A justiça decidiu manter preso por tempo indeterminado o estudante de mestrado Thiago Mayson Barbosa, de 29 anos, suspeito de estuprar e matar a estudante de jornalismo Janaína da Silva Bezerra, de 21 anos. O caso aconteceu entre sexta-feira (27/1) e sábado (28/1), na Universidade Federal do Piauí (UFPI).
Thiago foi preso em flagrante e ouvido em audiência de custódia neste domingo (29/1). O suspeito era estudante do mestrado em matemática na UFPI, mesma instituição onde a vítima cursava a graduação em jornalismo. O crime teria acontecido durante uma calourada no câmpus, em Teresina.
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A decisão é da juíza Haydée Lima de Castelo Branco, que realizou a audiência de custódia. A justiça acatou pedido do Ministério Público para converter a prisão em flagrante em preventiva, quando o suspeito fica detido por tempo indeterminado.
“A vítima passou as últimas horas de vida com o custodiado, chegou ao Hospital do Bairro Primavera sem vida e com suspeita de violência, apresentando lesões no rosto e nos olhos e sangue nas partes íntimas, sendo levada pelo próprio custodiado [à unidade de saúde]. (...) Há provas suficientes da materialidade e, ainda, fortes indícios da autoria do fato”, disse a magistrada durante a audiência.
"Em que pese o autuado não possuir antecedentes criminais, não se pode olvidar que os delitos são de de especial gravidade concreta, inclusive, perpetrados com violência física contra a vítima na condição de sexo feminino", completou Castelo Branco.
Indícios de estupro e homicídio
O Instituto Médico Legal (IML) apontou indícios de violência sexual contra Janaína. Para o Delegado do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Francisco Baretta, houve a prática de estupro.
A causa da morte, no entanto, foi um “Trauma raquimedular - lesão na medula - por ação contudente”. Segundo a médica legista, a lesão pode ter sido causada por uma pancada que teria torcido ou traumatizado a coluna vertebral. Ainda de acordo com a especialista do IML, uma das possibilidades investigadas é a ação das mãos no pescoço da vítima “com o intuito de matar ou asfixiar, queda ou luta”.
Em depoimento à Polícia Civil, o suspeito afirmou que conhecia a vítima e que eles já teriam tido breves relacionamentos anteriormente. Na calourada da UFPI, ele teria convidado a jovem para ir a um corredor, onde encontraram uma sala de aula aberta e, ali, teriam “praticado sexo consensual” durante a madrugada. Ainda segundo o depoimento de Thiago, após a relação sexual a vítima teria ficado desacordada.
Segundo o acusado, ele passou a noite ao lado dela e teria pedido socorro à segurança da universidade pela manhã. Ele mesmo acompanhou o corpo de Janaína até o Hospital de Primavera, em Teresina, onde foi constatada a morte.
O DHPP afirmou que o inquérito policial será concluído em até dez dias.
Festa não tinha autorização
Nas redes sociais, a Universidade Federal do Piauí lamentou a morte da estudante nas imediações da faculdade e afirmou que o evento não tinha autorização de qualquer autoridade da Universidade para acontecer.
“A UFPI desaprova quaisquer eventos que adotem condutas que coloquem em risco a comunidade acadêmica, e preza pela segurança e bem estar de estudantes, professores e servidores técnico-administrativos, com a adoção de diversas estratégias constantemente divulgadas à comunidade”, disse a Universidade, por meio de nota, ao manifestar solidariedade aos familiares e amigos da vítima.
Em outra publicação, logo após a divulgação das informações do IML, a Universidade publicou outra nota, em que manifesta profunda indignação e repúdio acerca da violência cometida pela aluna. “Falar por Janaína é dizer não ao feminicídio e ansiar por justiça. A UFPI fala e falará por Janaína com vozes, ações e atitudes”
Estudantes apontam insegurança do câmpus
Nos comentários das notas publicadas pela faculdade, os estudantes e ex-estudantes apontam uma série de questões relacionadas à falta de segurança nas imediações da universidade, como falta de monitoramento, falta de policiamento e escuridão. Eles alegam que as festas nos câmpus são recorrentes e relataram ainda outras situações violentas dentro da instituição, como assaltos e ameaças.
“Essa tragédia era anunciada. A UFPI a noite é um ‘breu’, tudo escuro, você não vê segurança nenhuma circulando, polícia ou qualquer coisa do tipo”, comentou um internauta.
“A UFPI está entre os lugares mais inseguros e com maior quantidade de jovens em situação de vulnerabilidade. Eu sempre tive medo de andar sozinha, até companhia durante o dia, e essas festas acontecem sempre, várias vezes por semana e sem nenhum monitoramento. Eu nunca vi uma câmera de segurança na faculdade, pelo menos não em lugar aberto. Essa tragédia infelizmente aconteceu, mas nem de longe é uma surpresa”, disse outro perfil.
A reportagem do Correio procurou a assessoria de comunicação da UFPI para esclarecer sobre as questões de segurança nos câmpus da instituição e também sobre o futuro de Thiago Mayson Barbosa dentro da universidade, mas não conseguiu retorno. O espaço segue aberto.
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