Por Júlia Giusti, especial para o Correio — Mulheres são menos de 34% dos pesquisadores no mundo, sendo que apenas 12% delas são membros de academias científicas no Brasil. Nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM), o cenário é parecido: apenas 35% das matrículas nesses cursos são de mulheres. No Brasil, o contingente é de 31%. Na Academia Brasileira de Ciências (ABC), elas estão presentes em apenas 14% das posições.
Os dados são da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que, no último domingo (11/2), comemorou o Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência. A data foi criada em 2015 como forma de chamar atenção para a desigualdade de gênero na ciência.
De acordo com a oficial de programas da Unesco no Brasil, Mariana Braga, esse dia é fundamental no combate à exclusão das mulheres. Para ela, a desigualdade de gênero afeta a oferta de uma educação de qualidade e de oportunidades de carreira para mulheres. “A sub-representação de mulheres em posições de liderança e referência em STEM contribui para a falta de modelos a seguir. As mulheres ainda enfrentam desigualdade no acesso a oportunidades educacionais e profissionais em STEM. Barreiras socioeconômicas, estereótipos de gênero e discriminação continuam a limitar o acesso e a progressão na carreira”, afirma.
Porém, após quase dez anos da criação da data pela ONU, esse cenário vem mudando. “Um progresso notável é a presença crescente de mulheres em posições de destaque como cientistas. Um indicador claro desse avanço é o aumento no número de mulheres laureadas com o Prêmio Nobel em 2023”, diz Mariana. Para ela, as mulheres estão sendo “valorizadas por suas contribuições significativas.”
A fim de superar as barreiras da desigualdade de gênero e ampliar a participação feminina na ciência, ela enfatiza a importância da atuação conjunta da sociedade na garantia do potencial científico das mulheres. “O comprometimento de instituições educacionais, empresas e governos é crucial para construir um futuro em que as mulheres possam prosperar plenamente nas áreas científicas e tecnológicas”, fala.
Bons exemplos
Como parte das ações para promover a participação feminina na ciência, a organização lançou, em 2022, a iniciativa #EDUCASTEM2030, que visa a formação pedagógica de professores e estudantes, com foco em grupos socialmente vulneráveis. O projeto quer estimular a igualdade de gênero por meio do incentivo a projetos de meninas que possuem interesse em ciências.
“É a partir da conscientização, da divulgação e da compreensão da pesquisa feita com mulheres e por mulheres que outras meninas podem, sim, fazer escolha pela carreira de cientista. Ciência precisa ser inclusiva, a ciência é para todos aqueles que tenham interesse em aprendê-la”, defende a coordenadora do projeto Eureka! Meninas na Física, da Universidade de Brasília (UnB), Erondina de Lima.
O projeto tem como objetivo estimular a participação de estudantes da educação básica na ciência, promovendo a discussão sobre gênero, incentivando a experimentação no ensino de física e compartilhando as experiências vividas pelo grupo de meninas.