O Brasil é, novamente, palco de uma das maiores competições acadêmicas de eficiência energética do mundo: a Shell Eco-marathon. A partir desta quarta-feira (28/8), o Píer Mauá recebe 41 equipes de universidades de cinco países da América Latina — Brasil, Bolívia, Peru, México e Colômbia — para a 7ª edição do evento, que se estende até sexta (30).
Os carros serão avaliados com base em uma inspeção técnica e no desempenho em um circuito de cerca de 10 km, com a menor quantidade possível de combustível ou energia. Os estudantes competem com veículos em três categorias: combustão Interna (gasolina e etanol), bateria elétrica e hidrogênio, que estreou em 2023. A equipe que percorrer a maior distância com o menor consumo será a vencedora.
“O Shell Eco-marathon é um programa que temos implementado desde 1985 em todo o mundo para inspirar a próxima geração de engenheiros a aprender sobre eficiência energética e a desenvolver a mobilidade do futuro. É uma plataforma onde os futuros líderes da ciência, tecnologia e engenharia podem testar as suas ideias, a sua engenhosidade e encontrar soluções”, afirma Norman Koch, gerente-geral da Global da Shell Eco-marathon.
A primeira competição da série foi feita na França e, depois, foi espalhando-se pelo mundo. Em 2016, foi realizada uma edição especial brasileira em São Paulo, e, desde 2017, o evento é organizado no Rio de Janeiro. “A razão pela qual nos mudamos para o Brasil é que tínhamos um interesse tão grande neste país, e, na verdade, também na América do Sul, porque você vê equipes de cinco países diferentes aqui, que dissemos que valia a pena ter um evento próprio. É um longo caminho”, explica Norman, que revela que, em 1º de setembro, será lançada a temporada de 2025.
Expectativa
A equipe Milhagem, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é uma das concorrentes na Shell Eco-marathon 2024. O grupo, que já conquistou três títulos na competição, em 2019, 2022 e 2023, com o UFMG Elétrico, alcançou a marca de 367 km/kWh na última competição na categoria de bateria elétrica e está confiante em quebrar mais um recorde este ano.
Guilherme Boaventura, 18 anos, integrante da equipe, diz que a competição oferece uma oportunidade valiosa para aplicar na prática o conhecimento adquirido na universidade. “Para mim, essa competição é uma chance incrível de aprender e de colocar em prática muito do que estudamos na faculdade”, afirma.
Este ano, a equipe participa com dois modelos: um protótipo elétrico, tricampeão em edições anteriores, e um novo conceito Urbano, que faz sua estreia na competição. Os primeiros testes foram realizados nesta quarta-feira (28/8).
“Nós estamos muito animados para ver o que vai acontecer este ano, seja quebrando mais um recorde ou conquistando uma boa marca com nossos protótipos”, acrescenta Guilherme, destacando que a equipe tem até o final do dia de amanhã (29) para concluir a inspeção técnica e colocar o novo modelo na pista.
Gabriel Paulista, de 21 anos, é CEO da equipe Pato a Jato, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, campus Pato Branco. Ele e o time estão participando da Shell Eco-marathon com seu veículo, o Popygua, que detém o recorde latino-americano de eficiência com 767 km por litro de etanol.
Sobre o trabalho da equipe, Gabriel Paulista afirma: "Este ano foi desafiador, mas conseguimos bater nosso próprio recorde em um teste do carro. O Popygua foi construído com base em pesquisas e estudos constantes, e fazemos melhorias contínuas, incluindo atualizações na estrutura e no motor, para maximizar a eficiência e o desempenho do veículo", detalha.
Competição
A Shell Eco-Marathon desafia equipes de estudantes a projetar, construir e testar veículos altamente eficientes em termos de consumo de energia. Diferente de corridas tradicionais, como a Fórmula 1, o foco não está na velocidade, mas, sim, na eficiência energética e na sustentabilidade. Além disso, oferece uma plataforma para que estudantes apliquem seus conhecimentos técnicos em um ambiente prático e competitivo, estimulando a criatividade e a inovação.
Nesta edição, Minas Gerais se destaca com o maior número de equipes inscritas, totalizando 10. O Paraná terá nove equipes na competição, seguido por São Paulo, com cinco, e o Rio de Janeiro, com duas. Santa Catarina e Rio Grande do Sul participarão com três equipes cada, enquanto o Maranhão será representado por uma equipe. Entre os países da América Latina, oito equipes estarão competindo: três do México, duas da Colômbia, duas do Peru e uma da Bolívia.
Em 2023, a Drop Team, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, campus Erechim, estabeleceu um recorde de 716 km/litro na categoria combustão interna, enquanto a ARMAC Milhagem, da Universidade Federal de Minas Gerais, alcançou 367 km/kWh na categoria bateria elétrica.
Protótipos x conceito urbano
A diferença entre os protótipos e os veículos conceito urbano envolve tanto o foco dos projetos quanto a aplicação das tecnologias desenvolvidas. A classe protótipo é voltada para a maximização da eficiência energética, com veículos projetados para serem o mais eficientes possível em termos de consumo de energia. Esses carros são construídos com as especificações técnicas essenciais, como tamanho, rodas, eixos e sistemas de direção e travamento, mas com pouca preocupação com o conforto do piloto ou com a aparência do veículo.
Já a classe conceito urbano tem como objetivo replicar a funcionalidade de um carro comum, tornando o projeto mais complexo e abrangente. Além das especificações técnicas básicas, como dimensões e rodas, são levados em consideração aspectos como iluminação e desempenho em condições adversas, como pistas molhadas. Essa classe exige maior conformidade com regulamentações detalhadas, especialmente em relação a pneus e rodas.
Este ano, a categoria conceito urbano – semelhante aos carros comerciais, mas com alta eficiência energética – aumentou, com seis equipes competindo: três com veículos elétricos, uma com hidrogênio e duas com combustão interna. Os carros correm individualmente, ou seja, um por um, com uma velocidade mínina de 25 km/h.
Inspeção
Antes de entrarem na pista, os carros participantes passam por uma rigorosa inspeção técnica. Os veículos serão submetidos a uma série de testes para assegurar que estão em total conformidade com o regulamento da competição. Entre os itens verificados estão o sistema de freios, a parte elétrica, a pesagem do carro, o peso dos pilotos e outros aspectos essenciais para a segurança e o desempenho na corrida. Vale destacar que alguns carros podem ser desclassificados durante essa inspeção, ficando impedidos de competir.
Os vencedores de cada categoria recebem 1.500 dólares, o segundo lugar conquista 1.000 dólares e o terceiro lugar, 500 dólares. Além da premiação em dinheiro, os participantes têm a oportunidade de explorar de perto o universo automotivo e podem até ser contratados por equipes profissionais, sendo um excelente meio para ter visibilidade e ingressar no mercado de trabalho.
Veja como foi o segundo dia de evento e primeiro dia de competição
*Estagiário sob supervisão de Marina Rodrigues