Eu, Estudante

ARTIGO

Brasileiros em universidades norte-americanas: quando dá match?

Pesquisa aprofundada, boa orientação na aplicação e pragmatismo podem ser fatores decisivos para conquistar a aprovação

Por Simone Ferreira* — Não é só uma questão de nota. Nem de domínio do inglês. Ser selecionado para uma universidade norte-americana exige outras habilidades, seja características pessoais, seja a capacidade de escolher bem a instituição de ensino.

Não é ufanismo. Mas os brasileiros possuem, naturalmente, algo que os recrutadores norte-americanos valorizam. Vejamos o exemplo de uma aluna que foi aceita em dez universidades ao fazer uma redação sobre feijoada. Ou o aluno que compôs uma música para falar sobre sua paixão por rock. Eles tiveram boas notas nos exames de candidatura, verdade. Mas foi a criatividade aliada a uma boa história que os diferenciou dos demais. As redações e entrevistas são como um cartão de apresentação, no qual o aluno tem a oportunidade de mostrar algo a mais, seus interesses e a experiência de viver em um país em desenvolvimento. Nesse ponto, ao se colocarem como protagonistas de suas trajetórias, nossos estudantes podem se destacar.

Vivemos num país com muitas influências culturais e contrastes. Isso nos traz uma riqueza de referências e necessidade de adaptação em ambientes variados. Chegam até nós, à procura de orientação, jovens que superam dificuldades econômicas e limitações estruturais todos os dias. Moisés, adolescente do Crato, no Ceará, caminhava quase duas horas para ir ao colégio durante todo o ensino médio. Foi aceito com bolsa na prestigiada Universidade de Duke. Mariana vendia brigadeiro na escola para pagar o curso de inglês. Daniel apostou na paixão pelo futebol. Ao narrar fatos assim durante o processo de seleção, nossos jovens demonstram resiliência e capacidade de adaptação valiosas. Características altamente valorizadas pela sociedade norte-americana e que enriquecem a comunidade universitária.

Mas vamos a outra grande questão que separa os estudantes que são admitidos daqueles que não são: selecionar as universidades certas. É uma escolha estratégica, que envolve conhecer o perfil da instituição de ensino e avaliar se há encaixe com o perfil do aluno. Tive uma orientanda que foi aceita em cinco universidades com bolsa. O que ela fez de diferente? Pesquisou muito, foi realista e prática na seleção. O resultado é que vai embarcar para estudar nos EUA no início de setembro.

O Brasil possui 16.025 alunos nos EUA, é o nono país com mais estudantes em universidades estadunidenses. Está à frente do México e é o primeiro na América Latina. Os estados da Califórnia, Nova York e Texas são os que mais recebem estrangeiros, que, por sua vez, procuram majoritariamente faculdades de ciências computacionais, engenharia e negócios. Curioso que pouco mais da metade dos estudantes, 56%, arcam com os próprios estudos. O que vale dizer que um grande volume, cerca de 46%, conseguem recursos de outras fontes: bolsas fornecidas pelas instituições de ensino, financiamento das empresas empregadoras, apoio de organismos governamentais e privados, entre outras.

Existem mais de 3.800 universidades americanas, com perfis e custos diferentes. Existem os community colleges, que são instituições que oferecem cursos de dois anos com anuidades significativamente menores. Depois de completar o curso, o aluno pode transferir os créditos para universidades tradicionais e concluir os estudos. O diploma é emitido pela instituição onde o aluno se forma. E, por fim, existem inúmeros tipos de bolsas de estudo: por mérito, por habilidade artística, esportiva, por necessidade, dentre outras.

Do mesmo modo, existem universidades que, historicamente, não concedem bolsas. Já atendemos alunos que se candidataram para essas instituições na esperança de que, com excelente pontuação, receberiam descontos nas anuidades ou suporte financeiro. Contudo, não é assim que funciona. A barreira financeira pode ser contornada a partir de uma análise criteriosa das características da universidade. Reunir informações e se candidatar para uma lista compatível é um trunfo e tanto! Nessa hora, a pesquisa detalhada, boa orientação no processo de candidatura e pragmatismo fazem toda a diferença.

*Simone é orientadora do EducationUSA, órgão do governo norte-americano para estudos nos EUA.