Combater a violência de gênero é desafio contínuo de sociedades ao redor do mundo. Projetos na área de segurança pública, endurecimento da legislação e políticas específicas para a área são algumas das soluções buscadas pelos governos. Mas para a professora Cristina Castro, do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília (UnB), essa missão pode contar com um aliado diferente: a tecnologia. Pensando nisso, a pesquisadora desenvolveu uma plataforma de inteligência artificial que saiu da capital federal para 194 países.
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A solução elaborada por Cristina foi batizada como “Projeto Glória” e é uma interface de comunicação com mulheres e meninas vítimas de violência, focada no apoio e na busca de soluções para cada caso. Não se trata da apresentação de respostas prontas, a professora conta que o robô aprende e acumula conhecimento a cada contato com as vítimas.
“A Glória é baseada na padronização do comportamento da violência e, a cada nova interação, ela aprende sobre os comportamentos com as vítimas e oferece alternativas, como incentivo à denúncia e apoio jurídico”, explica Cristina. “Nosso foco é mapear as diversas formas de violência para que as políticas públicas possam ser mais assertivas”, complementa.
Parcerias
Como o mapeamento dos comportamentos violentos é uma das bases do projeto, entender o seu mecanismo em diversas situações do dia a dia é fundamental. Por isso, a pesquisadora conta que o robô Glória chegou a eventos musicais de grande porte como o Rock in Rio, no Rio de Janeiro, o The Town, em São Paulo, e atualmente está presente no Na Praia, em Brasília, com o apoio de mais de 13 alunas da área de tecnologia na UnB.
Essa nova parceria foi feita com a empresa júnior do curso de engenharia de software, Orc’estra gamificação, e formou um time de mulheres decididas a trabalhar com a Glória. A coordenação da empresa fica por conta das estudantes Maria Abritta e Sabrina Berno, que compraram a ideia de usar a tecnologia para ajudar outras mulheres.
“Fazemos um projeto de muito impacto e, com um time totalmente feminino, ajudamos a colocar mulheres em papéis de liderança”, afirma Sabrina.
Além desses apoios pontuais, o Projeto Glória, sem fins lucrativos, conta com 423 voluntários em todo o país entre programadores e advogados. No Distrito Federal, tem o apoio de entidades como o Instituto Federal de Brasília (IFB) e a própria UnB. Ao redor do mundo as parcerias também garantem o sucesso da iniciativa: empresas como o Google e a Microsoft apoiam o programa.
Impacto social
De acordo com Cristina, desde o lançamento do projeto em 2019, mais de dois milhões de pessoas usaram a Glória. “A plataforma atende principalmente mulheres e meninas vítimas de violência, mas nós também focamos no aprendizado de homens, para que eles não sejam violentos”, explica.
A missão para a Glória, no entanto, vai além do apoio às vítimas de violência. “Nós queremos atuar antes da agressão. Queremos poder chegar à mulher que está prestes a ser vítima e impedir que isso ocorra”, conta a professora.
A plataforma está disponível no site e no Instagram do instituto: @eusouagloria.
* Estagiária sob a supervisão de Denise Britto