Dois pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) foram contemplados, respectivamente, com R$ 610 mil e R$ 800 mil para desenvolver pesquisas na área de geociências e ciências da vida. Susanne Maciel e Daniel Ardisson-Araújo foram selecionados, ao lado de outros 30 estudiosos, em chamada pública de apoio à ciência do Serrapilheira em parceria com fundações de amparo à pesquisa estaduais (FAPs).
Os escolhidos fazem parte da sexta chamada pública de apoio à ciência, que tem como foco as áreas de ciências naturais (física, química, geociências e ciências da vida), matemática e ciência da computação.
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Serão disponibilizados ao todo R$ 22 milhões, cedidos pelo Serrapilheira e pelas FAPs, que serão distribuídos conforme alguns critérios avaliados caso a caso com cada FAP. As regiões que foram contempladas foram as Fundações de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), do Rio de Janeiro (Faperj), de Minas Gerais (Fapemig), do Ceará (Funcap), do Rio Grande do Sul (Fapergs), do Distrito Federal (FAPDF) e do Paraná (Fundação Araucária).
Ao Correio, os dois pesquisadores da UnB deram mais detalhes sobre seus respectivos projetos.
Modelos matemáticos e registros de sismômetros em pontos estratégicos
Professora adjunta de matemática no curso de graduação Licenciatura em Educação do Campo e que faz parte do Programa de Pós Graduação em Geociências Aplicadas e Geodinâmica, do Instituto de Geociências da UnB, o projeto de Susanne Maciel tem como objetivo explorar como a composição física do ruído sísmico ambiente afeta os métodos de imagem baseados em ruído ambiente.
O ruído sísmico ambiente é resultado das interações entre a Terra sólida e vários fatores, como ondas do mar, vento e ação humana. Esta porção do sinal sísmico, que chamamos de ruído, pode ser usada para extrair informações do subsolo.
Segundo a professora, já existem várias técnicas para o monitoramento de propriedades físicas da Terra usando os dados de ruído sísmico, contudo, não muitas sobre como a composição do ruído afeta os resultados destes métodos. Na pesquisa ela usará modelos matemáticos e também registros de sismômetros instalados em pontos estratégicos.
"O recurso oferecido me dá liberdade para investir em equipamentos, viagens de campo e oferecer bolsas, o que vai impulsionar muito o andamento das pesquisas do nosso grupo", destacou.
"Parece complexo, mas é bem simples!"
Daniel Ardisson-Araújo é professor e pesquisador da UnB no Departamento de Biologia Celular do Instituto de Ciências Biológicas (IB), além de ser biólogo e mestre e doutor em Biologia Molecular pela UnB.
A pesquisa de Daniel tem como objeto de estudo os vírus de invertebrados, especialmente os vírus de insetos, que são amplamente utilizados na agricultura para controle biológico de populações-praga.
Segundo o pesquisador, as principais estratégias de controle dos insetos-praga da agricultura envolvem expor o inseto-praga ao alimento contaminado e causar uma intoxicação alimentar. “Essa intoxicação pode ser uma infecção viral, uma infecção com bactérias ou fungos, toxinas presentes em plantas transgênicas ou algum agrotóxico”, explica o especialista.
O intestino dos insetos, assim como acontece com os humanos, contém uma série de bactérias que compõem a microbiota intestinal (antigamente chamada de flora), que é essencial para a saúde deles e influenciam diretamente a nutrição, o desenvolvimento e a imunidade.
Assim, a pergunta fundamental do projeto de Daniel é afetar a microbiota bacteriana dos insetos-praga para assim atrapalhar sua nutrição, seu desenvolvimento e sua sensibilidade aos inseticidas. Isso pode ser feito de várias formas, todavia, no projeto, Daniel vai usar fagos — as partículas virais mais abundantes do planeta e estão presentes em todos os ambientes — para destruir as bactérias do intestino de insetos-praga da agricultura e afetar sua sobrevivência.
Ele conta ainda que se sentiu orgulhoso de ter sido escolhido para a pesquisa e que a ajuda financeira pode ajudá-lo a custear o projeto. “A escolha é, de fato, um reconhecimento por todo esse caminho percorrido e pelo amor à ciência. Nada mais satisfatório do que ser escolhido pelo Serrapilheira no mês do orgulho LGBTQIAON+! Ser escolhido fez eu sentir ainda mais orgulho de mim e de quem sou: um professor e pesquisador lgbtqiapn+ que nasceu e cresceu na periferia de Brasília e hoje ocupa espaços antes negados pelo patriarcado”, destacou.
Confira os outros 30 selecionados:
Ciências da vida
- Amanda Cunha — Universidade Federal de Viçosa (MG)
- Artur Santos-Miranda — Universidade Federal de Minas Gerais (MG)
- Cibele Rocha Resende — Universidade Federal de Minas Gerais (MG)
- Cleiton Eller — Universidade Federal do Ceará (CE)
- Edileusa Gerhardt — Universidade Federal do Paraná (PR)
- Gabriela Cybis — Universidade Federal do Rio Grande do Sul (RS)
- Guilherme Ost de Aguiar — Universidade Federal do Rio de Janeiro (RJ)
- Jeferson Vizentin-Bugoni — Universidade Federal de Pelotas (RS)
- Marcelo Campos — Universidade Federal de Mato Grosso (MT)
- Marilia Sonego — Universidade Federal de Itajubá (MG)
- Michel Naslavsky — Universidade de São Paulo (SP)
- Pedro Meirelles — Universidade Federal da Bahia (BA)
- Rafael L. G. Raimundo — Universidade Federal da Paraíba (PB)
Ciência da computação
- Eduardo Pena — Universidade Tecnológica Federal do Paraná (PR)
- Dalton Martini Colombo — Universidade Federal de Minas Gerais (MG)
- Mariza Ferro — Universidade Federal Fluminense (RJ)
Física
- Dyana Duarte — Universidade Federal de Santa Maria (RS)
- Fernando Iemini de Rezende Aguiar — Universidade Federal Fluminense (RJ)
- Thiago Guerreiro — Pontifícia Universidade Católica (RJ)
Geociências
- Carlos D’Apolito — Universidade Federal do Acre (AC)
- Cesar Rocha — Universidade de São Paulo (SP)
- Karlos Guilherme Diemer Kochhann — Universidade do Vale do Rio dos Sinos (RS)
- Micael Amore Cecchini — Universidade de São Paulo (SP)
Matemática
- Felipe Gonçalves — Instituto de Matemática Pura e Aplicada (RJ)
- Francisco Vanderson Moreira de Lima — Universidade Federal do Rio Grande do Sul (RS)
- Mauricio Jose Poletti Merlo — Universidade Federal do Ceará (CE)
- Ramon Moreira Nunes — Universidade Federal do Ceará (CE)
- Renata Rojas Guerra — Universidade Federal de Santa Maria (RS)
Química
- Juliana Brito — Universidade Estadual Paulista (SP)
- Taicia Fill — Universidade Estadual de Campinas (SP)
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