Quando estava no terceiro ano do ensino médio, em 2019, entrar em uma faculdade era algo distante da realidade de Lamôni Patriota, 22 anos. "Eu sabia que ter um curso superior seria importante, mas não via como uma possibilidade para mim. Ninguém da minha família teve essa oportunidade", disse. A perspectiva mudou quando a equipe do projeto EducAção divulgou, na escola do então adolescente, a chance de ingresso em um cursinho pré-vestibular, oferecido por estudantes da Universidade de Brasília (UnB). "A decisão de participar abriu muitas portas e mudou a minha vida", contou.
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O EducAção é um projeto de extensão criado há oito anos, que oferece aulas gratuitas no câmpus da UnB, em Planaltina, a estudantes de escolas públicas do Distrito Federal. O programa atende 60 alunos, de segunda a sexta-feira, e contempla as disciplinas de português, matemática, física, biologia, química, história, sociologia, filosofia, história da arte e inglês ou espanhol. "Nossa estimativa é que, desde 2016, 140 alunos foram aprovados em universidades públicas", destacou o coordenado Vítor Ullmann, 28, formado em ciências naturais e graduando em administração.
Para Lamôni, o fato de ser ensinado por universitários que também haviam passado por escolas públicas o incentivava a continuar estudando. Nas aulas, professores e estudantes trocavam experiências, criavam vínculos e compartilhavam sonhos. "Estudei muito, me senti preparado e, no ano seguinte, fui aprovado no curso de ciências naturais", celebrou. Agora, no fim da graduação, é ele quem motiva os alunos do cursinho, dessa vez, na função de supervisor do projeto.
"Tem muita gente sem perspectiva, mas quando os trazemos para cá e mostramos que viemos do mesmo lugar, apresentamos possibilidades. Meu irmão caçula, por exemplo, se sentiu motivado pela minha conquista e quer cursar medicina", comemorou Lamôni, que pretende partir para o mestrado assim que se formar. "Quero ser professor".
Direito, gênero e cidadania
O projeto de extensão Promotoras Legais Populares do Distrito Federal e Entorno (PLPs) nasceu em 2005 na Faculdade de Direito, da UnB, funcionando como uma rede de mulheres, que propõe a plena efetivação de seus direitos. Ancorada em um curso anual, com duração de oito meses, a iniciativa promove a formação das mulheres em noções de direito, gênero e cidadania a partir do método da educação popular, alinhada com as teorias de Paulo Freire e bell hooks.
"O curso não tem apenas o objetivo de dizer as leis para as mulheres, mas, principalmente, de criar um espaço em que elas se sintam coletivamente capazes de construir esses direitos, de pensar o que já está na lei, o que mais é necessário reivindicar, como gostaríamos que esses direitos fossem realizados na prática e como que as políticas públicas deveriam funcionar", explicou Lívia Gimenes, 41, professora da UnB e coordenadora do projeto PLPs.
Desde a fundação, cerca de 765 mulheres — de perfis econômico, social e cultural diferenciados — se formaram neste curso, que tem parceria com o Núcleo de Gênero do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). "À medida que as mulheres vão se formando, observa-se seu fortalecimento para lidar com desafios diversos, como situações de violência doméstica, por exemplo", disse Lívia. Além da violência de gênero, temas como direito das crianças, feminismo, exploração sexual infantil e tráfico de pessoas também são abordados nas oficinas.
No fim do curso, são criadas ações de intervenção social, como cartilhas e atos, e espera-se que as mulheres estejam preparadas para difundir e maximizar os seus direitos. Quando formadas, recebem o título simbólico de Promotoras Legais Populares. As oficinas ocorreram em Sobradinho, São Sebastião e Águas Lindas. Em Ceilândia, ponto fixo, os encontros são aos sábados, no Núcleo de Prática Jurídica da UnB.
Compromisso
Um projeto de extensão é o encontro e a interação da universidade com a comunidade. São atividades acadêmicas, coordenadas por professores ou técnicos-administrativos, que envolvem diferentes áreas do conhecimento e são necessariamente desenvolvidas por estudantes. Visam qualificar a formação do estudante, levando-o a refletir criticamente sobre a realidade e a propor soluções a partir da conversa com outros sujeitos, conforme explicou Olgamir Amancia, decana de extensão da UnB.
Nas universidades federais, 10% da carga horária da graduação precisam obrigatoriamente ser de ações de extensão. "Isso fortalece o compromisso da universidade com a sociedade e contribui para a formar cidadãos cada vez mais comprometidos com os problemas do país", destacou Olgamir. Em 2020, eram 165 projetos. Em 2023, o número saltou para 887. Neste ano, são 1.044 iniciativas, em oito áreas: comunicação, cultura, direitos humanos, educação, meio ambiente, saúde, tecnologia e produção & trabalho.
"O cenário da extensão na UnB é altamente promissor. Temos conseguido criar um movimento abrangente que reconcilia a universidade com suas origens de contribuição para o desenvolvimento social, conforme idealizado pelos nossos fundadores, Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira. Em essência, a extensão tem o potencial de alinhar melhor a instituição com as necessidades e os desafios contemporâneos", resumiu.
Os projetos de extensão...
» Permitem que os estudantes apliquem o que aprendem em sala de aula em situações reais, facilitando a transição do conhecimento teórico para a prática;
» Atendem às necessidades da comunidade local, fornecendo serviços que muitas vezes são inacessíveis ou escassos;
» Incentivam a consciência social e a cidadania entre os estudantes;
» Estabelecem redes de cooperação entre a universidade, empresas, ONGs e outras instituições;
» Estimulam a inovação e o desenvolvimento de novas tecnologias e soluções;
» Aumentam a visibilidade e o reconhecimento da universidade na comunidade e no meio acadêmico.
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