inovação

Tablet criado pelo HUB-UnB é o primeiro do mundo a diagnosticar distúrbios no olfato

O Multiscent 20, como é chamado o dispositivo eletrônico, foi desenvolvido no Brasil com tecnologia de ar seco e libera 20 tipos de aromas, identificando doenças de acordo com as respostas dos pacientes

Marina Rodrigues
postado em 29/08/2024 19:34 / atualizado em 29/08/2024 19:39
Por meio do ar seco, os aromas são apresentados. A avaliação é feita a partir da quantidade de acertos ou erros no questionário -  (crédito:  Divulgação/HUB)
Por meio do ar seco, os aromas são apresentados. A avaliação é feita a partir da quantidade de acertos ou erros no questionário - (crédito: Divulgação/HUB)

O Hospital Universitário de Brasília (HUB-UnB), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), protagonizou uma pesquisa inovadora que promete revolucionar, mundialmente, a forma de investigação e diagnóstico de distúrbios olfativos. Destaque no cenário científico internacional, o estudo possibilitou a criação do primeiro tablet produzido no Brasil capaz de avaliar o olfato dos pacientes a partir da liberação de aromas digitais. Com a tecnologia, intitulada Multiscent 20, é possível identificar diversas patologias, como rinossinusite crônica, doenças neurodegenerativas e infecções. 

O tablet emite até 20 aromas pelo mesmo lugar por meio do ar seco, sem contaminação cruzada. Com 20 perguntas, é possível detectar se o olfato está ou não saudável, funcionando da seguinte forma: se o paciente acertar de 15 a 20 pontos, não apresenta alteração no olfato; se acertar de 11 a 14, está com perda parcial do sentido (hiposmia), e se acertar menos de 10, está com perda total (anosmia). O estudo foi encabeçado pelo otorrinolaringologista Márcio Nakanishi, do HUB, e contou com a colaboração de Cláudia Galvão, CEO da empresa de tecnologia Noar, responsável pela fabricação dos dispositivos eletrônicos. 

Fase de testes

A eficária do Multiscent 20 foi comprovada por diversos testes baseados na Teoria de Resposta ao Item (TRI), método estatístico que mede conhecimentos e habilidades em avaliações de múltipla escolha — utilizado, inclusive, no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O primeiro foi realizado com 180 pessoas no HUB, quando foi comparado o cheiro digital com o cheiro analógico (UPSIT Test). No caso do analógico, o teste foi feito em 16 minutos; já no digital, a testagem durou 12 minutos e o resultado foi imediato, o que marca o principal diferencial do dispositivo.

O segundo contou com 2.094 voluntários na fábrica da Noar, em São Paulo, onde foram constatados os intervalos indicadores das patologias. No início de 2022, os resultados do teste foram publicados na revista International Forum of Allergy and Rhinology (IFAR), reunidos no artigo The digital scent device as a new concept for olfactory assessment (O dispositivo digital de aroma como um novo conceito para avaliação olfativa, na tradução), elaborado por Cláudia Galvão e outros pesquisadores. 

Pontapé na pandemia

A pesquisa foi iniciada por Nakanishi em 2020, durante a pandemia, foi motivada pelos frequentes casos de perda súbita de olfato em pessoas infectadas com o vírus da covid-19. Os estudos foram evoluindo, até que foi firmada a parceria com a Noar, que, em dezembro daquele ano, apresentou a primeira versão do tablet.

Além de buscar a incorporação da tecnologia nos atendimentos do HUB, os pesquisadores trabalham, agora, para que a tecnologia seja disponibilizada aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) em todo o Brasil. Em ambos os casos, o projeto já está em processo de análise.

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