Conciliar estudo com a maternidade é, sem dúvidas, um desafio a mais para as jovens mães matriculadas no ensino superior. Com o intuito de facilitar a vida de mães e pais estudantes, a Universidade de Brasília (UnB) inaugurou, esta semana, 41 fraldários em banheiros femininos e masculinos. De acordo com o planejamento, ainda serão instalados mais 38 fraldários até o fim do ano nos quatro câmpus da universidade: Darcy Riveiro, Planaltina, Gama e Ceilândia. A obra foi viabilizada pela Prefeitura da UnB, a Secretaria de Infraestrutura e a Secretaria de Direitos Humanos.
Na visão da diretora do Coletivo Mães UnB (CMUnB), Tcherry Félix, a falta de infraestrutura e subsídios no espaço acadêmico são os principais fatores que agravam a evasão de mães nas instituições superiores. Ela comenta que a instalação desses fraldários é considerada um passo inicial para futuras melhorias na UnB, em especial, por estabelecer um contato direto entre o Coletivo Mães e a Reitoria.
A graduanda em Filosofia pela UnB e atuante no Gmater (Grupo de Estudo em Maternidade Parentalidade e Sociedade) conta que, quando ingressou presencialmente na universidade, teve que dispor de lugares inapropriados para trocar a fralda de seu filho Hórus. “Era na base do improviso. Para fazer a higiene do meu filho, em 2019, eu usava espaços como o centros acadêmicos e até mesmo o Instituto Central de Ciências (ICC). Esses locais não são adequados para receberem uma criança. Tivemos que passar por essas situações por falta de estrutura”, menciona Félix.
Coletivo Mães
Fundado em 2018, O coletivo surgiu quando mães universitárias decidiram unir vozes para reivindicar mudanças no espaço acadêmico. A princípio, havia um grupo de Whatshapp com mais de 120 mães da universidade, todavia faltava uma iniciativa que interligasse a instituição com as necessidades dessa comunidade.
Então, Tcherry teve a ideia de consolidar um grupo de 15 mulheres que estivessem dispostas a defender os direitos da maternidade. Marcado pela puralidade, o colevito conta, atualmente, com a presença de mães de variados cursos e até mesmo professoras da instituição. “As demandas não eram levadas constitucionalmente, não tínhamos avanços. Hoje, nos sentimos representadas, estamos mais fortes”, ressalta a diretora sobre a iniciativa.
O grupo de conversação ainda é utilizado como rede de apoio entre as mães, que mantém contato entre si para prestarem gentilezas e se desenvolverem melhor nas atividades acadêmicas. “Sempre que alguma de nós tem alguma prova ou seminário importante para realizar, perguntamos no grupo se alguém pode auxiliar, ficando com o bebê”, disse Tcherry.
Permanência
A participante do Coletiva e mãe de duas meninas Sofia e Alice, Diana Valls, 34, afirma que se a graduação adotasse políticas públicas flexíveis, assim como a pós-graduação oferece, a permanência de mães na instituição seria maior. Ela destaca que a fase de especialização, em suas diretrizes, permite o trancamento geral de matrícula por maternidade e a extensão adicional do prazo máximo de permanência por seis meses.
A universitária conta que se unir a outras mães foi fundamental para se situar sobre seus direitos na universidade. Principalmente, no início da gravidez, quando dúvidas referentes ao trancamento do curso surgiram. “Era tudo muito novo, me sentia invisível na universidade. Ninguém conseguia me informar, nem mesmo a Secretaria de Administração Acadêmica (SAA). Participar do grupo de mães foi um divisor de águas”, relembra a participante.
Nas redes sociais, a reitora da UnB comentou sobre a implementação e a considera uma medida para auxiliar na permanência acadêmica de pais e mães: “Precisamos garantir que a universidade seja cada vez mais um espaço acolhedor e democrático. Precisamos dar condições para a permanência! Vamos fazer mais!! Contem comigo”, a reitora também postou foto com algumas participantes do Coletivo Mãe.