Faleceu nesta segunda-feira (18/12), aos 66 anos, o professor doutor Roberto da Silva. Docente da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e vice-diretor geral do Instituto Paulo Freire, Roberto foi uma grande referência da pedagogia social no Brasil e um ativista incansável pela defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes, especialmente aqueles privados de liberdade.
Viveu na pele a realidade do sistema socioeducativo, tendo passado 24 anos de sua vida sob custódia, boa parte deles na adolescência, em unidades da Febem. Por isso, tornou-se uma importante voz nos movimentos contra a redução da maioridade penal no Brasil.
Sua infância foi marcada pela mudança de São José dos Campos para São Paulo, após a separação dos pais. Sem amparo financeiro, ele, a mãe e os três irmãos ficaram sem casa por quatro meses. Foi quando o Juizado de Menores foi acionado e encaminhou os irmãos para uma unidade da Febem. A mãe foi internada em um hospital psiquiátrico.
Roberto só foi liberado da unidade aos 17 anos. Na época, morando em uma pensão e trabalhando como office-boy, cometeu pequenos crimes de roubo, que o levaram à condenação a 36 anos de prisão. Ali, ele passa a estudar direito, como autodidata, o que reduziu a sua pena para cerca de sete anos.
Em liberdade a partir de 1984, não parou mais. Concluiu o ensino formal, que havia interrompido na quinta série, e graduou-se em pedagogia pela Universidade Federal do Mato Grosso. Em 1996, tornou-se mestre pela Universidade de São Paulo, publicando o livro “Os filhos do Governo” (Editora Ática). Em 2001, conclui seu doutorado pela mesma universidade, com a tese “A eficácia sociopedagógica da pena de privação de liberdade”, obtendo a livre docência em 2009.
Com a consciência de que a sua trajetória era uma exceção e pensando na reintegração social de jovens egressos do sistema prisional, criou o Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Educação em Regimes de Privação da Liberdade (GEPÊPrivação), integrado por pesquisadores da Faculdade de Educação da USP e do Instituto Paulo Freire.