Em 2 de novembro de 2016, Katinayane Zolin, 27 anos, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) com apenas 19 anos, o que mudou o rumo da vida da jovem. Quase oito anos depois do ocorrido, ela está se graduando no curso de medicina na Universidade Federal de Roraima (UFRR), no qual ingressou em 2019.
Natural de Cuiabá, Mato Grosso, a jovem ficou internada por dois meses inteiros, só saindo em 31 de dezembro daquele ano. Em fevereiro de 2017, ela voltou para o cursinho, pois ainda queria se graduar em medicina, mas teve dificuldades para assistir às aulas e focar nos estudos, o que a levou a adaptar também a rotina de antes.
Katinayane apelidou esse momento de recuperação como “parte dois da vida", justificando que foi uma fase complicada por ter que reaprender coisas básicas, como andar e escrever. Na época, para tratar das sequelas, ela foi a diversos especialistas, como médicos, fisioterapeutas e fonoaudiólogos. “Eu perdi toda a mobilidade do meu lado direito do meu corpo. Então, por mais que eu quisesse voltar ao normal, não foi bem assim, foi um processo muito difícil, tive que reaprender a andar e a escrever de novo", lembra.
Além da ida a profissionais especializados, ela também fez outras atividades físicas para que melhorasse mais rápido a condição física. “Fiz tudo que podia me ajudar, como pilates, natação e até academia, então eu não parava. Porque, para mim, ficar do jeito que eu estava não era uma solução e não queria ficar daquele jeito."
Em busca do sonho
Katinayane quis cursar medicina para cuidar das pessoas e por observar as dificuldades dos sistemas de saúde pública, que afetaram não só a própria família, mas ela mesma depois do AVC.
Apesar de todas as dificuldades, ela continuou estudando para ingressar no curso, até que, no fim de 2018, foi aprovada no vestibular para medicina da Universidade Federal de Roraima (UFRR). “Isso tudo me motivou, porque, nesse período, vi muitos erros na área médica para pessoas como eu, e também vi muita inteligência, o que me fez querer mais ainda me tornar médica para tentar fazer a diferença.”
Ao mesmo que a entrada na universidade em 2019 foi a realização de um sonho aparentemente distante, a ideia também assustou a jovem, pela seguinte indagação: “será que vão olhar pra mim ou para as minhas sequelas? [Elas] vão me ver de verdade?”. “Então foi uma luta para com o meu interior, para que eu me conectasse comigo mesma, foi muito difícil, mas com o tempo, eu consegui e também conheci pessoas maravilhosas", conta.
Superando limites
Do início ao fim da graduação, que conclui este ano, Katinayane acredita que a superação de limites é um fator constante na própria vida, já que passou por dificuldades, como a realização de procedimentos médicos que exigiam habilidades manuais. “Eu consegui vencer as barreiras que coloquei para mim mesma, porque por mais que sempre seja otimista, também tenho medo e inseguranças, que juntam a insegurança normal, que todos têm, com as de minhas limitações."
Mesmo com a evolução na saúde, ela acredita que ainda está em recuperação, que segue para a vida toda, junto à resiliência que a jovem construiu para si. “Existem muitas coisas que eu pensei que seria capaz de fazer, mas vi que vou conseguir aos poucos, o que é uma quebra de barreiras comigo mesma, e uma superação que eu tenho diariamente", diz a vencedora.
*Estagiária sob supervisão de Marina Rodrigues
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