A semana começou com uma expectativa de que o presidente Lula faria um gesto decisivo para encerrar a greve nas universidades e nos institutos federais, que se arrasta há meses. Na segunda-feira, o presidente da República anunciou reforço no PAC da Educação e ampliou as verbas para as instituições de ensino superior. Encerrada a semana, a medida parece não ter surtido efeito.
Ontem, em mais uma rodada de negociação com os grevistas, o governo federal fez nova oferta, porém sem alterar as recomposições salariais apresentadas até aqui. O Ministério da Educação (MEC) se comprometeu a revogar a Portaria nº 983/2020, que elevou a carga horária mínima semanal dos docentes, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).
A normativa prevê o mínimo de 10h semanais para servidores de meio período da rede federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica e de 14 horas para quem tiver contrato em tempo integral. Até então, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) era usada para regulamentar a jornada de trabalho da classe. Nela, a carga horária mínima é de 8 horas semanais para a educação superior.
A revogação ocorreria imediatamente após a assinatura do acordo para encerrar a greve. Além disso, foi proposto um Grupo de Trabalho para elaborar uma nova regulamentação sobre o assunto junto à categoria. A proposta agradou os representantes das categorias, mas os sindicatos deixaram claro: a greve continua. Somente na próxima semana, após assembleias, é que o movimento pode ser suspenso.
"A (revogação da) portaria é o nosso primeiro ganho, nosso primeiro marco, na revogação das medidas do governo [do ex-presidente da República Jair] Bolsonaro", comentou Artemis Martins, coordenadora-geral do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe).
Para ela, a proposta é vantajosa. "(É) uma portaria que, mais do que estabelecer o aumento da nossa carga horária de trabalho mínima, descaracteriza a natureza da atividade docente ao nos impedir de fazer pesquisa, extensão e que possamos produzir ciência e tecnologia, o que também é nossa atribuição", observou.
Além do Sinasefe, participam das negociações o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) e a Federação de Sindicatos de Trabalhadores técnico-administrativos em educação das instituições de ensino superior públicas (Fasubra).
De acordo com o MEC, a reunião era para tratar de pautas não-orçamentárias, como progressão de carreira e a normativa. No entanto, o reajuste salarial de 4,5% ainda neste ano é uma das bases de reivindicação dos servidores.
Integrantes do Comando Nacional da Greve insistem que não irão assinar acordo para terminar a paralisação se não houver reajuste de salário neste ano. Ao Correio, representantes do Andes afirmam que o Ministério de Gestão e Inovação (MGI) se comprometeu em analisar novamente a situação e dar uma nova resposta.
Recomposição salarial
A última oferta do governo federal aos grevistas, feita em 27 de maio, prevê nenhum aumento em 2024, 9% em 2025 e mais 3,5% em 2026. Na ocasião, a Federação de Sindicatos de Professores e Professoras de Instituições Federais de Ensino Superior e de Ensino Básico Técnico e Tecnológico (Proifes) aceitou a negociação, contrariando as orientações do movimento unificado. Dois dias depois, o termo foi suspenso pela Justiça Federal e os três principais sindicatos do movimento afastaram a entidade das negociações.
Outro ponto chave para os grevistas é a recomposição orçamentária das instituições de ensino. Na última segunda-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou R$ 5,5 bilhões em recursos do MEC para obras de infraestrutura no ensino superior e a construção de dez novos campi de universidades e de oito novos hospitais universitários federais. O investimento integra o Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
A intenção do presidente era de que os grevistas colocassem fim à greve. No entanto, representantes das categorias explicaram ao Correio que, mesmo que haja o reajuste neste ano e eles aceitem o acordo com o governo, a decisão ainda será debatida em assembleias estaduais. Depois, uma última mesa de negociação firmará os compromissos assumidos pelo MEC e MGI. Há expectativa de que até o final da próxima semana já exista um posicionamento concreto acerca do aceite ou não da oferta do Executivo.
Segundo levantamento do Andes, pelo menos 50 universidades públicas estão paralisadas.
Saiba Mais
-
Economia PL que vê bioinsumos como agrotóxicos é "problema sério", diz presidente do GAAS
-
Economia Com maior consumos das famílias, Nordeste lidera crescimento no país
-
Economia Contra crise de confiança, Haddad anuncia foco em corte de despesas
-
Economia Dólar cai e fecha a R$ 5,36 após declarações de Haddad sobre revisão de gastos
-
Economia Sistema de reembolso do Pix mudará; entenda detalhes