno que passou pelo Campus no semestre anterior.
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Em 2023, algumas inovações incluem a criação de um Instagram para circular conteúdos do jornal, além de uma versão em audiodescrição da primeira edição, disponível no Spotify. “O Instagram é uma proposta de cobertura das rotinas produtivas do jornal, mas também de pensar nas pautas, circulando esse conteúdo no ambiente digital, o que é muito importante”, conta Fernanda Vasques.
Para a professora, os diferenciais do Campus para a conquista do prêmio foram justamente essas inovações, que valorizaram imagens e ilustrações e o diálogo com as diferentes audiências. “Nós estamos formando estudantes que estão se habilitando para novas práticas, de refletir sobre as audiências que são diversas e plurais. A gente vê para além da pauta, trazendo não só dados, mas como é possível solucionar problemas”, compartilha. Para ela, o jornalismo está em um momento de “reconfiguração midiática”, que deve preparar os estudantes para a qualificação da profissão.
Experiência
Alice Groth, 24 anos, foi editora-chefe e repórter na primeira edição do Jornal Campus e monitora na segunda, liderando o projeto na Expocom nacional. Com o objetivo de compreender os hábitos alimentares da população, sua matéria foi sobre a relação entre os alimentos ultraprocessados e o aumento de doenças. Ela relata que teve uma experiência muito enriquecedora, principalmente, pela liberdade na produção: “Foi diferente de todas as experiências que eu tive na faculdade, porque o jornal-laboratório dá essa liberdade para a gente exercer funções que, na maioria das outras matérias, não tivemos oportunidade”.
Como editora-chefe, Alice conta que acompanhou de perto todos os processos, desde a reunião de pauta até a versão final, aprimorando suas habilidades de lidar com as pessoas e de revisão crítica. “Eu sempre gostei de ser gestora, e foi muito legal ter essa responsabilidade, que me fez crescer como estudante e como futura profissional”, expõe. Ela também destaca a experiência como “desafiadora”, tanto pela parte da diagramação quanto pelo formato de divulgação do jornal, que não chegou a ser impresso. Alice ainda complementa: “Não caiu a minha ficha de que ganhamos o prêmio nacional”.
Sthefany Rocha, 21 anos, foi repórter de capa na segunda edição do Jornal Campus, com a matéria Cárcere negro, Judiciário branco. Ela conta que a escolha pelo tema foi motivada pela saída da ex-ministra Rosa Weber do Supremo Tribunal Federal (STF) e as constantes discussões sobre quem iria assumir o cargo. Assim, ela traçou um perfil sobre o Judiciário brasileiro, majoritariamente branco, enquanto a população carcerária é, na maior parte, negra.
“Nós decidimos a matéria de capa pensando no valor-notícia e no que estava sendo discutido, no que teria mais impacto social”, explica Sthefany. Para o design da capa, a estudante diz que a equipe fez uma intervenção artística em cima de uma foto do STF tirada pelos próprios alunos, evidenciando a mensagem de que “a Justiça no Brasil não é cega, pois sempre se olha a cor de quem está sendo julgado”.
Para Sthefany, fazer parte do Jornal Campus foi “a coisa mais importante que já fiz na faculdade, contribuindo para a minha trajetória profissional na questão de pensar processos de serviço e acessibilidade”. Ela também acredita que o apoio entre os alunos foi essencial, com um produto que integrou todas as matérias de forma “perfeita”.
Rayanne Nascimento, 21 anos, foi diagramadora e repórter na segunda edição da publicação, além de liderar o jornal na fase regional do prêmio. Sua reportagem trata da violência escolar sob uma perspectiva estrutural, buscando mostrar que as hostilidades no ambiente escolar se relacionam com a desigualdade e a violência na sociedade. Com uma equipe de quatro pessoas, a estudante diz que a elaboração do projeto gráfico foi uma experiência “desafiadora e coletiva, sendo um momento oportuno para exercitar a comunicação por meio de elementos gráficos e visuais”.
Assim como Alice e Sthefany, Rayanne compartilha que participar do Jornal Campus marcou sua trajetória estudantil e profissional, destacando o orgulho da equipe e do produto final. “Esse é o tipo de jornalismo que queremos construir, explorando o design editorial e todas ferramentas à nossa disposição: um jornalismo de resistência e com compromisso social”, relata.
*Estagiária sob supervisão de Marina Rodrigues
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