A Universidade de Brasília (UnB) premiou na última sexta-feira (15/12) os vencedores do Prêmio Anual de Inovação no Ensino de Graduação. A premiação foi lançada pela universidade neste ano, com objetivo de reconhecer práticas pedagógicas inovadoras "que contribuam para modernização e democratização do processo ensino-aprendizagem, pautadas nas demandas contemporâneas no campo da educação superior".
"Nós tivemos a ideia [do prêmio] a partir da quantidade de ações de fato inovadoras que nós começamos a registrar de professores aqui da universidade para criar novas metodologias de ensino ou novas ferramentas que melhorem o processo de ensino-aprendizagem", afirma Diego Madureira, decano do Ensino de Graduação da UnB, em entrevista ao Correio.
A premiação se divide em cinco categorias, cada qual com um projeto ganhador: Uso de recursos tecnológicos / Produção de material didático inovador; Práticas interdisciplinares / Integração Ensino-Pesquisa-Extensão; Incentivo ao protagonismo do estudante; Melhoria de indicadores de aprendizagem; e Práticas inclusivas.
Puderam se inscrever profissionais que realizaram projetos individuais ou em grupos de até três integrantes. Os vencedores de cada categoria são premiados com bolsas de R$10 mil (se a inscrição foi realizada individualmente), R$6 mil (por pessoa, em caso de duplas) ou R$4 mil (por pessoa, se for um trio), a fim de financiar a participação dos alunos em eventos científicos nacionais e internacionais.
Aprendizagem inovadora
O projeto vencedor na categoria "Melhoria de indicadores de aprendizagem" é de Ricardo Ramos Fragelli, Igor dos Santos Lima e Matheus Bernardini de Souza, todos professores da UnB. O trabalho se chama Rei e Rainha da Derivada, Summaê e Trezentos: Superando os desafios de Cálculo 1 por meio da colaboração, da criatividade, dos afetos e do encantamento.
Para o prêmio, o grupo apresentou um conjunto de tecnologias e metodologias ativas autorais, já premiadas em outras oportunidades dentro da UnB. Dentre as tecnologias desenvolvidas pelos educadores se destacam o MathNames, website que realiza demonstrações matemáticas com os nomes dos usuários, e o FlashCard Solution, um aplicativo para dispositivos móveis no qual os estudantes aprendem a resolver integrais por meio de um jogo.
Para Ricardo Fragelli — um dos desenvolvedores do projeto e professor dos cursos de Engenharia da Faculdade UnB Gama, do Mestrado profissional em Matemática e do Programa de pós-graduação em Design —, os desafios do ensino de cálculo são bem conhecidos pelos educadores. "Eles envolvem falhas de formação básica, estudantes ansiosos perante avaliações escritas, apáticos em aulas expositivas e com altos índices de solidão. Estes fatores, somados, resultam em reprovações geralmente superiores a 50% e, em muitos casos, superando os inimagináveis 90%", lamenta ao Correio.
Ricardo, Igor e Matheus buscam ir na contramão das dificuldades, com estratégias para encantar os estudantes pela disciplina. Algumas das aulas viraram eventos abertos à comunidade, normalmente realizados em shoppings da capital.
"No Rei e Rainha da Derivada, os estudantes vão ao quadro em duplas resolver questões de forma colaborativa e gamificada. A cada resolução, as duplas são trocadas de forma que todos os estudantes formem duplas com os colegas. Já o Summaê é basicamente um jogo de perguntas e respostas com base em vídeos criativos produzidos pelos estudantes e acontece em um ambiente no qual todos utilizam chapéus criativos", explica Ricardo.
Resultados positivos
Com recursos tecnológicos e as metodologias desenvolvidas pelos professores, houve melhora na média da turma de Cálculo 1 e aumento do índice de aprovação. De acordo com Ricardo, houve entre os alunos empatia, negociação, cooperação, resolução de conflitos, liderança, comunicação, criatividade e valorização da arte e da cultura.
"Saber que o que fazemos é reconhecido pelo órgão máximo de nossa instituição é como receber um copo d'água e um abraço após uma longa caminhada. No entanto, é importante saber que, independente do quanto se caminhou, continuamos na longa jornada, com o mesmo olhar juvenil, à procura de algo que está além da curva", pondera o professor.
Futuro da premiação
O prêmio deste ano teve 80 projetos inscritos, dentre iniciativas individuais e coletivas. Para o próximo ano, a expectativa é aumentar o número de participantes e incentivar professores a inovarem no ensino de graduação. "Esse é o grande objetivo: incentivar a inovação, que é absolutamente necessária nos tempos atuais", expõe o decano da UnB.
Confira todos os vencedores do Prêmio Anual de Inovação no Ensino de Graduação 2023:
- Categoria Uso de recursos tecnológicos / Produção de material didático inovador: Maria de Nazaré Klautau Guimarães, pela ação Multimídia Baralho Genômico;
- Categoria Práticas interdisciplinares / Integração Ensino-Pesquisa-Extensão: Carla Denise Castanho, Tiago Barros Pontes e Silva e Mario Lima Brasil, pela ação Criação das Disciplinas de Desenvolvimento de Jogos da UnB;
- Categoria Incentivo ao protagonismo do estudante: Ana Paula Campos Gurgel, pela ação Sistema de livre escolha das atividades em Teoria e História e Prova-jogo;
- Categoria Melhoria de indicadores de aprendizagem: Ricardo Ramos Fragelli, Igor dos Santos Lima e Matheus Bernardini de Souza, pela ação Rei e Rainha da Derivada, Summaê e Trezentos: Superando os desafios de Cálculo 1 por meio da colaboração, da criatividade, dos afetos e do encantamento;
- Categoria Práticas inclusivas: Cândida Beatriz Alves, pela ação Desenho Universal para a Aprendizagem no ensino superior.