EVENTO EDUCACIONAL

Bett Brasil: Especialistas debatem as consequências da IA na educação

Palestra explorou embates entre tecnologia e uso humano, e os efeitos da inteligência artificial no aprendizado

Lara Costa*
postado em 23/04/2024 21:37 / atualizado em 23/04/2024 22:04
Painel do Brett Brasil sobre inteligência artificial e educação, com Ivan Cláudio Pereira à esquerda e José Brito Cunha à direita  -  (crédito: Lara Costa)
Painel do Brett Brasil sobre inteligência artificial e educação, com Ivan Cláudio Pereira à esquerda e José Brito Cunha à direita - (crédito: Lara Costa)

No primeiro dia da 29ª edição da Bett Brasil, maior evento de inovação e tecnologia para a educação da América Latina, pesquisadores debateram os desafios do avanço da inteligência artificial para a educação brasileira. O tema foi destaque no painel “Desafios e Oportunidades na conexão entre Inteligência Artificial e Inteligência Humana”, na tarde desta terça-feira (23).

A discussão foi mediada por José Brito, jornalista da Jeduca (Associação de Jornalistas de Educação) e teve as falas de Fábio Campos, professor da Universidade de Nova Iorque (NYU), e de Ivan Cláudio Pereira Siqueira, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA); ambos especialistas em inteligência artificial na educação.

Embates

Dentre os conflitos que envolvem a inteligência artificial, está a forma em que ela é utilizada pelos seres humanos. “Quando a inteligência artificial é usada para situações mais complexas, há o embate entre o humano e o artificial”, disse Fábio.

Para o professor, existem tensões com a IA relacionadas a aspectos contrários entre si: engenharia x pedagogia e automatização x diversificação. “Para lidar com essas tecnologias, é preciso ter pedagogia para usá-las de modo que os alunos aprendam de fato, por isso que a educação é importante”.

A automatização é um aspecto notável na inteligência artificial, porque faz o estudante aprender de maneira mecânica, e não pensar por si. Nesse contexto, Ivan fala que existem estudos que demonstram o impacto negativo que essas tecnologias podem causar na cognição e no aprendizado dos alunos. E acrescenta que os alunos devem pensar criticamente e usar esses mecanismos “de forma adequada”.

Fábio, que também é mediador de tecnologias com estudantes e professores na Rocinha, no Rio de Janeiro, tem a seguinte recomendação para os profissionais da educação: ensinar o aluno a fazer perguntas elaboradas. “A atividade, quando é cumulativa, pode ser um diferencial”, explica.

Medidas

Ambos os especialistas defendem a existência de políticas públicas que possam delimitar o uso da inteligência artificial.

Diante da ausência dessas medidas, Fábio acredita na necessidade da participação de institutos políticos. “Mais do que uma regulação, o Brasil precisa de orientação de órgãos, como o Conselho Nacional de Educação ou os ministérios; além da participação de pesquisadores da educação nessa supervisão”, diz.

Já Ivan enxerga com ceticismo os problemas do país em instalar as medidas. Ele contextualiza esse pensamento a partir de dados alarmantes envolvendo a evasão escolar, em níveis distintos: o índice é de 90% para os alunos do ensino de jovens e adultos (EJA) e 70% para alguns cursos das universidades.

O pesquisador também acrescenta que mesmo que o acesso das crianças ao ensino fundamental I tenha se normalizado nos anos 1990, chegando ao índice de 97%, o índice de evasão continuou alto para os outros níveis de ensino. “Quando falamos de políticas públicas, estamos em uma situação complexa, porque não alcançamos o que é compatível”, justifica.

Além disso, Ivan acredita que outra questão problemática na inserção dessa tecnologia no Brasil está no reconhecimento tardio, em relação a outros países, no tocante às redes sociais. “A repercussão em países desiguais é pior, porque não temos estrutura em comparação com países mais desenvolvidos”.

Ao ser questionado se os profissionais da educação estão preparados para utilizar a IA no exercício da profissão, o pesquisador da UFBA diz que, “assim como qualquer pessoa da sociedade, ele (docente) vai aprender. Esses processos são cíclicos e comuns”, referindo-se à necessidade de constante atualização na área.

*Estagiária sob a supervisão de Marina Rodrigues

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