A Universidade de Brasília (UnB) retornou às atividades hoje (26/6), após declarar greve no dia 15 de abril. Reivindicando melhores condições salariais e de trabalho, bem como recursos para a educação pública, grande parte dos professores federais paralisaram suas aulas durante 72 dias. O Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) se reunirá nesta quinta-feira (27/6), às 14h30, para decidir ajustes no calendário acadêmico.
Thiago da Conceição Pires, 23, estudante do quinto semestre de licenciatura em física, conta que, durante a greve, nem todas as suas matérias foram interrompidas. "Neste semestre, eu estava cursando três matérias de física e duas matérias no Instituto de Artes. Quando a greve começou, duas matérias continuaram sendo dadas, enquanto outras três foram interrompidas. Tenho receio de como a UnB irá lidar com essa situação. Se decidirem continuar com as matérias que não pararam, sem dar férias, meu semestre vai acabar ficando muito longo”, diz.
A caloura de arquitetura e urbanismo Sofia Garcia passou por algo parecido. O seu curso decidiu aderir à greve, mas um dos seus professores continuou dando aulas. “Para adiantar a matéria, esse meu professor continuou e resolveu dar duas aulas por semana ao invés de uma, e agora que as aulas voltaram, já acabamos a matéria dele”, explica. “Vai ser um pouco difícil continuar tendo aulas agora que todos estão de férias, mas estou feliz com o retorno. Ficar em casa sem fazer nada é difícil”, completa a estudante.
Para a graduanda de geologia Emanuelli Barbosa, a paralisação também significou um prejuízo financeiro. “A greve me impactou bastante, porque eu sou de Minas Gerais e acabei voltando para lá nesse período. Por isso tive as despesas de manter aluguel, internet, luz, água e condomínio aqui em Brasília. O retorno repentino também foi um pouco ruim para mim pois tive que me organizar e comprar a passagem de última hora, mas estou muito feliz com o retorno”, celebra.
O curso de medicina foi um dos menos afetados pela greve, tendo em vista que a maioria dos professores deu continuidade ao semestre. “No meu semestre, duas disciplinas estavam em risco de paralisação, porém minha turma, especificamente, tem uma peculiaridade: estamos entrando no internato agora, no segundo semestre de 2024. Por causa disso fizemos pressão enquanto turma para que a paralisação não acontecesse, pois isso atrasaria nosso ingresso no internato. Já temos algumas vagas garantidas por cada faculdade e correríamos risco de perder essas vagas caso não entrássemos na data correta”, explicou Catarina Praia, 22, estudante do oitavo semestre de medicina.
Trabalhadores
A professora da Faculdade Arquitetura e Urbanismo (FAU) Mirabel Aliaga não esconde a alegria de estar novamente em contato com os alunos. “Bom, em primeiro lugar, é preciso explicar que o professor não só dá aula, nós pesquisamos, trabalhamos na administração, orientamos alunos e também trabalhamos na pós-graduação. Trabalhamos o tempo inteiro, não deixamos de trabalhar. Acho que voltamos ansiosos, realmente acredito que todos os colegas estavam ansiosos. A universidade sem alunos não é nada. Precisamos dos alunos para que essa vida volte, para que a comunidade retorne e para que a universidade consiga exercer toda a importância que tem para Brasília”, compartilha.
O retorno das atividades na UnB afeta não só alunos e professores, como também os comerciantes que possuem negócios na UnB, como lanchonetes e papelarias. Francisco Damasceno, chapeiro em uma das lanchonetes do Ceubinho, afirma que o movimento estava ruim, mas mesmo sendo só o primeiro dia de aula, deu uma melhorada. “Durante a greve, o movimento no estabelecimento diminuiu consideravelmente, afetando nossas vendas. Infelizmente, durante a greve, precisamos demitir quatro pessoas devido a dificuldades financeiras, mas agora estamos contratando novamente para lidar com o aumento da demanda. Com o fim da greve, estamos vendo uma melhora significativa no movimento, embora ainda não tenha retornado completamente ao normal, estamos otimistas com os próximos dias”, afirma.
*Estagiária sob a supervisão de Marina Rodrigues
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